Por que mulheres gordas e bem resolvidas ainda incomodam tanto a sociedade?
Thais Carla postou uma foto em que aparece nua ao lado do marido e recebeu diversas críticas. Mas, afinal, por que o corpo gordo ainda incomoda?
Por Mayara Aguiar |
Na quinta-feira (14), Thais Carla, assim como outras famosas, aproveitou para fazer uma declaração ao parceiro no Valentine's Day . A bailarina da cantora Anitta usou o Instagram para postar um clique em que aparece nua ao lado do marido, Israel Reis. A foto foi suficiente para ela receber muitas críticas e diversos comentários contra mulheres gordas.
Alguns seguidores descreveram a imagem como “desnecessária”. Outros comentários, no entanto, foram ainda mais ácidos – e mostram o problema da sociedade com as mulheres gordas . “Ridícula essa necessidade que você tem de mostrar pro mundo que se aceita sendo uma pessoa obesa”, diz um. "Que horror. Como é que se expõe desta forma sua intimidade? O mundo está perdido mesmo”, afirma outro. “Desculpa, mas isso já é apelação”, expõe mais um.
E as críticas continuam. “Evolua mentalmente e para de buscar essa 'fama’ que você só consegue cinco minutos de atenção se expondo e acabando com a própria saúde e se desfigurando”, escreve outro. “Alguma dúvida que o objetivo dessa moça é escandalizar, polemizar e contabilizar? Esse tipo de foto é aceitável? Onde está o senso de ridículo, respeito e responsabilidade?”, questiona outro.
As mensagens recebidas por Thais Carla mostram que as pessoas ainda se incomodam com mulheres que quebram os padrões de beleza e são bem resolvidas com suas curvas. Quem a acompanha sabe que ela se sente feliz com o seu corpo e não se importa em exibi-lo nas redes sociais seja de biquíni ou até mesmo completamente sem roupa.
Um dos comentários recebidos fala exatamente sobre isso. “As pessoas te criticam justamente por achar o teu corpo fora dos padrões estéticos adquiridos pela sociedade. Mas sabe de uma coisa? Eu te admiro por isso! De verdade! Admiro sua autoconfiança e em viver uma vida feliz por você, pra você, sem tentar atingir objetivos para ninguém”, aponta.
“Te admiro por ser forte, corajosa, por lutar todos os dias contra o preconceito das pessoas. Na minha opnião, cada um deve cuidar da própria vida. Se você se ama dessa forma e está bem de saúde por que mudar? Pelos outros, não!!!! Seja feliz sempre, guerreira”, continua.
A comparação com pessoas magras também surgiu. Se Thais Carla fosse magra, as ofensas também iriam aparecer? De acordo com algumas seguidoras, não. “Maravilhosa” Tá certíssima! Não vejo absolutamente nada demais! Gente, são só corpos, e se fosse as magrelas postando estava lindo, né? Impressionante como o nu incomoda (sendo que aqui não mostra NADA de mais) - e ele incomoda muito mais quando é a gorda”, expõe.
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Mas, afinal, por que as mulheres gordas ainda incomodam tanto?
A jornalista Mariana Cyrne, de 32 anos, é uma das defensoras do amor próprio e do movimento body positive . Em seu Instagram, que conta com mais de 32 mil seguidores, a influenciadora fala constantemente sobre essas questões. Em entrevista ao Delas , a blogueira explica que, para ela, o corpo gordo incomoda no geral.
“Fomos acostumados ao corpo longilíneo nos veículos e na publicidade, bombardeados com as musas fitness e com o ideal inatingível de magreza. Penso que quando alguém bem resolvido com o próprio corpo e longe desse padrão se mostra assim, sem vergonhas ou preocupações com a opinião alheia, causa revolta porque aqueles que se prendem a esse padrão de beleza pensam 'como ela ousa ser diferente de mim?'”, ressalta.
Mariana ainda fala que muita gente ainda não se dá conta de que esse padrão, citado como inatingível por ela, cabe apenas a uma parcela muito pequena da população. “A maioria de nós tem celulite, estrias e dobrinhas. E, infelizmente, os fiscais da vida alheia são muitos. E a felicidade incomoda”, esclarece.
Quem também fala sobre o assunto é a fonoaudióloga Gica Liguori, de 47 anos, que atuou como modelo plus size por um tempo, fator que a ajudou a aceitar suas curvas. Segundo ela, os estudos feitos em relação ao corpo ideal têm criado uma sociedade obcecada pela magreza. “E parece que a felicidade é isso: ser magra e sarada. E quem sai disso é visto como pessoa largada, que não se ama”, expõe.
No entanto, para Gica, a felicidade é um estado de espírito que vai muito além do corpo. “Quando a gente tem uma atitude positiva diante da vida, a gente é feliz como a gente é. E algumas pessoas não conseguem entender isso por focarem muito no padrão estabelecido pela mídia e também pela indústria farmacêutica e cosmética”, afirma.
A cozinheira Valquiria Rosa, de 46 anos, por sua vez, conta que está acima do peso, mas não liga para as opiniões que costuma ouvir, como “você é tão linda de rosto, por que não faz um regime?”.
Para ela, o incômodo com as mulheres gordas é uma forma de dizer que elas não são os verdadeiros padrões de beleza e que o excesso de peso é falta de cuidado. “Eu sou curta e grossa quanto sinto preconceito. Simplesmente pergunto: ‘Estou te incomodando em algo’? Eu me amo”, finaliza.