A pandemia do novo coronavírus afetou  diversas frentes de trabalho e fez com que o desemprego aumentasse, afetando principalmente as mulheres.  Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, a participação de mulheres no mercado de trabalho voltou ao nível observado em 1990.

As mulheres jovens são as mais prejudicadas pela pandemia
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As mulheres jovens são as mais prejudicadas pela pandemia


O estudo indica que a taxa de participação de mulheres com filhos de até 10 anos no mercado de trabalho caiu de 58,3% para 50,6%. A participação média de mulheres no mercado de trabalho ficou em 46,3% entre abril e junho de 2020.

A fundadora da Casa da Mãe Joanna, feminista e pesquisadora em estudos de gênero, Joanna Burigo, aponta que o principal fator para a mulher perder o espaço no mercado de trabalho é que as áreas em que as mulheres trabalham tiveram perdas.

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"Se tiver que apontar uma direção dentro dos diversos fatores, a ordem de gênero, que organiza a sociedade, naturaliza o trabalho com serviços, o cuidado com o lar e as tarefas domésticas para as mulheres. Então dentro do contexto individual, tendo que fazer estes trabalhos, elas não podem disputar tanto no mercado de trabalho", diz.


Joanna também diz que a pandemia revelou uma falha na estrutura da sociedade. "Quando grandes eventos como a pandemia ocorrem, a gente entende como as estruturas estão montadas. A crise sanitária não só afetou a mulher no mercado de trabalho, mas a pandemia revela algo que ocorre há muito tempo, já que a sociedade é montada em lógicas machistas e racistas. Não é de se surpreender que mulheres e pessoas não-brancas são mais sucetíveis a sofrer com eventos deste tipo", aponta.

Outro fator para demissões é que com a pandemia e o home office, a mulher pode ter a performance afetada por conta do acúmulo de funções fora do mercado de trabalho. "No Brasil as mulheres fazem em média o dobro dos homens. Uma coisa é estar preocupada com a performance de trabalho e ainda com toda a gestão familiar e doméstica e outra completamente diferente é focar no trabalho e no lazer. Obviamente que isto não é realidade de todas as famílias, mas estatisticamente há esta diferença", afirma.

Mães solo também sofreram com cortes no mercado de trabalho. "A questão é que as mulheres têm uma responsabilidade a mais com os filhos, tendo este acúmulo de funções. Empregadores podem pensar: 'onde vão ficar os filhos dela?' E essa mesma pergunta não se faz para um homem, essa divisão de tarefas desigual faz com que a vida da mulher se complique ao competir no mercado de trabalho", analisa.

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