Ausência paterna nos documentos das crianças brasileiras chega a 100 mil registros em 2022.
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Ausência paterna nos documentos das crianças brasileiras chega a 100 mil registros em 2022.

“Eu diria que não gosto da maternidade, não é porque eu não gosto de ser mãe, é mais pelo peso que a maternidade tem na sociedade”, diz Ana Gabriela, mãe de um menino de um ano. 

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, no Brasil as mulheres são as principais cuidadoras de criança com menos de 4 anos. O estudo divulgado em 2015 mostra que 86% das crianças brasileiras, nessa faixa etária, tem como seu principal cuidador uma mulher.  

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Além de serem as principais responsáveis pelos cuidados e criação de seus filhos, após a pandemia, muitas mães se viram ainda mais sobrecarregadas com a responsabilidade da maternidade. É o que revelam os dados do Atlas Político de 2021. Segundo ele, 80% das mães brasileiras passaram a se sentir ainda mais sobrecarregadas desde o início da pandemia. 

Em vista a dados tão alarmantes, não é de se estranhar que mulheres surgem para debater sobre o cansaço e a dificuldades da maternidade. Afirmando com sinceridade, de que apesar de gostarem de seus filhos, elas ainda se sentem muito sobrecarregadas com a maternidade. 


É o que afirma a  influencer Ana Gabriela, dona do perfil voltado para a maternidade e lifestyle, no qual compartilha a sua experiência como mãe na internet. Ela relata que se sentiu por muito tempo estressada por não conseguir ser uma mãe perfeita, especialmente porque ela acreditava que a responsabilidade de cuidar do filho era apenas dela.  

“Quando eu me tornei mãe percebi que a carga que é colocada em cima da mulher é muito grande, a sociedade que a gente vive considera que a responsabilidade dos filhos é apenas da mulher. Eu não me arrependo  de ter tido o meu filho e não mudaria nada, mas as responsabilidades que passei a ter ainda me deixam perdida”, fala Gabriela. 

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“Tem mulheres que tem uma facilidade maior para a maternidade, para cuidar de casa e ser mãe em tempo integral e eu percebi que não era esse tipo de mulher. Eu estava adoecendo por isso, porque eu não queria essa vida de tempo integral para mim. Eu acabei tomando a decisão de voltar a trabalhar e hoje percebo que essa foi a melhor decisão que tomei. Agora cuido muito melhor do meu filho do antes. O meu filho é uma criança incrível, que não estava sendo cuidado da forma que merecia, porque eu estava muito frustrada com a maternidade”, relembra. 

De acordo com a psicóloga Raiani Cheregatto, do Grupo Reinserir Psicologia, esse sentimento de frustração com a maternidade é muito comum entre as mulheres. Principalmente, pelo imaginário quebrado de que a maternidade é algo fácil e completamente natural para as mulheres e que elas apenas precisam seguir o seu instinto materno. 

“Muitas mulheres não se sentem felizes experienciando a maternagem, muito pelo contrário, sentem-se frustradas, angustiadas, culpadas e com vergonha de relatarem sobre esses sentimentos. No imaginário social, a mulher só se sente plenamente realizada ao se tornar mãe, assim, perde-se de vista a mulher que executa esse papel. A maternidade é vivenciada de forma singular por cada uma." 

Com a chegada do filho, muitas mulheres vivem um desamparo neste período que presentifica-se em diversas sobrecargas, especialmente no âmbito doméstico e do cuidado com a criança”, explica a psicóloga. 

A profissional argumenta que ideias de que as mulheres só vão sentir completas após ter um filho, colaboram, ainda mais, com essa sensação de desapontamento. Já que nem todas as mulheres vivenciam os sentimentos da mesma maneira.

“Os discursos produzidos historicamente colocam a maternagem como uma obrigação às mulheres, a gravidez é percebida como parte natural do ciclo da vida feminina, como uma das etapas de seu desenvolvimento e como um fator determinante que dá sentido ao seu reconhecimento enquanto mulher. Logo, os discursos de poder advindos do campo social, religioso, jurídico e científico normatizam a vida dos sujeitos, legitimando a existência da mulher a partir de sua experiência como mãe, o que pode discipliná-las a querer ter um filho como forma de realização”, destaca. 

Raiani pontua que não gostar da maternidade está mais ligado às dificuldades com os cuidados com os filhos e não a um sentimento negativo em relação à criança. Entretanto, ela também explica que as mães não precisam se sentir culpadas por não amar os seus filhos desde o primeiro instante. 

“A maternidade está mais ligada àquele que cumpre o papel de cuidador, que em nosso vínculo social é ocupado pela figura da mãe. Assim, as pressões e cobranças recaem especialmente sobre a mulher. Entretanto, cabe dizer que esse desconforto não equivale a não gostar do filho. Não gostar da maternidade não significa necessariamente não gostar dos filhos, mas isso também pode acontecer. O vínculo entre a mãe e o bebê não é algo inato e natural, é uma relação que vai se construindo”, conclui a profissional da saúde.

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