Constelação familiar, a terapia para vencer fantasmas do passado

Terapia que busca em epifania familiar a explicação de problemas do presente vem crescendo no Brasil

Foto: Getty Images
A constelação familiar é uma forma de terapia em grupo

O nome já seduz: constelação é o coletivo de estrelas. Mas na constelação familiar, a semelhança para na ideia de um sistema, de um grupo de elementos. Essa ferramenta terapêutica tem feito cada vez mais sucesso no Brasil nos últimos anos, e em parte se explica pelo perfil - é uma terapia breve, focada em um tema escolhido por quem está fazendo e dura apenas uma sessão.

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A terapia não é exatamente nova: se desenvolveu na década de 1970, e chegou no Brasil há mais de dez anos. Mas começou a crescer mesmo de cinco anos para cá. “O principal teórico, Bert Hellinger tem vindo ao Brasil ao longo desses últimos cinco anos, e formando muitos terapeutas”, explica Saulo Fong, educador do Instituto União, que realiza workshops de constelação familiar. “É um trabalho filosófico que tem efeito terapêutico”, diz Fong. A constelação familiar lida mais com a intuição e as emoções do que com o racional.

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Sentimentos em movimento
Os workshops geralmente são em grupo, preferencialmente em que os participantes não se conheçam. Em turnos, é feita a constelação de cada participante – na prática, isso significa que cada pessoa do grupo passa a representar alguém ou alguma situação familiar da pessoa que está na berlinda. O cliente apresenta um tema: pode ser uma doença, um problema familiar, financeiro ou pessoal.

“Fazemos algumas perguntas, e a partir das respostas e da percepção do constelador, ele pede para o cliente e para pessoas participantes representarem determinados papéis”, explica Fong. O cliente pode ser representado por outra pessoa, e há representantes para membros da família que sejam importantes no sistema daquela pessoa. “Há também papéis subjetivos, como uma Doença, a Dor, o Dinheiro. Acontece uma dinâmica. Em grupo, é ideal que as pessoas não se conheçam”, diz o terapeuta. A terapia pode ser individual também: aí, o terapeuta assume os outros papéis durante a constelação.

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A psicanalista e psicóloga Agostinha de Souza Silvares utiliza as constelações familiares sistêmicas como um recurso paralelo para o paciente. “A constelação cria um movimento interno da pessoa. Isso cria mais recursos para a pessoa enxergar a situação sob outro ângulo”.

A sessão é conduzida por meio de questões, como explica o terapeuta Gustavo Mamede Fonseca.“São perguntas práticas sobre o que aconteceu na sua família de origem: se teve doença grave, morte trágica, exílios. Enfim, fatos que marcam uma família”, explica. É possível ir além dos avós e voltar várias gerações num sistema familiar.

“Não é necessário uma entrevista longa com o participante. Quanto menos você souber como terapeuta, melhor, para ele não se perder em detalhes”, diz. A sessão pode durar entre 20 minutos e duas horas. Varia em função da complexidade do sistema de cada cliente, da abertura para a terapia. Diferente de um psicodrama, os representantes não podem “atuar” um personagem, mas devem ser levados pela emoção ou intuição do momento.

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Segredos de família
De acordo com os terapeutas, geralmente surgem resultados inesperados até para os clientes, de situações familiares traumáticas com repercussões no presente. “O cliente é visto dentro do sistema em que ele se origina, que pode ser de base, incluindo o núcleo familiar atual, com marido, esposa e filhos, e o de origem, com pais, tios, e avós, além do sistema expandido, com os outros elos e gerações da família”, diz Gustavo.

A ideia é que, quando alguém exclui ou lesa alguém do sistema, as pessoas lesadas ou excluídas passam a ser importantes. “É como se você ficasse “pagando a conta” de erros que alguém cometeu, e a conta é infinita, porque não é sua”, diz Gustavo. Ele dá como exemplo uma situação hipotética em que uma filha briga compulsivamente com o pai e não sabe por quê, ou que só tem problemas com os homens na sua vida, e pode estar tentando “compensar” o comportamento de um pai que abandonou a primeira noiva no altar, por exemplo. “É comum o cliente descobrir histórias que ele comprova que são reais depois, conversando com a família.”

A explicação para esse tipo de acontecimento vir à tona nas constelações ainda é obscura. “A orientação é sempre pela queixa do cliente. Mas essa relação surge na dinâmica, não é algo que a gente vai buscar”, diz Fong. Para Celma Villaverde, terapeuta de constelação familiar, existem ligações entre os membros que compõem uma estrutura familiar e que podem ser delineados durante a constelação.

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“O grupo que é montado com pessoas que representam seus familiares, que entram no papel deles e vão reproduzir através da percepção desse campo morfogenético os ancestrais, e assim revelar situações”, explica a terapeuta, citando a teoria em que, grosso modo, certos aspectos de laços afetivos seriam passados através de gerações. “Já se descobriu em constelações que um cliente era filho adotivo, e se conseguiu isso pelo contato com esse campo morfogenético.”, diz. “A tendência é a geração mais nova se identificar com a dor de uma geração antiga.”

A ideia é que, por tocar em temas traumáticos e dolorosos, a constelação já ajude a pessoa a se reorientar e se conciliar com sua própria história e identidade. “Fazemos uma intervenção só: não tem acompanhamento terapêutico depois. Filosoficamente, confiamos na força de cada um. Ajudamos a mostrar a realidade, e descobri-la por si só mexe com a pessoa”, diz Fong. “Só de se expor, dar esse passo, já mexe com a pessoa. O trabalho do constelador é fazer o cliente olhar para o que ele não quer olhar.”

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