É comum se deparar com algum relato de mãe nas redes sociais desabafando sobre as dificuldades que envolvem a maternidade . Afinal, apesar de a vivência materna ainda ser muito romantizada, a realidade é que ser mãe é algo complexo, espinhoso e até mesmo solitário para algumas mulheres.
Priscila Braz Ribas, 35 anos, foi uma dessas mulheres que se deparou com uma realidade dura e diferente do que esperava. Por isso, a administradora faz questão de compartilhar sua experiência com a maternidade para evidenciar um lado da história que nem sempre é lembrado. Confira o relato de mãe feito por ela ao Delas .
Relato de mãe sobre a maternidade
“Em 2011 me vi grávida do meu primeiro filho. Como foi algo muito desejado e planejado, as expectativas eram as melhores possíveis. Exames, consultas, vitaminas , tudo transcorria na mais perfeita ordem e eu, não sentia absolutamente nada; apenas o êxtase de estar esperando um filho e fazendo mil planos.
Próximo das 12 semanas, resolvi fazer o exame de sexagem fetal. Porém, na semana do exame, exatamente em uma quarta-feira, acordei sangrando. Meu tampão estava saindo e, por consequência, perdendo meu filho. Foi a primeira vez que a maternidade se mostrou implacável, que nem tudo eram flores e que ela iria dizer e me mostrar que os planos que eu tinha feito de nada adiantavam, afinal era ela quem ditava as regras.
Confesso que foram nove meses angustiantes, tomando diversos remédios e vitaminas, tentando ao máximo fazer tudo certo, já que certa culpa me acompanhava por ter perdido meu primeiro bebê"
Perdi meu filho após sangrar durante 15 dias (minha médica achou melhor não fazer a curetagem). E desta forma, todo o encanto tinha se perdido um pouco.
Após dois anos, já em 2013, engravidei novamente em mais uma gravidez planejada e desejada. Só que agora eu estava diferente, com os pés mais no chão, tomando mais cuidado e, confesso, sem muitos planos, apenas seguindo o curso.
Confesso que foram nove meses angustiantes, tomando diversos remédios e vitaminas, tentando ao máximo fazer tudo certo, já que certa culpa me acompanhava por ter perdido meu primeiro bebê. Não teve um só dia que eu não pensava que poderia sangrar novamente. Mas o tempo foi passando e minha gestação se desenvolvendo na mais perfeita ordem. Assim pude curtir tudo: chá de fraldas, decoração do quarto, escolha dos moveis, ensaio de gestante . Que felicidade!
Eu estava me sentindo plena e realizada, afinal desta vez a vida estava me mostrando o lado mais doce de ser mãe. Thales nasceu em uma tarde quente de fevereiro em 2014 e com ele, uma mãe. Só que como minha mãe sempre diz: dentro da barriga é uma coisa, fora dela é outra totalmente diferente".
Expectativa x realidade
"Ser mãe não é algo do tipo ‘teste por 7 dias e, se não gostar, pode devolver’. Não existe devolução. É realmente estar construindo um avião em pleno voo. Apesar de você passar pelo parto (seja ele qual for), você não tem descanso, não existe repouso. Claro, um bebê precisa de você. E ali, com toda ternura do mundo, a vida começa a te ensinar a ter paciência e a acreditar no seu sexto sentido. Começa, enfim, a te mostrar que você é mãe.
Ser mãe não é algo do tipo ‘teste por 7 dias e, se não gostar, pode devolver’. Não existe devolução. É realmente estar construindo um avião em pleno voo"
Passando os dias, você acaba por experimentar experiências novas e a conhecer seu filho. Aprende quais são os melhores horários para dormir e para dar banho. Se vai dar o leite em livre demanda... É tudo muito lindo, mas existe o outro lado.
O bebê não nasce sabendo fazer a ' pega ', seus peitos doem, o bico pode rachar... E as noites mal dormidas? Isso aconteceu comigo e, o pior, aos 13 dias de vida, ele teve um engasgo feio e que chegou a ficar roxo. E eu me senti culpada mais uma vez. Aos 40 dias, descobri que ele era alérgico alimentar (Alergia à Proteína do Leite da Vaca), não engordava e não crescia o que deveria crescer durante um tempo, tinha reações fortíssimas e, mais uma vez, me sentia culpada. Fora as reações às vacinas...
Ou seja, o sentimento de culpa me acompanhava sempre. E, para cuidar dele, decidi abrir mão da minha carreira. Assim, mais uma vez a maternidade foi me mostrando que quem manda é ela, que não adiantava eu fazer planejamento algum...
É claro que teve também momentos ímpares como o nascer do primeiro dentinho, a primeira vez que sentou sozinho, o engatinhar, os primeiros passos e palavrinhas. Quando essas coisas boas acontecem, você esquece que durante o caminho passou por muitas pedras. A felicidade de ver essas realizações e conquistas deixam o fato de ser mais mais leve, mais tranquilo.
Para cuidar dele, decidi abrir mão da minha carreira. Assim, mais uma vez a maternidade foi me mostrando que quem manda é ela"
Na minha cabeça eu achava que todas as mulheres vinham preparadas para passar por ela, afinal é algo natural, instintivo... Eu romantizava tudo em relação à ser mãe, sendo como um mar de rosas.
Eu amo meu filho, mas a maternidade... Quando você olha de fora é aquela maravilha, mas quando você mergulha nela, ela tem muitos espinhos. Digo que minhas expectativas não foram quebradas, apenas comecei a ver o fato de ser mãe sob uma ótica diferente. E não, ninguém me avisou o quão dura ela também poderia ser.
Às vezes eu até evito ficar falando. Não quero desencorajar. Afinal, essa é minha experiência e cada pessoa é diferente da outra. Gosto de demonstrar o outro lado para que todas saibam que nem tudo é o que parece, nem tudo é tão lindo assim. Durante um tempo, temos que saber que vamos nos anular, que não vamos dormir, que vamos nos culpar... a adaptação não é fácil, sua rotina será outra, sua vida irá mudar drasticamente”, finaliza o relato de mãe.
É importante lembrar que o relato feito por Priscila não representa a realidade de todas as mães. Na verdade, é apenas uma perspectiva sobre a infinidade de formas possíveis de viver a maternidade . E é exatamente pela complexidade que envolve o “ser mãe” que precisamos trazer à tona relatos como o dela. “Essa é a minha experiência pessoal, não é uma regra e não quer dizer que para todas as mulheres será dessa forma. Mas é bom que as leitoras conheçam o outro lado da moeda, não é?”, completa Priscila.