Na última semana, a influenciadora Duda Reis acusou o Nego do Borel de cometer abusos psicológico, físicos e sexuai s durante o relacionamento. O caso teve muita repercussão na imprensa por envolver pessoas públicas. Mas, quem acha que relacionamentos abusivos são raros, se engana. Segundo a ONU Mulheres, 3 em cada 5 mulheres no Brasil, sofreram, sofrem ou sofrerão algum tipo de violência em um relacionamento amoroso.
Uma dessas mulheres foi Luiza*, que conta ao iG Delas, seu relacionamento abusivo, que durou 3 anos e meio e até hoje deixou sequelas. Confira:
O cara perfeito
Quando tinha 16 anos, Luiza conheceu Heitor* em um casamento na praia de amigos em comum. Achou ele lindo logo de cara, mas os dois começaram a se relacionar. Ela tinha 18 anos e ele 32 anos.
“Ele sempre foi um cara muito legal com todo mundo, sempre fazia questão de saber falar sobre todos os assuntos com quem quer que seja. Resumindo ele era um cara muito legal e também bastante atraente”, diz.
No primeiro ano, os dois eram o casal perfeito, conviviam bem. O empresário contava para a jovem que o relacionamento anterior, no qual ele tinha um filho, tinha acabado porque a “ex era louca” e tinha engravidado dele quando eles só namoraram por nove meses. Heitor chegou até afirmar que era agredido verbalmente e fisicamente pela ex, inclusive na frente do filho.
“Ele sempre contava histórias de como o relacionamento dele com ela era problemático e fazia questão de sempre afirmar o quanto ela foi problemática na vida dele. Uma vez lembro dele falar que deixou ela grávida de 8 meses na paulista, porque se não iria bater nela de tanto que ela o provocou”.
Após um ano, Luiza e Heitor ficaram noivos. Foi aí que as coisas começaram a complicar. Com os preparativos do casamento, Luiza sentia que o companheiro estava muito nervoso, mas achava que era por causa do evento. Até que duas semanas antes da festa, os dois brigaram por um motivo que Luiza nem consegue lembrar. O que ela não consegue esquecer foi o tapa no rosto, tão forte, que ela desmaiou.
“Eu acordei acredito que uma hora depois, ele estava na cama ao meu lado. Ele disse que eu tinha levado ele ao limite e que por isso tinha feito o que fez . Disse também que eu não deveria desistir do casamento, afinal fui eu quem o provoquei e também já estávamos com tudo pronto”.
"Eu tinha muito medo dele"
Os dois se casaram e a Lua de Mel foi na Disney, lá mesmo, o pesadelo na vida de Luiza começou. Se ela não fizesse exatamente o que ele queria ou simplesmente olhasse pro lado era xingada.
“Daí pra frente foi ladeira abaixo. Vivíamos brigando e ele dizia que eu não era inteligente o suficiente para fazer faculdade e que eu deveria sair, acabei saindo do curso. Ele dizia que eu era louca e muito mentirosa e por isso as pessoas não acreditavam em mim”, acrescenta.
Você viu?
Heitor sempre levava Luiza ao limite, e quando isso acontecia, ele se acalmava e dizia que ela surtava a toa, que ela era louca. “Eu tinha muito medo dele. Ele não me deixava ficar muito tempo com meus pais e queria que eu ficasse com os pais dele o tempo todo. Na frente do filho dele, ele dizia ‘viu filho, a tia é muito ruim comigo’ e eu ficava acabada.
Por um tempo não tinha ânimo de sair da cama. Eu tinha o costume de me trancar no quarto, porque ele sempre entrava e arrancava minha roupa para termos relação mesmo que eu não quisesse. Ele dizia que eu era mulher dele e deveria fazer o que ele queria”, acrescenta.
Os abusos psicológicos e sexuais pioravam a cada dia. O pior momento foi durante uma briga, quando ele a empurrou num canto da parede e bateu a cabeça dela contra ela. Luiza desmaiou, e o ex-marido entrou em desespero, pois ela começou a sangrar.
“Ele me levou ao hospital e o médico pediu para ele sair do quarto e me fez algumas perguntas.. Sobre o que de fato tinha acontecido, eu enrolei e contei uma parte da história e a outra eu disse que não lembrava. Depois desse dia eu fui para casa dos meus pais e minha mãe começou a me fazer várias perguntas. Acabei cedendo e contando”, diz.
Os dois terminaram, mas, ele implorou para ela voltar, chorou e disse que nunca mais faria isso, e ela cedeu. Quando viu que as coisas não melhoraram, decidiu que pediria o divórcio.
Finalmente livre
Durante um ano após o divórcio, Heitor a perseguia na faculdade e nos lugares a que ela costumava frequentar. Luiza tinha medo de sair na rua e não confiava mais em ninguém para se relacionar.
A perseguição também acontecia digitalmente. A estudante de Psicologia recebia e-mails do ex, alguns pedindo para voltar, outros com letras de música dizendo que pensava nela ao escutar e outros com ameaças. “Um dia ele me mandou um e-mail dizendo que sonhou que tinha um passarinho e que mantinha ele preso numa gaiola e que precisava libertá-lo, mas preferiu matá-lo ao invés de libertá-lo", conta.
O medo era constante, até ela conhecer Victor e ver que ela podia amar novamente e viver uma relação saudável. “É muito difícil sair de um relacionamento assim. Até porque a comunidade em que eu vivia dizia que não podia se divorciar. Diziam que independentemente do que aconteceu eu deveria permanecer com ele”, explica.
Ela ainda acrescenta que ver o caso de Duda foi difícil, pois a história da influenciadora lembra muito o que ela passou. “Teve um tempo que tinha asco dele e todas as vezes que ele tirava minha roupa mais nojo eu tinha. Eu não tinha como sair, ele me agarrava, era horrível. Ver o caso da Duda foi um gatilho muito grande para mim, porque meu ex sempre foi visto como o cara perfeito, e até hoje ele é visto assim".
Hoje, após dois anos de relacionamento abusivo, Luiza está tentando levar a vida o mais normal possível. Voltou a namorar, se matriculou na faculdade de Psicologia novamente e faz tratamento psicológico para lidar com os traumas deixados pela relação com o ex-marido.
“As pessoas acreditavam em partes, mas ele sempre foi um cara muito polido, rico e bonito... é difícil dizer coisas como essa de alguém que tem esses atributos. Essa história me perturbou muito durante um tempo. Hoje, eu deixo essa cicatriz em mim para que eu nunca mais me envolva com caras assim”, finaliza.
* Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada