Com o Dia dos Pais se aproximando, mães e crianças estão na reta final de preparação do presente para o pai e nos últimos ajustes para programar como aproveitar a data com toda a família . No entanto, é preciso lembrar que nem todas as famílias têm essa formação tradicional de pai, mãe e crianças, e nem por isso a data deixa de existir para elas.

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Passar o Dia dos Pais sem o pai pode ser uma questão para algumas crianças que tem a ausência da figura paterna na vida
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Passar o Dia dos Pais sem o pai pode ser uma questão para algumas crianças que tem a ausência da figura paterna na vida

No Brasil, a alienação parental é uma realidade. Dados de 2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que 5,5 milhões de crianças brasileiras não têm o nome do pai no registro. Além disso, mesmo com o nome no registro, alguns pais são ausentes. Diante desse cenário de falta, lidar com o Dia dos Pais pode ser uma questão um pouco difícil para essa criança.

Mesmo que para algumas pessoas seja apenas uma data comercial, pensar em como encarar e trabalhar essa data com crianças que não têm uma figura paterna é importante. Isso porque conforme ela vai crescendo, começa a ter contato com outras famílias, vê filmes, novelas e propagandas onde a figura paterna é presente.

Diversos casos de ausência paterna

De acordo com a psicóloga e coach de mães Cíntia Alexo em entrevista ao Delas, a data começa a ser uma questão que merece mais atenção quando as crianças iniciam a fase escolar. “Elas começam a se perceber e se comparar com os amiguinhos, notam que algum deles tem a presença do pai de forma mais constante e, então, surgem os questionamentos sobre”, diz.

Esse pode ser um bom momento para sentar e conversar com a criança de forma tranquila sobre essa ausência. Cíntia sugere utilizar sempre uma linguagem simples, de acordo com a faixa etária do pequeno, mas que consiga transmitir explicações sobre essa situação, fda falta de uma figura paterna, colocando tudo sempre de forma amorosa, firme e clara. "Deve-se ter muito zelo ao repassar essa mensagem para que a criança não se sinta responsável ou crie uma ideia fantasiosa de que é culpada pela ausência desse pai", orienta a coach.

No caso de casais que se separaram, pensar no Dia dos Pais também é necessário. “É muito importante que a mãe e o pai tenham consciência da responsabilidade que ambos possuem sobre o cuidado com a vida emocional do filho”, diz Cintia. Mesmo que a separação esteja sendo uma fase difícil ou que os pais não tenham um diálogo, eles devem sempre pensar sobre esse filho. "Elas precisam ser preservadas e incentivadas a construírem suas próprias historias", afirma.

Se o pai não puder estar presente na data, é interessante conversar com o filho e explicar os motivos dessa ausência. A psicóloga explica que esse diálogo pode evitar traumas maiores no futuro que envolvam angustia, tristeza, sentimento de solidão, irritação e até baixo rendimento escolar.

Cíntia acredita que a situação também pode ser encarada de forma positiva pela família. "É bacana ter o olhar de que isso funciona como o início de uma caminhada para desafios ricos e transformadores na vida da criança", orienta.  Por mais difícil que seja para a criança, esses desafios podem ser trabalhados, encontrando a melhor forma de ela lidar com a situação – seja uma separação ou a ausência desse pai que nunca fez parte do dia a dia dela. 

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O que fazer na data?

Mostrar-se aberta para dialogar e compreender os sentimentos daquela criança é essencial para o bem-estar dela
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Mostrar-se aberta para dialogar e compreender os sentimentos daquela criança é essencial para o bem-estar dela

Pode ser que passar essa data sem o pai não seja um problema para seu filho, mas, se for, o importante é respeitar o tempo e os sentimentos dele para lidar com a situação. Pergunte o que espera desse dia e o que gostaria de fazer. Muitas vezes, na tentativa de ajudar, a mãe planeja várias atividades para ocupar o dia da criança, mas pode ser que não seja isso o que ela espera.

“Às vezes a criança vai preferir não sair de casa e muito menos fazer passeios incríveis porque está chateada, irritada ou cabisbaixa, e isso precisa ser respeitado”, comenta Cíntia. Nesse caso, vocês podem assistir a um filme, ler um livro ou simplesmente ficar sem fazer nada, o que também pode ser positivo.

O diálogo também é uma grande ferramenta para que mãe e filho enfrentem a situação juntos. É interessante que os dois coloquem para fora o que estão sentindo e que, juntos, tentem nomear esse sentimento. “Isso ajuda na construção da capacidade de se perceber e se conhecer e, então, perceber o que ele está sentindo”, diz.

“A melhor saída nesses casos geralmente é estar presente, tentar se conectar e entrar em sintonia com o que a criança está sentindo, demonstrando estar disponível para o que for possível na cabecinha dela”, orienta a psicóloga.

Pode ser que algumas crianças substituam essa figura paterna por um tio, um avô ou até mesmo outro adulto que participe da vida da criança com um vínculo afetivo forte. Talvez essa seja a melhor forma encontrada por elas para lidar com o Dia dos Pais, ressignificando a ideia de que todos precisam de um pai biológico para aproveitar a data. De acordo com o Cíntia, o mais importante disso tudo é o vínculo criado entre ela e o adulto.

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O que não fazer?

A mãe ou qualquer outro adulto responsável pela criança deve ter sempre o cuidado de não fazer observações negativas sobre o pai. Por mais que o casal não tenha tido uma vida amorosa saudável, transmitir esses problemas para a relação com o filho pode ser prejudicial para essa criança.

A ideia é parar, refletir e colocar em prática apenas comportamento que você sabe que não vão causar arrependimento. Será que é mesmo necessário falar mal desse pai nessa data ou em qualquer outro momento? Talvez não. O que a criança precisa nesse Dia dos Pais é tempo para entender o que sente. Isso cria uma angustia na criança que pode acabar interferindo na relação dela com a mãe, com outros familiares e até na escola. Deixe que ela aproveite esse dia a sua maneira. 

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