O Big Brother Brasil 2022 mal começou e já está rendendo muitas polêmicas aos participantes da nova edição, incluindo um caso de exposição da privacidade de uma das participantes. Natália Deodato foi vítima de um vazamento de vídeo íntimo na terça-feira (18) , onde ela fazia sexo oral em um parceiro. Essa atitude não é nova na Internet e pode afetar não só o convívio social da vítima, mas também sua saúde mental.
A estudante Serena*, 22, conta que teve fotos vazadas por um parceiro dentro da igreja. "Eu me senti muito mal, porque ele era uma pessoa que eu confiava. Ele foi uma das primeiras pessoas que eu me relacionei", explica. Ela conta que o parceiro ficava pedindo as fotos e ela dizia que não, mas ele insistia. "Ele falava: 'você não confia em mim?'. Ele falou tanto que eu confiei, vendeu muito o peixe dele. Depois de um tempo a gente parou de ficar juntos e ele mostrou para todo mundo da igreja. Enviou no WhatsApp", conta.
Serena foi avisada do vazamento por uma amiga que frequentava a mesma igreja. "Eu sabia que era ele, porque eu só tinha mandado para ele. Eu perguntei e ele disse que não tinha feito, ai eu mandei print da minha conversa com a minha amiga", diz. Ela conta que a justificativa do ex-parceiro foi de que ele tinha mandado para um amigo e que esse amigo saiu espalhando. "Eu me senti muito mal, me senti usada. Fiquei com medo de continuarem espalhando e chegar na minha mãe. Depois disso eu demorei muito tempo para confiar de mandar fotos de novo", diz.
Natasha* também conta que passou por isso quando tinha acabado de perder a virgindade. "Todo mundo me xingava de piranha. Me marcou muito, causou problemas na minha casa, chamaram minha mãe na escola porque foram colando as fotos no corredor da escola e mostraram para os meus pais. Eu estava de lingerie, tinha 15 anos".
Algo comum em pensamentos de quem teve nude vazado é pensar que a culpa é exclusiva da própria vítima por ter enviado as imagens. "Acredito que não pegar a culpa para si é um exercício diário, de reflexões sobre o fato de que, infelizmente, acontecem com muitas mulheres, de como nossos corpos são utilizados tanto como fetiche sexual, como uma arma contra nós mesmas", diz a psicóloga Erivânia Teixeira, do Grupo Reinserir.
A psicóloga explica que mulheres que passam por esta situação podem ter abalos na saúde mental, desenvolvendo problemas como ansiedade, depressão, fobia social, alucinações e até mesmo levar ao suicídio. Isso pode ser mais intenso no caso de uma exposição de alguém que está em cartaz em rede nacional, como é o caso de Natália Deodato.
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Outra sequela deixada por esse tipo de exposição é a dificuldade que a pessoa que tem um nude ou vídeo íntimo vazado de confiar novamente em alguém. Segundo Teixeira, para esta pessoa trabalhar a questão da confiança em um novo relacionamento é preciso de autocuidado e autocompaixão. "É primeiro voltar a ter confiança consigo mesma, um entendimento de que a culpa não é dela em momento algum. Manter uma rede de apoio que a abrace vai fazer total diferença na forma que ela vai lidar com isso. Esse acolhimento vai permitir seguir a diante de tantos ataques que colocam nas mulheres nesse momento", diz.
Medidas legais
As pessoas que tem seus nudes vazados
podem recorrer à Justiça para denunciar quem vazou. Ana Paula Kosak, advogada especialista em Direito Penal e Criminologia, explica que quem divulga essas fotos sem consentimento pratica o crime previsto no artigo 218-C do Código Penal. A pena para este crime é de reclusão, de 1 a 5 anos. Este artigo fala sobre oferecer, trocar, transmitir, expor ou publicar qualquer material que contenha cena de estupro ou que faça apologia de cenas de nudez, sexo ou pornografia sem consentimento da vítima.
A advogada também explica que esses vazamentos tendem a ocorrer no contexto de relacionamentos, então, o parceiro divulga as fotos a fim de expor a pessoa com quem se relacionava. Isso ocorre por motivos de vingança ou apenas uma forma de humilhar a pessoa exposta. Nesses casos, Kosak conta que a pena é mais grave e pode aumentar de um a dois terços.
“Quando se é vítima desse crime, a orientação é levar todas as informações possíveis para a polícia, sobre o vazamento e o possível autor do crime. Assim, prints com data e hora, registro de conversas com o telefone e perfil do autor, indicar onde as fotos foram divulgadas e as pessoas que tinham acesso a elas são algumas das informações que podem ser levadas à polícia, que fará a investigação adequada e lavrará o boletim de ocorrência. Em algumas cidades, existe a delegacia especializada em crimes cibernéticos, que pode ser procurada em casos como esses”, completa.
Caso a sua cidade não tenha uma delegacia especializada nesse tipo de crime, a orientação é registrar um boletim de ocorrência on-line e pelo site Safernet.