A lei municipal nº 16.161 afirma que “todo estabelecimento localizado no município de São Paulo deve permitir o aleitamento materno em seu interior, independentemente da existência de áreas segregadas para tal fim”. Entretanto não foi isso que aconteceu com a musicista Yara Villão, de 30 anos, que relatou ter sido impedida de amamentar a filha recém-nascida enquanto estava internada na UTI neonatal da maternidade Santa Joana, em São Paulo.
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“É carnaval, é possível ver vários peitos na TV. Enquanto isso, sou solicitada a tirar meu bebê do peito, pois é o horário da visita dos pais. Argumento com a enfermeira que se trata de uma recém-nascida, que demorou para conseguir ajustar a pega e que eu a cobriria com um lençol. ‘Não é permitido, protocolo do hospital. Precisamos contemplar pessoas de todas as crenças e culturas’. Claro, contemplam a todos, exceto os bebês que estão em recuperação e as mães que querem amamentar ", escreveu a mãe em sua página do Facebook.
Yara chegou à UTI do hospital na manhã do dia 20 de fevereiro e foi informada de que os horários para as mães amamentarem os filhos seriam 6h, 9h, 12h, 15h, 18h, 21h, 00h e 3h. Já os pais poderiam visitar as crianças por um período de até 30 minutos em três horários: 10h30, 15h30 e 20h30.
O problema é que o horário das 15h30 de visitação coincidia com a amamentação das 15h. No segundo dia de internação, a pequena Samira só conseguiu começar a mamar após quase meia hora do início do período. Foi quando o horário de visitação dos pais teve início. “Fui solicitada a interromper para que os pais pudessem entrar. Expliquei o que estava acontecendo e disse que podia cobri-la, mas a resposta da enfermeira foi que não era possível pois era norma do hospital que não houvessem mães amamentando na presença dos pais”, detalhou no Facebook.
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O período das 15h também é quando os pediatras passam para avaliar o quadro dos bebês. Quando a médica chegou para conversar com Yara, ela contou que se sentiu prejudicada ao ser impedida de amamentar, mas a profissional também afirmou que estas são as regras do centro médico. “Aqui atendemos muitos tipos de pessoas: mulçumanos, judeus, cristãos ortodoxos, e eles não encaram amamentação como vocês. É para contemplar a todos que existe essa regra”, teria dito a médica para a musicista. A médica também afirmou que a bebê não passaria fome, já que a alimentação era complementada com mamadeira – outra regra da UTI.
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Mudança de planos
O Delas procurou o casal e o violoncelista Júlio Pelloso, de 29 anos, explica que ele e a mulher se programaram para um parto em casa, mas a filha acabou nascendo antes do tempo, na 34ª semana de gestação. Como a maternidade Santa Joana liberava a presença da equipe de parto humanizado no hospital, foi o local escolhido para o parto prematuro. “O nome do Santa Joana é muito forte e tínhamos boas referências sobre a maternidade, então não imaginávamos mesmo que pudéssemos passar qualquer constrangimento”, diz Júlio.
Segundo o pai, o parto ocorreu bem, mas Samira nasceu com pouco peso e dificuldades respiratórias, sendo necessária a internação na UTI neonatal. “A Maternidade Santa Joana é um hospital muito tradicional e com ótima infraestrutura, mesmo assim foge do que gostaríamos para nossa filha. Samira nasceu às 2h10 e, logo pela manhã, recebi uma ligação de que ela precisava ser amamentada e eu precisava decidir entre o leite da fórmula ou o do banco de leite. Como a mãe estava bem, eu já comecei a manhã discutindo a importância da primeira mamada ser da mãe . Depois de muita insistência, convenci pediatra e enfermeiras a liberarem minha esposa para amamentar. No dia seguinte, ouve o ocorrido descrito pela minha esposa.”
O desabafo de Yara foi compartilhado após alta do hospital. Hoje, a pequena Samira já está mamando o quanto quer, conta o pai, e segue ganhando peso.
Posição do hospital
Em apenas seis dias, o desabafo de Yara registrou 2,8 mil reações no Facebook, mais de 2,1 mil compartilhamentos e mais de 430 comentários. A repercussão fez com que a maternidade marcasse uma reunião com os pais no último dia 6.
"Fomos recebidos pelas duas chefes da UTI, que nos disseram que a conduta do hospital não é essa. Percebemos que há uma distância do que as chefes nos colocaram para o que é aplicado, mas o legal é que medidas estão sendo tomadas pelo hospital e eles se comprometeram a melhorar”, afirma Júlio.
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Questionada sobre o impedimento de Yara amamentar a própria filha, a Maternidade Santa Joana enviou uma nota reafirmando que “a situação não condiz com a conduta orientada pela instituição”. “Visando a melhora constante, os processos internos foram reforçados junto a toda a equipe da UTI Neonatal. A maternidade reitera ainda que estimula o aleitamento materno, sendo que todos os casos são avaliados individualmente considerando que cada bebê pode apresentar necessidades diferenciadas, de acordo com seu estado de saúde dentro do ambiente da UTI Neonatal.”