A invenção da pílula anticoncepcional nos anos 1960 foi um marco para que as mulheres se apoderassem do próprio corpo e da própria vida sexual. Na época, foi uma conquista muito valiosa para o movimento feminista e gerou uma verdadeira revolução. Hoje o panorama mudou e  parte desse mesmo movimento vem questionando o uso dos anticoncepcionais hormonais.


Os relatos de mulheres que sofrem complicações por conta do anticoncepcional se tornaram cada vez mais comuns, incentivando um movimento contra o uso da pílula
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Os relatos de mulheres que sofrem complicações por conta do anticoncepcional se tornaram cada vez mais comuns, incentivando um movimento contra o uso da pílula


Atualmente os anticoncepcionais desempenham um papel que vai muito além do contraceptivo na vida de grande parte das mulheres. Eles também são receitados e usados como remédios para regular o ciclo menstrual, diminuir a cólica, controlar a acne e síndromes que causam disfunção hormonal, como a de ovários policísticos.

Luiza Vieira, de 22 anos, começou a usar um anticoncepcional logo que menstruou, pois tinha um fluxo muito intenso, chegou a ser diagnosticada com anemia e como parte do tratamento seu ginecologista receitou a pílula. Seu corpo sempre reagiu bem ao anticoncepcional, portanto ela nunca trocou ou parou de tomar. “Em 2018 eu conheci o sagrado feminino e fui estudar mais sobre, daí conheci muitas mulheres que tiveram um uso bem traumático do anticoncepcional, com falta de libido, depressão, coisas que eu nem sabia que influenciava”, conta.

No começo de 2019, a jovem decidiu interromper o uso. Porém, ela que já havia sido diagnosticada com Síndrome do Ovário Policístico (SOP), notou uma piora na acne, o que a levou de volta para o anticoncepcional depois de seis meses.

No terceiro mês em que tinha voltado a tomar, Luiza começou a sentir dores do lado direito do corpo e imaginou que pudesse ser pedra no rim. Porém, quando foi ao médico, os exames não indicaram nenhum problema nesses órgãos. “Até que um dia eu senti uma dor paralisante, a única posição que aliviava era de quatro, enquanto eu pressionava bem o meu lado direito com as mãos. Nenhum remédio aliviava e tivemos que chamar a ambulância, tomei morfina na veia no hospital para suportar a dor”.

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Depois de alguns exames, Luiza descobriu que estava com uma pneumonia que veio de complicações de uma provável trombose. “Quando o médico falou ‘trombose’ eu já entrei em choque. Depois ele perguntou se eu tomava algum tipo de anticoncepcional. Quando eu disse que sim e dei o nome, ele confirmou que provavelmente foi por conta disso”, relata.

“Eu demorei muito para descobrir o que era e dei sorte de não ter sido mais grave, eu poderia ter perdido meu pulmão e morrido. O tratamento durou muitos meses e foi caríssimo, então não concordo com o uso do anticoncepcional a não ser que seja essencial, como em casos de endometriose".  Ela, que começou a tomar pílula no começo da adolescência critica o fato dos médicos receitarem esses medicamentos para pessoas tão jovens. "Quando um médico na primeira consulta de uma menina de 12 anos já recomenda o uso do anticoncepcional, sem que ela tenha a chance de conhecer o seu próprio corpo, é muito complicado”.

Isabella Rodrigues, de 26 anos, passou por uma situação parecida. Ela começou a tomar a pílula aos 16 anos após o diagnóstico de SOP. De imediato o uso trouxe efeitos colaterais desagradáveis, como enjôo, dor de cabeça, dor nas pernas, o que fez com que ela desistisse do medicamento. Ela conta que depois de alguns anos foi a outro ginecologista, que receitou um anticoncepcional com dosagem hormonal mais baixa, que ela também deixou de usar depois de alguns meses. 

“Faz três anos que estou na tentativa de tratamentos naturais para a síndrome e os problemas que ela traz -- acne, queda de cabelo e pelos. Todas as minhas experiências com médicos foram desagradáveis, simplesmente não conseguem passar outros métodos que não seja a pílula”, diz.

Isabella afirma que a decisão de não tomar mais anticoncepcionais foi tomanda pensando na saúde, pois o uso pode desencadear diversos problemas, como trombose, varizes, enxaqueca e retenção de líquido. “Não quero colocar uma bomba de hormônios no meu corpo”, comenta.

“Para mim, o uso também representa algo machista. Eles não foram pensados pela saúde da mulher, foram pensados apenas como método contraceptivo feminino. Não quero usar algo que não acrescenta em nada e só faz mal para meu corpo. Sinto muita dificuldade em encontrar profissionais que realmente possam oferecer outros tratamentos e métodos contraceptivos. No momento estou estudando a possibilidade de colocar DIU”, finaliza.

Apesar dos efeitos colaterais, muitas mulheres têm dificuldade de abrir mão da pílula, pois ainda é uma das formas mais populares e eficazes de evitar a gestação indesejada. Quando o seu uso é interrompido, é necessário buscar outro método contraceptivo. "Estou numa relação heterossexual e tenho usado só a camisinha, mas não me sinto totalmente segura, especialmente porque meu ciclo é desregulado, mas tenho medo de colocar o DIU de cobre e intensificar ainda mais meu fluxo menstrual e minhas cólicas", explica Luiza.

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