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Imagine olhar para seu bebê recém-nascido e ter certeza de que ele vai morrer e ressuscitar. Parece roteiro de ficção, mas na verdade trata-se de um sintoma relativamente comum de psicose pós-parto, condição que, de acordo com estimativas, afeta 1 a cada 500 mães no mundo.

Hannah e sua filha Esther na unidade de tratamento
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Hannah e sua filha Esther na unidade de tratamento

"É como estar em um pesadelo, mas você não acorda", diz o psiquiatra Alain Gregoire, da unidade de mães e bebês do Royal Hampshire County Hospital, na Inglaterra.

"A pessoa pode estar bem e de repente ter pensamentos extremos e alucinações."

A condição afeta milhares de mulheres a cada ano. Os graves episódios da condição começam dias ou semanas após o parto e afetam humor, pensamento e comportamento da mãe. Sintomas incluem manias, depressão, confusão, alucinações e ilusões.

Hannah, que deu a luz à filha Esther em março de 2015, disse que, a princípio, não percebeu que estava doente.

"Tinha uma energia extra e supus que meus hormônios estavam tornando a coisas mais fáceis para mim. Ficava acordada até meia-noite, 1h", diz.

"Aí a Esther ficou doente e eu comecei a questionar e analisar tudo excessivamente."

Hannah, que é cristã, começou a ter pensamentos estranhos com um contexto religioso.

"Primeiro, pensei que Deus havia me dito que eu estava grávida de gêmeas. Pensei que isso era muito razoável. Fiz diversos testes de gravidez porque estava completamente convencida."

Em semanas, suas alucinações a levaram a um ponto preocupante.

"Coloquei na cabeça que a Esther morreria no dia seguinte, ao meio-dia, mas que Deus iria trazê-la de volta à vida. Eu contei isso ao meu marido, Andy, que achou estranho e não sabia o que fazer."

"Quando chegou o meio-dia eu estava em posição fetal, gritando e pedindo ajuda às pessoas. Eu gritava tão alto que os vizinhos vieram correndo."

Internação
Hannah foi levada a seu médico por sua mãe e sua melhor amiga. Foi internada em uma unidade especial para bebês e mães. A essa altura, a condição fazia com que pensasse em suicídio e, nas semanas seguintes, ela tentou se matar diversas vezes.

"Eu me sentia muito culpada, mas não conseguia parar. Tive muita sorte de não morrer", disse.

Gregoire diz que muitas mulheres não recebem a ajuda necessária até que sua psicose esteja avançada. Isso se deve ao pouco conhecimento sobre a condição e ao estigma que ainda ronda a saúde mental.

"Essa condição é completamente tratável. As mulheres não devem hesitar em buscar ajuda, mas muitas escondem os sintomas", diz ele.

"Elas têm medo de que seus bebês sejam retirados delas."

Hannah participou de documentário da BBC para criar consciência sobre problema
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Hannah participou de documentário da BBC para criar consciência sobre problema

No Reino Unido, mães que acabaram de ter filhos e apresentam problemas psiquiátricos são tratadas nas chamadas "unidades mãe e bebê" dos hospitais, em que a criança não é separada da mãe.

"Mães doentes colocam seu restinho de energia em manter seus bebês em segurança e há provas de que as mães melhoram bem mais rápido quando ficam com eles", afirma o psiquiatra.

Tratamento
O principal tratamento para psicose pós-parto é medicação antipsicótica.

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"Esse é um tratamento importante e deve ser dado o mais rápido possível", diz Gregoire.

"Eles (os remédios) não são tóxicos, você pode amamentar enquanto os toma. Não há dúvida de que funcionam e posso garantir às mulheres sob meus cuidados que elas vão melhorar com eles."

Apoio prático e psicológico também é dado nesse tipo de unidade.

"Eu achava que obviamente era uma mãe ruim, então eles me filmaram com a Esther para ver como eu interagia com ela", diz Hannah.

"Também fazia tarefas simples, que me davam uma ideia de conquista, como lavar as roupas da Esther. A equipe era incrível e também realmente cuidava da gente. Tirou de mim a pressão. Às vezes eu precisava dormir até as 15h e ficava segura porque sabia que estavam cuidando da minha filha."

A recuperação de psicose pós-parto demora – normalmente, a mulher permanece na unidade de tratamento por quatro a cinco semanas. Quando os pacientes têm alta, continuam a tomar medicação e recebem ajuda e conselho em casa. Em raros casos, porém, as mulheres precisam ficar por até seis meses ali.

Hannah e Esther voltaram para casa
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Hannah e Esther voltaram para casa

Hannah pôde ir para casa por alguns dias após um mês de tratamento, mas continuou lutando com pensamentos obscuros.

"Eu me sentia cada vez mais para baixo e com menos controle", diz. "Estava tomando uma medicação diferente, para depressão, mas ela precisava de um tempo para funcionar. Foi muito assustador. Sabia que sem ajuda eu não duraria muito, então concordei em fazer sessões de ECT (eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque)."

Essa terapia envia uma corrente elétrica pelo cérebro para servir como gatilho para um ataque epilético, e é usada para tratar depressão grave. É administrada com anestesia e normalmente tem efeito imediato.

"Fiz 11 sessões e assinei um termo de consentimento antes de cada uma", diz Hannah. "Já pela quarta sessão eu me senti voltando e, após a nona, lembro de pensar: 'eu acho que consigo superar isso'."

Transtorno bipolar
Hannah recebeu alta da unidade de tratamento em setembro e, aos poucos, está aprendendo a lidar com sua experiência. Ela foi diagnosticada com transtorno bipolar enquanto estava na unidade, e desde então soube que isso significava que ela tinha entre 25% e 50% de chances de desenvolver psicose pós-parto.

"Eu já tinha pensado que podia ser bipolar quando tinha uns 20 anos", diz. "Eu tinha dias ótimos seguidos por uma depressão que eu não conseguia controlar e tomava remédios para isso. Teria sido bom se eu soubesse que isso aumentaria meus riscos, mas eu nunca nem havia ouvido falar de psicose pós-parto. E eu sou uma enfermeira."

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O transtorno bipolar é subdiagnosticado no Reino Unido, de acordo com Stephen Buckley, chefe de informação da instituição de saúde mental Mind.

"Sabemos que pode levar anos para algumas pessoas com transtorno bipolar receberem o diagnóstico certo, muitas vezes porque isso envolve uma mudança de humor ao longo do tempo", diz.

"Em alguns casos eles recebem diagnósticos errados de outras doenças mentais como a depressão, que tem sintomas semelhantes. Isso pode significar que as pessoas começam com o tratamento errado, prolongando o processo."

As mulheres também têm mais risco de desenvolver psicose pós-parto se houver histórico familiar, mas a condição pode afetar qualquer nova mãe. Mudanças nos níveis de hormônios e sono interrompido também podem estar envolvidas, mas pesquisas sobre o problema ainda estão sendo feitas.

Mulheres que acreditam ter mais riscos de desenvolver o problema devem procurar seus médicos.

Hannah decidiu contar a história de sua recuperação em um documentário da BBC para ajudar a mudar a visão sobre saúde mental.

"Eu dizia para meus amigos que tinha tido depressão pós-parto porque temia que, se contasse que havia sido psicose, não teria mais amigos", conta.

"Mas eles têm sido muito compreensivos. É importante quebrar o estigma e ajudar mães a buscarem ajuda."

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