O processo do desfralde nem sempre é tranquilo para as crianças e para os responsáveis. No caso da cartunista Mauren Veras , por exemplo, o filho Elvis passou a fazer xixi no vaso numa boa, entretanto, na hora de fazer cocô… “nem com banda de música ele fazia no vaso”, brinca a mãe.

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Manter a calma quando a criança faz algo errado e mostrar que existe muito amor até no desfralde é super importante
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Manter a calma quando a criança faz algo errado e mostrar que existe muito amor até no desfralde é super importante

Ao lembrar de livros que ajudam as crianças a superar etapas do desenvolvimento, e como ela mesma já trabalha com desenhos, Mauren teve a ideia de criar um livro que pudesse ajudar o filho, que está com três anos e quatro meses, durante o desfralde . E o “ cocô amigo ” conquistou o coração de centenas de outras mães.

A história que mostra um cocô conversando com um menino que foi inspirado em Elvis foi compartilhada nas redes sociais da cartunista. Em duas semanas, foram quase mil likes só no Instagram, sem contar nas centenas de comentários, inclusive de mães querendo saber como adquirir o livro.

“Foi sensacional porque muitas mães retornam pra dizer que o livro funcionou com os filhos, e isso me deixa muito feliz. Acho que teve uma repercussão tão grande porque esse é um problema pelo qual a maior parte das famílias passam. Teve muita mãe perguntando ‘Onde eu compro?! Preciso desse livro!’.”


Nesta quarta-feira (28), além de disponibilizar a história para download em sua página no Facebook, Mauren também publicou uma versão do livro para meninas. A mãe acredita que é preciso naturalizar o assunto cocô, algo que ainda é um tabu na nossa sociedade.

“As pessoas têm nojo até de falar a respeito, né? Acho que é importante criar uma relação saudável com o cocô na infância até para não gerar problemas futuros, como prisão de ventre. O interesse pelo livro do cocô também despertou em mim a vontade de trabalhar em livros que abordam outras etapas difíceis pelas quais as famílias passam com os filhos pequenos."

Processo do desfralde

Elvis começou com o desfralde no ano passado, quando as professoras da escola que ele frequenta tiveram a ideia de iniciar o processo com os alunos. Na época, Mauren estava grávida e não pensava em fazer isso ainda, mas ela não quis atrapalhar o trabalho das profissionais. 

“Foi cansativo porque eu estava com um barrigão de oito, nove meses de gestação, mas o desfralde do xixi deu certo no fim das contas. Mas o cocô era um problema, nem com banda de música ele fazia no vaso. A irmã dele nasceu, e eu não quis forçar a barra, porque ele já estava regredindo em outras áreas, como chupar mais bico, que ele só usava pra dormir e passou a ficar o dia inteiro.”

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Este ano, porém, os pais se uniram para fazer com que o menino passasse a fazer cocô no vaso. Até barganha, que é uma coisa que Mauren não gosta de fazer, o casal tentou, mas nada adiantou muito. Foi aí que surgiu a ideia de criar o livro infantil para ajudar o pequeno.

Unir a família no processo do desfralde, além de trabalhar o fazer cocô no vaso de uma forma lúdica e, principalmente, carinhosa é essencial para que a criança consiga alcançar esse objetivo sem traumas e maiores problemas, afirma a presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria Mariane Franco.

Para a especialista, este é um processo da família, não da escola. Sendo assim, mesmo que a escola do seu filho, assim como aconteceu com Mauren, incentive o uso do vaso, é importante saber que a mudança ocorre mesmo é dentro de casa – e é algo que demanda tempo. Se você ainda não tentoi tirar a fralda do seu filho, saiba de uma coisa: você terá de ter muita paciência com todo o processo do desfralde.

Quando iniciar o processo

Não adianta querer acelerar o processo do desfralde, já que isso pode gerar traumas e piorar ainda mais o fazer cocô
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Não adianta querer acelerar o processo do desfralde, já que isso pode gerar traumas e piorar ainda mais o fazer cocô

Primeiro de tudo, é importante saber que a criança precisa estar preparada para deixar a fralda. E isso só vai acontecer a partir dos dois anos, que é quando os especialistas indicam a iniciação do desfralde. É nessa fase que as meninas e meninos começaram a treinar o controle dos instintos, por isso elas estão mais preparadas para o vaso.

