"É matar um leão por dia": mães relatam suas diversas formas de maternar
Neste Dia das Mães, o Delas abriu o espaço para mães em diferentes contextos contarem sobre as suas experiências com a maternidade
Por Claudia Ratti |
Mãe biológica, mãe solo, mãe que cria com o pai, mãe que adota, mãe que cria com outra mãe. As formas de exercer a maternidade são diversas e bem particulares para cada mulher. Neste Dia das Mães, o Delas aproveitou para exaltar os diferentes modos de maternar e abriu o espaço para as mulheres contarem suas experiências.
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Essas mulheres contaram o que, para elas, significa ser mãe e se abriram sobre medos, dificuldades, aprendizados e barreiras que enfrentam diariamente no exercício da maternidade. Veja os relatos sobre as diferentes formas de maternar :
Mãe solo: Silvana, 49 anos, mãe do João Vitor Emanuel, 20
“Quando descobri que seria mãe, vi muitas barreiras e foi difícil encarar, já que estava sozinha. Nós, mãe solo , temos que nos triplicar. Desdobrar seria pouco. Ainda mais quando não há ajuda da pessoa com quem você tem o filho.
Ser mãe solo é matar um leão por dia, é viver em uma floresta que você não sabe qual caminho tomar. Ser mãe solo é discriminativo. Hoje mudamos bastante esse conceito, mas há 20 anos eu passei por muitos preconceitos e discriminação.
Ser mãe de um menino é mostrar que ele não pode fazer o que o pai fez ou agir da mesma maneira como a maioria dos homens. É mostrar o conceito do certo e errado sozinha, já ele só tem você de exemplo. Então, é ser o mais perfeita possível.
Ser mãe solo é uma responsabilidade dupla e você sabe que nunca vai ser pai. Eu falava para ele que era uma supermãe, mas nunca seria o pai dele. E ele sempre cresceu sabendo disso. A vantagem de ser mãe onde só há ele e você é o aprendizado.”
Mãe solo e adotiva: Márcia, 58 anos, mãe da Mariana, 24, e do Alex, 16
“Minha gravidez não foi planejada, mas recebi bem a notícia. Acredito que um filho é algo para trazer transformações positivas. Tive medo do que poderia acontecer, já que o pai não recebeu a notícia tão bem e falar para a família não foi fácil.
Porém, estava disposta a enfrentar todos os desafios que viessem e fiquei muito empoderada. Passar por essa gestação foi muito revelador, descobri que tinha a capacidade de levar tudo isso.
Por criá-la sozinha, perguntavam quem é o pai e se ele não assumiu a filha. Era uma cobrança às vezes direta, às vezes velada. As pessoas acreditam que tudo precisa ser feito conforme as exigências da sociedade.
A maternidade pode acontecer independente de estar em um relacionamento ou não. O que para a maioria das pessoas poderia ser motivo de vergonha, para mim foi uma prova de força e independência.
Depois da Mariana, adotei o Alex quando ele tinha 15 anos. A adoção não é uma coisa romântica. Existem as mesmas dificuldades, desafios e dramas dos filhos naturais. É preciso que o respeito, amor e afeto se sobressaiam para que tudo transcorra com tranquilidade. Estamos aprendendo juntos, mãe e dois filhos.”
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Mãe de meninas: Luciana, 34 anos, mãe da Naíma, 5, e Aisha, 6
“Minha maternidade foi planejada e ser mãe de menina transformou o modo como eu me vejo como mulher. Decidi manter meu cabelo crespo para ser um espelho pra elas. Fomentar a autoestima das minhas filhas é uma das minhas prioridades. Acredito que quanto mais elas se amarem e confiarem em si mesmas, mais resistentes e prontas para enfrentar as barreiras do racismo.
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Meu desafio é construir uma relação de respeito mútuo com elas. Me preocupo muito que tenham um vínculo forte entre si. Ao mesmo tempo, tento mostrar que tudo bem cada uma de nós gostarmos de coisas diferentes e que não precisamos ficar o tempo juntas.
Prezo muito a minha liberdade e independência. Às vezes ser vista só como mãe me sufoca. Gosto de preservar meus momentos de solidão. Aí elas ficam com os avós ou com o pai, é uma oportunidade de reforçarem vínculos com outras pessoas.
Às vezes bate a dúvida se estou no caminho certo, se elas vão me culpar no futuro pelas minhas escolhas. Mas eu também sinto que não serei a melhor mãe que eu posso ser se eu não respeitar também seus desejos além da maternidade.”
Mãe que cria com o pai: Marília, 55 anos, mãe do Marco, 30, e da Mariane, 23 anos
“Para mim, ser mãe é trazer à tona os sentimentos mais nobres do mundo. É sentir amor de verdade e praticar um exercício de maturidade. É encarar o desafio de deixar os filhos mais felizes e melhorar para o nosso planeta.
A maternidade nos dá vários aprendizados. Ser mãe é você aprender a ceder, aprender a ter paciência, é deixar de ser egoísta e aprender a compartilhar com o outro. Muitas vezes, ainda não temos maturidade suficiente para criar os filhos e para passar segurança.
No entanto, o fato de ter um marido presente ajudou na hora de compartilhar as alegrias e dificuldades. Na prática, foi a ajuda na hora de acordar de madrugada para a troca de fraldas, no afeto e na segurança.
Mesmo tendo um menino e uma menina, o amor pelos dois é o mesmo, é incondicional. É lógico que temos mais cuidado com as meninas e nos identificamos mais com elas. O que também difere são afinidades que criamos e situações de cumplicidade.”
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Duas mães: Viviane, 31 anos, e Lessandra, 35 anos, mães da Maria, 9 meses*
“Ser mãe pra mim é a mistura mais intensa de amor, felicidade e responsabilidade. Sentimentos tão intensos que nunca havia sentindo antes, e o amor é proporcional à responsabilidade, ou seja, gigante! Um papel que sempre sonhei em ter, mas, na verdade, nem podia imaginar que era melhorar ainda do que esperava!
Vivemos uma experiência de sermos duas mães, sonhávamos em completar nossa família com filhos. A sociedade me preocupa um pouco, diante de tanto preconceito e violência, por exemplo, me preocupa como será na escola e como outras pessoas lidaram com a nossa família. Acho que esta será uma grande dificuldade.
Acho que ainda causamos algum impacto quando as pessoas se dão conta que somos duas mães, mas acredito que nossa família leva mais amor e mais tolerância do que sentimentos negativos.” – Viviane
“Ser mãe é algo tão difícil de ser explicado quanto explicar o amor. É uma experiência única e difícil de ser expressa em palavras. Envolve energia física, emocional, espiritual e muita coragem. É construir uma relação íntima, sem saber previamente quem é a outra pessoa. É conviver com diversos sentimentos ao mesmo tempo, mas no final sentir uma gratidão imensa por isso.
Para mim é umas das tarefas mais difíceis da vida, pois requer que a gente tente ser cada vez melhores, pois tudo é exemplo. Mas ao mesmo tempo é a mais feliz, por envolver tanto carinho, doçura e amor.” – Lessandra
*Segundo elas, por conta da intolerância e do preconceito, as mães preferiram não divulgar fotos da família para esta reportagem especial de Dia das Mães sobre as diferentes formas de maternar .