Convicta da sua decisão, nesta terça-feira (28) a técnica do time feminino do Rio Branco-AC, Rose Costa, pediu seu desligamento do clube pouco depois do anúncio da contratação do goleiro Bruno . Ao Delas , ela conta que "a oportunidade dada a ele dentro do Rio Branco ou de qualquer outro clube profissional do Brasil fere os direitos das mulheres".
Condenado por homicídio triplamente qualificado no caso envolvendo a ex-namorada Eliza Samudio, Bruno cumpre sua pena em regime semiaberto e pode trabalhar, mas a educadora física não vê isso com bons olhos. "Será que o nosso país esqueceu as questões morais? Como fica a questão do respeito à vida da mulher? As mulheres não têm valor? Então o meu ponto é sobre o respeito à vida das mulheres e do respeito ao futebol feminino", avalia. "Nunca será só futebol. Você trabalha com exemplo, você trabalha com o social, você trabalha com vidas", completa.
Rose garante que não é contra ao processo de ressocialização do goleiro, mas acredita que ele deveria atuar como um atleta de rendimento que acaba sendo um ícone e um espelho para muitas crianças e para a sociedade em geral.
"Então como você justifica para um atleta de base, seja homem ou mulher, que ele premeditou um crime hediondo, da forma como aconteceu, sendo que ele não demonstra nenhum tipo de arrependimento. Como você explica que ele vai treinar no mesmo campo que eles [atletas de base] com todo mundo pedindo autógrafo e vendo ele como ídolo? Como eu explicaria a contratação de um feminicida aos atletas? Isso não entra na minha cabeça", explica ela.
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Questionada sobre qualquer arrependimento, Rose é incisiva em dizer que não. Ela se preocupa com o trabalho que será feito com as atletas que continuaram no clube e teme não conseguir espaço em outros clubes da cidade.
"Arrependida eu não estou, isso eu posso te garantir. Só fico preocupada que não vou mais receber convites dos clubes daqui, porque os clubes daqui possuem dirigentes homens e o esporte feminino aqui é muito vinculado a figura do homem", afirma. "Tanto é que ele [o presidente do clube, Valdemar Neto] chegou a dar uma entrevista que só havia me dado uma oportunidade porque eu era mulher", completa.
Apesar da preocupação, Rose acredita que sua decisão valeu a pena e conta que está recebendo muitas mensagens de apoio de alunos, ex-alunos e de outras mulheres da cidade que, segundo ela, também são contra a contratação de Bruno.
"O que nós temos é a nossa voz. O que a gente pode fazer é falar não e se afastar, uma vez que a gente não tem o poder de decidir sobre a contratação de alguém. Então, o poder que eu tinha era de dizer não e que eu não queria fazer parte disso. A minha voz é o meu arbítrio de escolher onde eu quero estar", reflete. "Esse não é um ambiente para o futebol feminino", finaliza.