Assédio abuso
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Assédio abuso


O site BuzzFeed News publicou nesta sexta-feira (28) relatos de ex-funcionárias da Vogue Brasil sobre situações de abuso moral na redação da revista. As fontes, ouvidas ao longo de 2 meses, disseram já terem presenciado gritos e xingamentos -- muitas vezes durante jornadas de 24 horas ininterruptas antes do fechamento de cada edição.

Segundo a reportagem de Chico Felitti, em setembro de 2016, Marina Milhomem ouviu gritos vindos da sala da chefia já no primeiro dia como estagiária -- o que logo passou a fazer parte da rotina do lugar. Ao BuzzFeed, funcionários disseram que os banheiros da redação eram feitos para chorar. “Humilhação lá era uma coisa que rolava o tempo todo. Toda hora alguém voltava do banheiro com cara de choro", contou Marina. "Eu mesma fiz isso muitas vezes, chorava muito", completa. 

Apesar de ser contado em tom de piada, o fato é um assunto sério: o assédio moral e exploração trabalhista. E o nome da jornalista Daniela Falcão, diretora-geral das Edições Globo Condé Nast, da qual a Vogue faz parte, foi citado por muitos funcionários como responsável por essa cultura corporativa.

Falcão é o nome à frente da Vogue desde 2005 e, desde 2017, ela é a responsável pelas revistas Vogue, GQ, Glamour e Casa Vogue, quando foi considerada uma das 500 pessoas mais importantes da moda mundial pelo site Business of Fashion.

Universo da Vogue foi retratado no filme
Divulgação
Universo da Vogue foi retratado no filme "O Diabo Veste Prada"


Os relatos ainda dão conta de que Daniela Falcão, logo pela manhã, avaliava as roupas de suas subordinadas ao estilo Miranda Priestley, personagem de Meryl Streep em "O Diabo Veste PRada". Ela dizia coisas como: “Não dá para você usar gola alta, minha filha, olha o tamanho do seu peito!”, relembrou uma outra ex-repórter. “Vai passar uma maquiagem, aonde você pensa que vai com essa cara?”, contou uma designer que trabalhou no grupo.

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“Isso era institucionalizado: ou você aceita uma posição de sempre ela está certa, ou vai ser humilhado. Existem as humilhações simples, como quando ela vira e deixa você falando sozinho, e as mais diretas, como gritos em reuniões com clientes ou com o resto da equipe", conta. “Você entrava numa reunião sabia que alguém ia ouvir grito. Se era outra pessoa, era um alívio e dava graças a Deus que não foi com você", finaliza.

Por e-mail, a jornalista Mônica Salgado, que entrou na Vogue em 2007, relembrou ao BuzzFeed: "Infelizmente, não foi uma nem duas vezes que, em reunião de diretoria Daniela, já como diretora editorial ou geral da Edições Globo Condé Nast, usou palavras fortes para desmerecer o trabalho (ou a capacidade intelectual) dos diretores, interromper suas explanações, diminuir seus feitos. Eram momentos constrangedores e desconfortáveis para todos”.

Marina Beltrame, que entrou para a Vogue com 20 anos de idade, em 2006, e trabalhou como produtora-executiva por seis anos, também deu o seu depoimento ao BuzzFeed. "Ouvi um milhão de gritos. No fim, uma pessoa gritando com você 70% do tempo. Muita insatisfação, ela (Daniela Falcão) não gostava de nada nunca.” 

À reportagem, apesar das queixas do abuso psicológico e assédio moral no ambiente de trabalho, as entrevistadas admitem que o rigor de Falcão lhes fizeram crescer. "O meu texto hoje é meu texto por causa da Daniela. Ela foi a única editora que eu tive que se sentava com o repórter e passava o texto, palavra por palavra. Porque, tirando o fato de ela te humilhar e não saber usar meias palavras, dizer que uma frase era cafona ou blábláblá, ela te ensinava, te pegava pela mão. É realmente uma coisa muito esquisita", disse uma repórter que revelou ao BuzzFeed que chegou a ser chamada de "fedelha" pela diretora.

Em resposta ao BuzzFeed, a empresa Edições Globo Condé Nast enviou uma nota bastante genérica:

A Edições Globo Condé Nast oferece a seus colaboradores e a quaisquer terceiros, um canal de Ouvidoria para denúncias de violação às regras do Código de Ética do Grupo Globo e uma área de Compliance independente, que se reporta ao Conselho de Administração do Grupo Globo. Não toleramos comportamentos abusivos ou qualquer forma de assédio em nossas equipes e todos os relatos são criteriosamente apurados assim que tomamos conhecimento, com a garantia completa de sigilo de todos os envolvidos no processo. Não fazemos comentários sobre as apurações e sempre tomamos as medidas cabíveis, que podem ir de uma advertência até o desligamento do colaborador.

Além disso, nossas publicações se guiam por princípios editoriais claros e públicos, que consideram, entre outras premissas, uma distinção clara dos conteúdos comerciais. A Editora Globo Condé Nast (EGCN) reafirma o seu compromisso em combater práticas que estejam desalinhadas com seus princípios éticos.

Já Daniela Falcão, que também foi procurada pela reportagem do BuzzFeed, preferiu não se manifestar publicamente.

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