Aviso: a matéria contém imagens reais de vulvas.
“Quantas histórias nós escondemos quando nossas vulvas estão escondidas em nossas calças?”, indaga a fotógrafa Laura Dodsworth. Foi a partir dessa e outras perguntas que ela criou um projeto para falar - ou melhor, mostrar - sobre a vulva, essa parte tão singular da mulher, e chamar a atenção para sua importância.
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"A vulva é como uma paisagem. Geralmente nós só conhecemos uma rota através dela - e essa rota é sexual e pornográfica. Mas quando você fala com as mulheres sobre suas vulvas, muitas histórias surgem. Eu senti que aprendi novas rotas”, conta Laura ao portal britânico Metro . Ela é autora do livro "Womanhood: The Bare Reality" (algo como “A mulher: a realidade nua”, em português), composto por 100 fotografias de vulvas.
A fotógrafa fala que muitas das histórias que ouviu foram realmente difíceis de lidar. “[Ouvi] coisas como parto traumático, más experiências sexuais e até mesmo algo inocente, como a primeira menstruação”, fala. “Nós escondemos muitas histórias relacionadas à vulva. Fiquei impressionada com o número de histórias sobre agressão sexual que encontrei.”
Essa não é a primeira vez que Laura resolve fotografar partes íntimas. Antes, ela já havia feito uma publicação com 100 seios e outra com 100 pênis. Então, para completar a “trilogia”, ela criou esse último projeto, pedindo para que as mulheres dissessem o que suas vulvas significam para elas.
Ela diz que não pensava em fazer uma terceira série, apesar das sugestões de algumas pessoas. No entanto, lendo sobre mutilação genital feminina, o número de mulheres que fazem cirurgias em suas vulvas e a linguagem em torno de como nos referimos a partes do corpo feminino, Laura reconsiderou a possibilidade de criar o projeto.
“Achei que não precisava fazer isso, mas percebi que não era verdade. Acho que eu tinha alguma autocensura interna, alguma vergonha e nervosismo”, pontua. Entretanto, a necessidade de fazer algo que abordasse esse tema, tido como um tabu até mesmo para as mulheres, se mostrou em diversos momentos enquanto desenvolvia o trabalho.
Até mesmo o uso do termo "vulva" em vez de vagina causou alguma confusão entre as pessoas. Nas redes sociais, alguns usuários tentaram corrigi-la, sendo que esse é o termo é correto para descrever o que pode ser visto do lado de fora - a vagina é interna, é o canal que leva o colo do útero à vulva.
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Processo de criação e fotografias das vulvas
Durante um ano a artista foi coletando fotos de vulvas e depoimentos sobre o que essa parte do corpo significava para as entrevistadas.
Poucas semanas depois de ligar para as participantes, ela afirma que tinha mais de 100 voluntários, mas que levou algum tempo para escolher as que realmente entrariam no projeto, priorizando uma variedade de mulheres que representassem diferentes grupos sociais e diferentes tipos de histórias.
Embora tenha seguido uma configuração similar ao “Realidade nua e os homens”, quando reuniu fotos de pênis, Laura achou que dessa vez o trabalho era diferente dos dois primeiros. "Durante o projeto com os homens, eles mostravam seus pênis em um espaço anônimo. Com as mulheres, senti que era muito diferente. Eu tinha a sensação de que elas estavam se revelando a nós mesmas. Muitas estavam se olhando pela primeira vez ou não se viam muito, outras se conheciam muito bem”, afirma.
Olhar íntimo
Durante o processo, Laura tirou sua própria fotografia, para testar como funcionava. Contudo, ao fazer isso, conseguiu processar algumas de suas próprias reflexões sobre ser mulher. “Eu percebi que, quando eu estava levando esse projeto adiante, eu estava me desviando para dar uma olhada realmente íntima em mim mesma”.
Ela conta que tirou fotos de si mesma muitas vezes porque estava testando o cenário e as posições mais adequadas. "A primeira vez que peguei o resultados das fotos, me senti um pouco autoconsciente e desajeitada”, admite.
“Quando vi a imagem na tela do meu computador foi um bom momento para mim. A foto era grande, detalhada e eu podia ver tudo. Não era como eu pensava que era. Quando você olha em um pequeno espelho de bolso, você não vê da mesma forma”, afirma.
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Segundo a fotógrafa, quanto mais ela olhava para si mesma, mais se sentia sensível sobre a experiência. “Eu realmente acho que minha vulva é bastante bonita agora. O livro me fez sentir confortável em minha pele como mulher, além de mais poderosa”.