De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a infertilidade atinge 15% da população mundial. Isso significa que, a cada cinco casais saudáveis, um sofre dificuldades extremas para obter uma gravidez em um período de um ano. No Brasil, cerca de oito milhões de pessoas podem não conseguir engravidar.
Para as mulheres, fatores como a síndrome de ovário policístico, a idade avançada, a endometriose e desequilíbrios hormonais afastam as chances de gravidez. Para os homens, problemas como a varicocele (dilatação das veias testiculares), a falta de esperma no sêmen e o tabagismo podem afetar a fertalidade.
Entre frustrações e tentativas incessantes, uma das opções para casais que buscam pelo tão sonhado resultado positivo é a reprodução assistida.
Em entrevista ao iG Delas, o Dr. Nilo Frantz, médico especialista em reprodução assistida, explica que, a cada ano, mais pessoas buscam ajuda profissional para engravidar.
Segundo o especialista, um dos fatores para a busca resulta no fato de que a idade fértil é extremamente diferente entre homens e mulheres: ‘’A mulher possui um relógio biológico mais cruel do que os homens, a mulher já nasce com todo o estoque de óvulos que usará durante a vida toda e após o nascimento, esse estoque só diminui. Ao chegar nos 35 anos aproximadamente, esse estoque diminui com mais velocidade’’.
Já o homem, afirma Frantz, produz espermatozoides durante toda a vida. Depois dos 50 anos, no entanto, a quantidade de esperma fica cada vez mais comprometida.
Assim, as técnicas de reprodução assistida surgem como alternativa para pessoas impossibilitadas de engravidar em condições regulares.
Além dos casais inférteis, casais homoafetivos também se beneficiam das tecnologias modernas de reprodução: ‘’Cada vez mais pessoas estão encontrando na Reprodução Assistida um novo caminho para a formação de uma família e isso precisa deixar de ser um tabu’’.
Inseminação artificial
Na reprodução assistida, existem várias técnicas que podem possibilitar uma gravidez. A mais popular delas é a inseminação artificial.
‘’A inseminação artificial, tecnicamente chamada de inseminação intrauterina, é um tratamento de infertilidade que consiste na introdução dos espermatozoides no trato genital feminino, visando a fecundação do óvulo’’, afirma o médico.
Como o procedimento se trata da inserção de espermatozoides, ele é considerado de baixa complexidade, aplicado em casos de infertilidade da mulher e do homem.
Na medicina, existem duas formas de inseminação: a inseminação artificial intrauterina, que é onde os espermatozoides passam por uma qualificação no laboratório, em que apenas os aptos para fertilizar serão injetados. Após a seleção, eles são inseridos no útero para a ovulação. Já na inseminação artificial intracervical, o esperma é inserido no cérvix.
Dados da organização Human Fertilization and Embryology Authority (HFEA) revelam que as taxas de sucesso da inseminação artificial são inversamente proporcionais à idade da paciente: 15,8% para mulheres com menos de 35 anos, 11% para mulheres de 35 a 39 anos e 4,7% para mulheres de 40 a 42 anos.
Em média, a inseminação artificial exige um investimento de R$ 2 mil a R$ 10 mil reais.
InVitro
Diferentemente da inseminação artificial, a fertilização in vitro é muito mais complexa. Nesse procedimento, a fecundação do embrião é feita em ambiente laboratorial.
"A primeira etapa começa na estimulação ovariana realizada por medicamentos visando estimular o crescimento dos óvulos. Após amadurecerem, esses óvulos são coletados e fecundados com espermatozoides em laboratório’’, afirma Nilo.
Depois da fecundação, esses embriões são armazenados em incubadoras e, na clínica, os profissionais acompanham o seu desenvolvimento. Cinco dias depois, o útero da mulher recebe esse embrião.
Assim como a inseminação artificial, a fertilização in vitro também é inversamente proporcional à idade da possível mãe: 32% de chance para mulheres com menos de 35 anos, 25% para mulheres de 35 a 37 anos e 19% para mulheres de 38 a 39 anos.
Hábitos
Referência no ramo da reprodução assistida, Nilo reflete que a tecnologia vem se diversificando, auxiliando a procura por métodos alternativos para gravidez: ‘’A procura tem aumentado bastante, principalmente do processo de congelamento de óvulos, uma possibilidade de postergar a maternidade sem se preocupar com o relógio biológico, já que conseguimos criopreservar os óvulos da mulher e frisar a sua fertilidade’’.
‘’Além dessas técnicas existe a ovodoação, útero de substituição e as análises genéticas de embriões’’, declara.
Exemplos de sucesso
Todo ano, milhões de bebês nascem em resultado de técnicas reprodutivas. Um deles foi Benjamin Frison Krauss, filho da psicóloga clínica Paula Frison.
Junto com sua companheira, Camila, Paula começou a estudar as possibilidades de gravidez. Na época, a psicóloga tinha 30 anos, enquanto sua esposa tinha 39. ‘’Quando a gente começou a falar sobre maternidade, eu senti muita vontade de engravidar’’.
Depois de analisarem as possibilidades, o casal decidiu realizar a fertilização in vitro.
‘’Tivemos muita ansiedade. Não tem como fugir dela, né? Ela vai caminhando ali lado a lado com a gente durante todo o processo, mas eu acho que estando de mãos dadas e tendo muita parceria, dá certo’’.
O tratamento durou sete meses. No início do processo, pacientes de fertilização utilizam hormônios sintéticos para estimularem seus ovários. Além da medicação, médicos realizam exames necessários para o processo, como a ultrassonografia vaginal e os testes de sangue.
Depois de apenas sete meses, Paula recebeu a notícia tão esperada: ela estava grávida. ‘’Foi na primeira tentativa. Do primeiro exame até o positivo, foram sete meses de pura ansiedade’’. Nove meses depois, Benjamin nasceu.
‘’O caminho é difícil, ele é cheio de testes emocionais, mas depois vai valer a pena quando você tiver ali sentindo aquele serzinho mexendo na sua barriga ou que você tiver com ele nos seus braços vai fazer tudo valer a pena’’, finaliza.