A bíblia foi dada por voluntários do hospital
Reprodução
A bíblia foi dada por voluntários do hospital


A deputada Sâmia Bomfim (PSOL), pediu explicações ao Hospital Pérola Byington, no Centro de São Paulo, após a denúncia de uma mulher que recebeu uma Bíblia no local na quarta-feira (19). O local é referência para fazer aborto em casos previstos na lei. 

A denúncia ocorreu na quarta-feira (18). A mulher, que não quer se identificar, contou ao G1 que estava na fila do ultrassom quando funcionárias uniformizadas do hospital passaram no local distribuindo absorventes e exemplares da Bíblia. 

"Nem cheguei a abrir porque não gosto, mas hospital para mim não deve ter religião conectada ou falar sobre qualquer religião. Na hora pensei, 'nossa, estou aqui pra fazer algo que a religião não concorda e recebo uma Bíblia?' Eu não me senti bem, achei contraditório, isso até confunde porque fui criada por uma família religiosa e quando recebi pensei que poderia ser um sinal, mas sei que o Deus que acredito não é contra isso", afirmou ao G1. 

Segundo a lei brasileira, o aborto é autorizado em casos de gravidez decorrente de estupro, risco de vida à mulher ou gestação de feto anencéfalo. Em ofício enviado ao hospital, Sâmia questiona se a denúncia procede e solicita medidas tomadas pelo hospital. 

O diretor do hospital, Luiz Henrique Gebrim, disse que a distribuição de Bíblias aconteceu sem a admnistração da unidade saber e por engano, um grupo de voluntárias uniformizadas com a cor rosa entregou as Bíblias, que não são funcionárias do hospital. 

“Nós tínhamos uma equipe que fazia humanização de forma voluntária, são senhoras da sociedade que queriam ajudar principalmente pacientes de câncer. É um kit que a gente recebe e algumas colocaram Bíblia também, mas não pode distribuir qualquer material gráfico dentro do hospital, já suspendemos, alertamos as voluntárias e estamos pessoalmente checando as abordagens”, afirmou.

De acordo com Gebrim, o Pérola atende cerca de 2 mil pacientes com câncer e mais de 300 vítimas de violência sexual. "[As voluntárias] inadvertidamente acharam que eram pacientes de câncer, até porque 95% das pacientes que agendam exame conosco são de câncer. Claro que infelizmente isso ocorreu e o paciente sensibilizado pode entender esse tipo de ação como contradição, e na verdade nós proibimos o que foi feito pelas novatas. Mas a gente está acostumado a chegar a hotel e ter Bíblia. Ninguém obrigou ninguém a receber e ler o assunto", contou. 

Gebrim disse que um novo hospital será inaugurado no ano que vem, separando o atendimento de pacientes com câncer ao de mulheres vítimas de violência. "No novo hospital essa população não vai se cruzar para que essas mulheres não tenham qualquer tipo de constrangimento. Vai ser o mais moderno do mundo em termos de saúde da mulher", disse. 

Diferente do contado por Gebrim, a paciente que fez a denúncia conta que as funcionárias não usavam rosa e a Bíblia não foi entregue com o absorvente em um kit. "Não tenho porque mentir e eu sei diferenciar as cores. Nenhuma das que eu vi estregando estava de rosa. A primeira moça que me entregou o absorvente estava toda trajada de preto, mas não sei dizer com certeza se era segurança ou algo assim do hospital, mas usava até uma espécie de chapéu como se fosse uniforme de segurança", disse ao G1. 

"A segunda que me entregou a Bíblia estava toda de branco, não posso dar 100% de certeza de ser enfermeira pois foquei mais no fato do que estava recebendo, mas digamos que pelo o que reparei do movimento tenho 90% de que era enfermeira", afirma.

Nota do Pérola Byington

O Hospital Pérola Byington lamentou o desconforto causado e repudia atitudes contrárias à liberdade de consciência e de crença, previsto na Constituição. 

"Para que situações como esta não se repitam em nenhum setor do hospital, a direção do Hospital Pérola Byington realizou nova reunião com profissionais e voluntários do setor de humanização e capelania hospitalar, reforçando a obrigatoriedade do cumprimento das normas estabelecidas pelo serviço, que respeita as escolhas individuais de suas usuárias e, justamente por isso, não permite a distribuição de panfletos ou livros como o citado pela reportagem em qualquer setor, considerando inadmissível qualquer coação às suas pacientes.

Cabe acrescentar que, segundo a direção, a distribuição indevida ocorreu no setor de ultrassom que atende pacientes acompanhadas por diversas frentes de atendimento, incluindo a Oncologia e mulheres assistidas no Ambulatório de Violência Sexual do Programa Bem me Quer.

O hospital lembra a todos que disponibiliza Ouvidoria para acolher qualquer paciente ou usuário, acolhendo dúvidas e queixas. Os contatos podem ser feitos pelo e-mail crsm-ouvidoria@saude.sp.gov.br e telefone (11) 3232-9021 ou 9000". 


    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!