Engravidar e dar à luz mudam muito o corpo da mulher, seja do ponto de vista físico ou do ponto de vista hormonal. Essas mudanças podem parecer um pouco assustadoras e comprometer a autoestima da mulher, além da relação com o parceiro. Assim, compreendê-las é essencial para cuidar de si mesma e da própria sexualidade no período pós-parto.
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A ginecologista e obstetra Adriana de Góes Soligo explica que, após a chegada do bebê, a mulher vive um momento de libido muito baixa, mas que isso não é motivo para comprometer sua sexualidade .
“Durante o período pós-parto, os hormônios que o corpo produz para gerar o leite bloqueiam a ovulação, assim como a liberação dos hormônios que provocam a libido. Então ela não sente vontade de ter relações. Brinco até que a natureza agiu para que a mulher queira cuidar e dar atenção só à cria, não ao homem”, diz a médica.
Mas isso não significa o fim das relações sexuais pelos próximos seis meses, basta ter alguns cuidados. Primeiramente, é importante permanecer os 40 dias que seguem o parto em abstinência de penetração.
Esse tempo é conhecido como puerpério e, nele, o corpo da mulher elimina todos os resíduos secundários que sobraram da gravidez - sangue e outros fluidos, principalmente. “Sem falar que é o tempo que o corpo demora para começar a voltar ao normal: os ovários e o útero vão retomando ao tamanho e à forma antiga”, ressalta Adriana.
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O bom é que o sexo não se limita somente à penetração, mas em relação a isso não tem jeito, tem de esperar os 40 dias mesmo. “Eu recomendo ter uma conversa muito franca com o marido, porque não adianta a mulher se forçar para ter vontade. E nós não podemos tratar isso com hormônios porque pode inibir a produção de leite dela.”
Nesse momento, vale pedir mais dedicação e paciência ao companheiro, estimulando-o a buscar outras formas de excitar a parceira. Passados os 40 dias, vale utilizar lubrificantes, sempre à base de água, pois a vagina costuma estar mais ressecada nesse período. “Além de não ter vontade, se a mulher sentir dor, vai piorar a disposição dela de tentar”, pontua a especialista.
Novo corpo
A médica também faz questão de argumentar que nem sempre a falta de libido é o motivo por trás de o casal não estar fazendo sexo após a chegada do bebê. “Uma criança muda completamente a rotina do casal e o tempo que eles têm para dedicar um ao outro. As necessidades do filho vão ser a prioridade e vão determinar toda a dinâmica da casa.”
O sexo vai ser corrido muitas vezes, vai sair leite dos seios da mulher, vai ser necessário tomar cuidado com barulho para não acordar o bebê e por aí vai - “complicações” que não necessariamente têm a ver com as mudanças no corpo da mulher. “Eu brinco que quem é corajoso não pula de para-quedas, decide ser pai e mãe”, afirma.
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Sem falar que algumas mulheres podem estar com a autoestima muito baixa devido a todas as mudanças que o corpo dela viveu por conta da gestação, o que faz com que ela se sinta indesejada e rejeite momentos de intimidade com o companheiro.
“Engordar muito durante a gravidez, por exemplo, é algo que pode acabar prejudicando a sexualidade da mulher depois. O ideal é ela ganhar de 8kg a 12kg ao longo dos nove meses, porque 10kg ela perde no primeiro mês do bebê só de amamentá-lo”, diz Adriana.
Além da alteração no peso, a mulher vai sentir a pele da barriga mais flácida e haverá, sim, mudanças em sua vagina. “Principalmente as mulheres que tiverem um parto normal vão sentir uma frouxidão na vagina, mas essa musculatura volta”, explica.
Por isso, não é razão para atrapalhar o sexo. “Acho que especialmente os homens que veem a esposa dando à luz podem ficar impactados com aquela imagem e achar que o canal vaginal virou aquela coisa enorme que ele não vai sentir mais nada, mas isso é mentira”.
Recuperação
Alguns exercícios podem ser feitos para a mulher recuperar a musculatura mais facilmente e perder peso, se assim ela desejar, para estimular sua autoestima e poder, então, cuidar de sua sexualidade.
Adriana recomenda fisioterapia pélvica para as mulheres já durante a gravidez, visto que é muito comum algumas mulheres perderem as capacidades urinárias na fase final da gravidez e, mesmo entre aquelas que não perdem, terem a bexiga bastante comprimida. Sem falar que os ossos e músculos da pelve vão abrindo e se acomodando em função do bebê.
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Exercícios leves, como caminhadas curtas, também são liberados, mas outros, mais moderados, só podem ser feitos 30 dias depois do parto, no caso de uma cesárea, e duas semanas depois, no caso do natural.
Dietas também são contraindicadas por conta da amamentação, quando a mulher deve estar bem nutrida e disposta para alimentar seu bebê na frequência necessária.
Fertilidade e contracepção
Pensar em métodos contraceptivos nesse momento também é uma parte importante da recuperação, pois ninguém quer engravidar novamente pouco depois de acabar de ter um bebê, certo?
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Mas não é preciso ficar paranoica com a possibilidade de engravidar. Ao contrário do que muitas pensam, a mulher fica praticamente infértil depois de dar à luz. “Por conta da gravidez, os ovários estão super pequenos e ela não ovula. Os hormônios que provocam a produção do leite também bloqueiam a ovulação. Então, enquanto ela estiver amamentando regularmente, a chance de engravidar é muito pequena”, revela Adriana. As mudanças de hábito, humor e quantidade de sono também interferem negativamente na ovulação.
Ela diz que a partir do terceiro mês do bebê vale começar a tomar mair cuidado, pois ele deixa de exigir uma frequência de amamentação tão alta. Isso, somado ao corpo que já está voltando ao normal, leva ao retorno das ovulações e, portanto, da menstruação. “A partir do momento que a mulher voltar a menstruar regularmente, ela já está fértil”.
Isso não significa, contudo, que só precisa se proteger quando a menstruação voltar. Antecipar-se é essencial na prevenção de uma nova gravidez. Anticoncepcionais hormonais, especialmente aqueles com estrógeno, estão fora de questão. Eles afetam a produção do leite e podem, consequentemente, prejudicar o bebê. Isso inclui alguns tipos de píulas, anéis vaginais, implantes, injeções e adesivos.
Apesar de anticoncepcionais hormonais de progesterona serem uma possibilidade, os métodos mais recomendados são aqueles livres de hormônios: preservativos masculino e feminino, diafragma e DIU de cobre.
No caso do DIU e de anticoncepcionais à base de progesterona, eles já podem ser aplicados ou usados 40 dias depois do parto, passado o período de abstinência da penetração e eliminação dos resíduos secundários. “Eu digo, porém, que o melhor método é aquele ao qual o casal se adapta melhor”, reforça a médica.
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Incluir o marido na escolha e decisão do método contraceptivo e compartilhar com ele todas as mudanças pelas quais se está passando, desde hormonais até físicas, será sempre importante no período pós-parto para conseguir apoio e compreensão, não comprometendo a intimidade entre ambos, nem a sexualidade da própria mulher, e, muito menos, sua autoestima.