Deixar de fazer o xixi na fralda é o que acontece primeiro mesmo, assim como ocorreu com Elvis. Já o cocô normalmente passa a deixar de ser feito depois dos três anos. Isso se a criança não tiver nenhum problema que dificulte todo o processo, como infecção urinária, fitose, coalescência dos pequenos lábios, dermatite de fralda e cardiopatia, além de outros (caso você desconfie que há algo de errado com a evolução do seu filho, procure o pediatra que acompanha a criança).

Claro que cada criança tem seu tempo, algumas são até mais rápidas que a média, mas deixe seu filho seguir o próprio tempo. Se antes mesmo dos dois anos ele ou ela já se incomoda com a fralda – alguns dos pequenos até mesmo a tiram sozinhos quando está cheia –, dá para conversar com o pediatra para ver se é interessante tentar tirar a fralda, mas acelerar o processo pode ser um grande erro.

“Hoje, tem gente que tenta fazer o desfralde até com criança de um ano. Ela não tem a menor noção de nada ainda, nem fala direito, e essa é a fase da fralda mesmo. Há coisas mais importantes na vida dessa criança. O foco não é o xixi e o cocô.”

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Forçar o cocô fora da fralda, brigar por conta de algum erro que a criança cometeu, como fazer as necessidades no meio da sala, por exemplo, pode traumatizar o pequeno – acredita, não é só você que pode ficar traumatizada com um tapete sujo. O problema disso é que a menina ou menino pode ficar com medo de fazer cocô e, consequentemente, desenvolver prisão de ventre, um problema que vai deixar tudo pior e muito dolorido.

É preciso ter muita paciência, tratar com amabilidade, porque a criança não pode ficar assustada e com medo de fazer o que precisa. O conselho da especialista é sempre respirar muito quando você sentir vontade de explodir. Lembre-se de que brigar com a criança pode gerar problemas ainda maiores do que aqueles que “você encontrou no seu tapete”. “O autocontrole dos responsáveis é muito importante”, garante Mariane.

Como ajudar

Crie um ambiente especial para que a criança se sinta acolhida no vaso ou penico, já que o desfralde é uma grande mudança
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Crie um ambiente especial para que a criança se sinta acolhida no vaso ou penico, já que o desfralde é uma grande mudança

Os pais ou responsáveis devem conversar com a criança e explicar o que vai acontecer antes de tirar a fralda. As primeiras tentativas, inclusive, devem ocorrer em dias tranquilos, sem grandes eventos. Dá para escolher fazer isso no meio das férias ou em um feriado prolongado. O importante é a criança ter tempo para se adaptar.

Uma dica da pediatra é criar sinais para os pais poderem saber que o filho ou a filha quer fazer xixi ou cocô. Você pode falar para a criança piscar uma vez para você quando for xixi e duas vezes no caso do cocô. Essa brincadeirinha entre vocês deixa o processo mais agradável. Pense que o pequeno vai passar por uma grande mudança, então tem de ser algo legal.

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Um dos motivos do xixi ser mais fácil de ser feito fora da fralda é porque ele é mais “liberado”. Como a própria cartunista falou acima, o cocô ainda é um tabu, e até mesmo as crianças pequenas sabem que ele é fedido e passam a se esconder depois de um tempo para fazer as necessidades. Sendo assim, mostre o local onde ele pode fazer o cocô com tranquilidade. Se o escolhido foi o vaso, lembre-se de colocar um redutor e um banquinho para a criança apoiar as pernas – elas não podem ficar soltas. Já se tiver um peniquinho, deixe-o sempre no mesmo lugar.

Parabenizar pelos avanços no processo do desfralde também é super recomendado. Se a criança fez os sinais que vocês combinaram, já é um avanço. Também não é preciso fazer uma super festa, já que é algo mais pessoal, apenas um “parabéns, filho, você lembrou” já é legal para o pequeno. Assim como em todas as fases do desenvolvimento da criança, o amor também é essencial até mesmo na hora de fazer um cocô.

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