Para muitas mulheres, receber a confirmação de que está grávida representa o começo de uma nova etapa na vida amorosa. No imaginário de algumas delas, a gravidez e a chegada de um novo integrante na família formam o retrato de uma vida conjugal perfeita, mas, apesar de romantizada, a maternidade pode ser algo bastante exaustivo e até um divisor de águas no relacionamento, já que, invariavelmente, afeta a sexualidade da mulher.

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Conciliar a chegada dos filhos com a sexualidade pode ser uma tarefa complicada para muitos casais
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Conciliar a chegada dos filhos com a sexualidade pode ser uma tarefa complicada para muitos casais

De acordo com Oswaldo Rodrigues Jr., psicólogo do InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade), mudanças psicológicas, no corpo, na rotina e até a acentuação de questões conjugais problemáticas que já existiam podem afetar a sexualidade feminina e, consequentemente, a relação entre os parceiros.

Preparação

Antes mesmo do bebê chegar, a vida do casal já se torna mais atribulada do que era antes do início da gravidez. Visitas ao médico, exames, compras e possíveis mudanças na casa, por exemplo, podem fazer com que outros aspectos do relacionamento acabem ficando em segundo plano. O psicólogo considera necessário que, já no início da gestação, o casal trace um plano para atravessar os próximos nove meses sem que deixem a vida a dois de lado.

Por mais que a rotina seja cansativa, é importante que, sempre que possível, a mulher dedique atenção a si mesma e aos outros interesses que tem. “A maternidade é parte do seu dia, mas não a define por completo. A mulher também é filha, amiga, profissional e amante”, afirma Carla Zeglio, diretora do InPaSex e especializada em psicoterapia de casais.

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Sexo na gestação?

Durante a gravidez, muitas mulheres enfrentam uma contradição; enquanto as alterações hormonais próprias do momento fazem com que o desejo sexual acabe subindo, outros fatores derrubam a vontade e a disposição para de fato fazer sexo. Os psicólogos afirmam que, durante a gestação, há uma queda acentuada do desejo, porque gerar uma nova vida exige muita energia do corpo daquela mulher.

Há ainda outros desafios que o casal pode enfrentar na vida sexual durante a gravidez, já que algumas gestantes sentem bastante dificuldade na hora de transar por questões psicológicas. Fatores como distúrbios psicológicos (depressão, ansiedade, etc.) e medo de prejudicar o bebê também podem fazer com que a mulher não se sinta confortável em manter a vida sexual ativa durante a gestação.

De acordo com Rodrigues, outro fator que pode tornar a situação complicada é a possibilidade de problemas íntimos já existentes na vida a dois se potencializarem durante esses meses. Ele afirma que, diante do fato de que o corpo da mulher e suas vontades se transformam, o diálogo constante se faz necessário.

“Essas modificações exigem comunicação direta e baseada no que compreendem e no que sentem com essas possibilidades de atividades sexuais na gravidez. Conversar sobre as fantasias que ambos têm a respeito do sexo na gravidez e o que isso significa para cada um será um meio de obterem novos planos de atividades”, aconselha ele, enfatizando que é normal passar por essa dificuldade, mas que é essencial comunicá-la ao parceiro ou à parceira.

É nessa hora que o parceiro ou a parceira devem agir. De acordo com Rodrigues, é importante que a pessoa que se relaciona com a mulher grávida tome atitudes que não a façam se sentir pressionada ou rejeitada. Ele orienta que essas pessoas reflitam sobre como as mudanças no corpo daquela mulher as fazem sentir, e que demonstrem isso à ela.

“Tocando o corpo da mulher ao longo do desenvolvimento da gravidez, o homem torna-se mais íntimo dessas mudanças e não sentirá emoções negativas com o passar dos meses. A aproximação física e a demonstração de intimidade fará com que a mulher se sinta acolhida com as mudanças e tenha mais facilidade em perceber-se desejada”, explica ele. Isso, de acordo com o psicólogo, pode ser feito em forma de carícias e massagens.

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Após o nascimento

Depois que a criança chega, os problemas acabam, certo? Errado. Nesse momento, os parceiros se deparam com uma rotina totalmente nova, fora a continuidade nas mudanças no corpo feminino (novas curvas, seios preparados para o aleitamento, etc.), o que pode prejudicar a sexualidade.

Novamente, o momento é de compreensão. “Ela se sente desconfortável com suas novas curvas ou tem medo de sentir dor, dependendo do tipo de parto que teve. O marido que pressiona, que briga e reclama pode colaborar para que a mãe fique com mais medos de não ser capaz de voltar ao papel de ser mulher e para a vida sexual”, afirma Rodrigues.

Rodrigues destaca ainda que, após o nascimento da criança, algumas mulheres sofrem de depressão pós-parto. De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 25% das mães apresentam sintomas desse transtorno de seis a 18 meses após o parto, fazendo com que elas se sentem culpadas, tristes, frustradas e inadequadas àquela situação.

Além de acompanhamento psicológico ser necessário em casos como o de mulheres que têm depressão pós-parto – que pode ser tratada com terapia hormonal ou antidepressivos –, Rodrigues afirma que ele também é indicado diante de qualquer sinal de que o comportamento dos parceiros ou a sexualidade deles sejam afetadas.

“O acompanhamento deve ser buscado em todos os casos em que um dos dois perceba que existem medos e necessidades de evitar o contato físico por qualquer razão. O psicoterapeuta saberá facilitar a comunicação do casal e indicar o que podem fazer para manter a intimidade física e não perderem o contato sexual”, explica o psicólogo.

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Os profissionais reforçam que não há uma fórmula específica para conciliar sexualidade e maternidade, e que cada casal deve buscar as alternativas que se adequam melhor às suas rotinas, mas que, certamente, uma mãe feliz, que se sente amada e que está sexualmente satisfeita também criará uma criança feliz.

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