“Eu digo que sou feita de retalhos de mim mesma”, comenta Adriana Lua, 22 anos, ao lembrar sobre os enxertos que precisou fazer após o acidente que sofreu há dois anos. Em 2018, Lua e o ex-namorado estavam em casa, no Rio de Janeiro, quando ele esqueceu a panela para fazer nuggets com óleo fervente no fogão. O recipiente pegou fogo e a chama começou a subir em direção a uma tubalção de gás. Na tentativa evitar um acidente maior, ela colocou a panela embaixo da água, mas contato com o óleo fez o conteúdo explodir e queimar parte do seu corpo.
Leia também:
- 5 vezes em que mulheres deram aula de autoestima aceitando seus corpos
- Youtuber lista 5 sinais que você vive cega por padrões e dá lição de autoestima
“Lembro que senti um calor e vi tudo laranja. Foi aí que eu entendi que tinha explodido e eu estava pegando fogo”, lembra. Para apagar o fogo, Lua se jogou no chão e começou a rolar. Quando se levantou, percebeu que a pele do braço estava “derretida” e entendeu a gravidade do que estava acontecendo. O desespero foi tomando conta, mas, ainda assim, ela conseguiu chamar um Uber e ir para o hospital. Ela lembra que estava com tanta pressa e medo que nem pensou, só entrou no carro e foi.
Chegando lá, começou o processo de tratamento das queimaduras que duraria meses. Lua passou dois meses internada, enfrentou nove cirurgias e colocou enxerto de pele em toda a queimadura – que foi de terceiro grau. “Foi realmente um processo bem punk, mas passou”, conta com uma tranquilidade de quem já enfrentou o pior. Hoje, Lua exibe com orgulho as queimaduras no pescoço, braço e peito nas fotos que publica em seu Instagram.
No entanto, a estudante de nutrição fala que nem sempre foi fácil encarar o espelho. Ao Delas, ela conta como foi o processo de recuperação e a jornada para fazer as pazes com o corpo, que começou ainda no hospital, quando estava internada.
“Passei a me enxergar de verdade, além da aparência”
Lua fala que só soube da gravidade real da queimadura após três cirurgias. “Eles fazem cirurgias de raspagem para retirar a pele morta e entender a gravidade. Você fica um tempo sem saber muito bem o que está acontecendo”. Foi nesse momento, quando soube que precisaria dos enxertos e ficaria com as cicatrizes na pele, que começou com um processo de internalização de quem ela seria a partir daquele momento.
Você viu?
“Tentei colocar na minha cabeça que essa seria eu. Seria o meu normal e eu não tinha como fugir”, lembra. Ela conta que todos os dias tirava os curativos por 15 minutos e se olhava no espelho para se acostumar. “Ficava repetindo para mim mesma que essa era eu. Sempre chorava quando fazia isso. Era bem difícil, porque eu sentia muita dor”.
“Foi assim que começou. Todo esse processo de cicatrização foi um processo de reconquista da minha pele. Na cirurgia do enxerto você tira a pele de outra parte do corpo do corpo para colocar na queimadura. Eu achei isso muito poético”, completa.
Segundo Lua, o tratamento das queimaduras foi desgastante e doloroso, mas foi também um aprendizado. “Eu aprendi a amar o processo e o resultado, foi uma experiência bem enriquecedora”, diz.
Para ela, foi também a chance de ressignificar a relação que tinha com o próprio corpo. Antes, não se gostava e se incomodava com pequenas “imperfeições”. Lua lembra que também enfrentou períodos de compulsão alimentar, bulimia e desnutrição. "Eu olhava para o espelho e não me enxergava, parecia que eu via uma pessoa horrível".
“É como se o acidente tivesse sido um sinal. Eu passei a me enxergar de verdade, além da aparência. Aceitei que o meu corpo muda e se adapta ao momento que estou vivendo. E tudo bem. Precisamos olhar com carinho para cada parte do corpo. Hoje, tenho muito orgulho da minha pele, porque eu sei como foi não ter. A minha autoestima é bem mais sobre isso”, comenta.