O Carnaval era a época preferida do ano para a trans Cibelly do Pará. Ela adorava se reunir com os amigos para curtir bloquinhos de rua. Este ano, Cibelly passou o feriado em Belo Horizonte (MG), onde morava, e foi agredida por um grupo de sete homens. Ela teve afundamento de crânio depois de ter sido espancada e hoje é paraplégica.
Cibelly também perdeu movimentos do lado direito do corpo e não consegue falar, apenas balbuciar um pouco. Por isso, quem dá detalhes do que aconteceu no dia 22 de fevereiro e depois é Duda Salabert, da ONG Transvest, que ajuda no tratamento da mulher.
A agressão
De acordo com Duda, grupo de homens se aproximou de Cibelly no bloco de carnaval e começou a chamar a mulher trans de “traveco”,“demônio" e falou para ela "virar homem”. Cibelly foi tirar satisfações, acabou espancada e ainda foi abusada sexualmente pelos homens.
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Após a violência, o grupo deixou a mulher largada em uma rua deserta. Segundo Duda, ela só foi receber algum tipo de atendimento quando uma amiga que tinha se perdido dela no bloquinho a encontrou desmaiada e acionou o Samu.
Resultados da agressão
Cibelly chegou ao Hospital João XXIII em estado grave - até os médicos achavam que ela não iria sobreviver, lembra Duda. Ela passou por cirurgias e uma traqueostomia.
As lesões sofridas pelo espancamento a deixaram paraplégica, com afundamento do crânio e sem os movimentos do lado direito do corpo, além da questão da fala.
Duda, ativista e dona da ONG Transvest, que oferece gratuitamente atendimento psicológico, alimentação, apoio jurídico e aulas de defesa pessoal para pessoas trans na capital mineira, acolheu Cibelly. O pai da mulher, Douglas Santos, mora no Pará e também veio para Minas Gerais assim que soube do que havia acontecido com a filha.
Números da violência contra pessoas trans
Casos como o de Cibelly não são raros na comunidade trans. Segundo o relatório do Mapa da Violência Transexual, 80% dos assassinatos contra trans acontecem com muita violência. "São crimes odiosos. Estamos longe de combater a transfobia. Os números mostram que a cada ano vem aumentando”, diz Duda.
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Segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), que publicou o "Dossiê dos Assassinatos e da Violência Contra Pessoas Trans Brasileiras”, nos dois primeiros meses de 2020, o Brasil apresentou um aumento de 90% no número de casos de assassinatos em relação ao mesmo período de 2019. O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo.
Crime sem solução
Cibelly deixou o hospital no último dia 8, em uma cadeira de rodas e amparada por sua família, após quatro meses do espancamento. Segundo Duda, nenhum dos agressores foi preso. “Houve negligência completa do Estado. Negligenciaram a vida de Cibelly", afirma a ativista.
Em comunicado oficial do dia 9 deste mês, a Polícia Civil de Minas Gerais diz que continua investigando o caso, contudo “nenhuma câmera captou o momento das agressões ou mesmo os agressores. Várias diligências foram realizadas para identificar e solicitar imagens de câmeras de segurança existentes ao redor do local dos fatos. Infelizmente nenhuma câmera captou o momento das agressões ou mesmo os agressores.”
A Polícia Civil também afirma que "diversas pessoas foram chamadas a prestar informações, mas ainda não há testemunhas do fato e que 'muitos preferem não se envolver e não prestar nenhum tipo de cooperação com a PCMG'".
O caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Racismo Xenofobia LGBTfobia e Intolerâncias Correlatas
Uma nova vida
Cibelly voltou na terça-feira (16) para sua cidade no Pará para continuar todo o tratamento ao lado da família, com sessões semanais com uma fonoaudióloga e uma fisioterapeuta. Os custos das passagens foram pagos pela Transvest.
A história de Cibelly já emocionou várias pessoas que se propuseram a ajudá-la. Uma vaquinha online foi feita pela Tranvest para arrecadar dinheiro para os tratamento da mulher.
A ONG também segue dando apoio para que os culpados sejam punidos. Uma ação é oferecer uma recompensa para quem der pistas sobre o paradeiro dos agressores. “Nós nunca deixaremos de ajudar a Cibelly”, diz Duda.