Você se ama? Para muitas mulheres, responder essa questão não é nem um pouco simples. Afinal, desde crianças somos ensinadas que precisamos alcançar determinado padrão estético , conquistar bens financeiros e ter certo desempenho intelectual pois, só assim, seria possível estar satisfeita consigo mesma. Nesse cenário, conquistar o amor próprio parece ser algo difícil.

Para a psicóloga  Luisa Jötten, praticar o amor próprio em uma sociedade como a nossa é um ato político e revolucionário
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Para a psicóloga Luisa Jötten, praticar o amor próprio em uma sociedade como a nossa é um ato político e revolucionário

"Nossa sociedade não está interessada em formar mulheres que se amam", afirma a psicóloga clínica Luisa Jötten. A profissional explica que manter as mulheres inseguras é uma forma de garantir o controle do " amor próprio " e transformá-lo em mercadoria, deixando-o como algo cada vez mais longe da realidade feminina.

Em tempos de vidas perfeitas nas redes sociais, vende-se a ideia de que o amor está em roupas, dietas, maquiagens e viagens em realidades distantes de se alcançar. 

"Nesse contexto, aprender a se amar é um ato revolucionário, é um ato político", diz. No entanto, não é fácil trabalhar esse amor, afinal, se amar envolve olhar para si e criar um relacionamento saudável consigo, e isso leva tempo. De acordo com a psicóloga, é algo que precisa ser cultivado sempre. Não é algo que alcançamos uma vez e pronto, como um objetivo que pode ser finalizado. “Precisamos exercitar a arte de se amar todos os dias a todo momento”, aconselha. 

A psicóloga ainda retoma que as mulheres costumam ser ensinadas a amar os outros, mas não são ensinadas a se amar com a mesma generosidade. “De que forma podemos amar o outro quando não sentimos isso por quem somos?”, questiona. Nesse sentido, Luísa diz que podemos trabalhar com a metáfora das máscaras de oxigênio no avião. “Primeiro colocamos a nossa antes de ajudar outros passageiros. Do mesmo jeito, primeiro devemos nos amar para, então, amar o outro”.  

Outro ponto importante para se falar sobre este assunto é que se amar também é uma forma de atrair pessoas boas para a própria vida, já que a partir do momento que você se ama, é possível aprender a receber amor de verdade e não mais migalhas de amores abusivos. “Aprendemos a estabelecer limites, nos perdoar. É o caminho do equilíbrio. O amor próprio nos ajuda a lidar com coisas difíceis e a construir uma vida que vale a pena ser vivida”. 

Além de todos os pontos já citados, o auto amor está extremamente relacionado à autoestima e autoconfiança. A relação é clara: quanto melhor a sua relação com você mesma, ou seja, quanto mais você se ama, maior a sua autoestima e mais confiante você é.

“Ao cultivarmos o amor próprio, sabemos quais são nossos limites e, consequentemente, nos valorizamos e respeitamos mais. Ele nos ajuda a enfrentar desafios, confiar em quem somos e a entender do que somos capazes”, explica a profissional.

Quando falamos sobre a relação que temos com nós mesmos, a grande dificuldade é aceitar os dias e momentos ruins. De acordo com Luisa, o amor por si mesmo é capaz de regular a autoestima e a autoconfiança, já que ele é capaz de ensinar de, apesar de defeitos e dias ruins, ainda é possível ser uma pessoa incrível e merecedora de uma vida melhor.

Como praticar o amor próprio diariamente?

A construção do amor próprio é um processo diário que exige respeito a si mesma, já que é preciso pegar leve nas cobranças
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A construção do amor próprio é um processo diário que exige respeito a si mesma, já que é preciso pegar leve nas cobranças

Já foi entendido que se amar é importante, mas, como fazer isso? Bom, não existe uma fórmula mágica de qual caminho seguir para ser uma mulher satisfeita com si. Afinal, se amar é um processo longo a ser trilhado diariamente e que varia conforme a trajetória de cada mulher. No entanto, algumas dicas são capazes de te ajudar a chegar lá. 

De acordo com Luisa, o primeiro passo é relembrar quando falamos de amor próprio estamos falando muito além do que aparência. “Somos ensinadas desde pequenas a medicar nosso valor pela beleza física e, como resultado, não aprendemos a valorizar outros aspectos de quem somos”, comenta a psicóloga. Como consequência, as mulheres acabam se frustrando quando a aparência não alcança o padrão imposto pela sociedade.

“É preciso buscar em nós coisas que gostamos em todos aspectos que compõem quem somos (relacionamentos, trabalho, inteligências, habilidades, aparência física etc.). Diariamente busque conhecer e reconhecer seus tipos de inteligência, não existe só um tipo e todas nós somos boas em coisas diferentes. Valorize isso!”, aconselha.

Luisa também comenta que para construir o auto amor é preciso se respeitar e deixar de cobrar a perfeição de si mesma. “Construa amor próprio se respeitando e deixando de se cobrar a perfeição. Ninguém é perfeito. Olhe com cautela para fotos e posts nas redes sociais , pois lá todos mostram apenas sua melhor face para o público. É preciso aprender que a realidade não se resume a isso”, fala. Nesse sentindo, é fundamental evitar cobrar de si a vida perfeita que nem o outro tem.

 Você já ouvir falar em mindfulness? A prática da atenção plena pode ser uma grande aliada para melhorar a relação com você mesma. Luisa relembra que é preciso treino para construir o hábito de ser gentil consigo mesma, assim como a compreensão de que é difícil se amar o tempo todo. Lembre-se, recaídas existirão e tudo bem se isso acontecer! “Ao perceber que está sendo dura consigo, preste atenção, reflita e volte para o caminho da aceitação e de se amar da forma que você é”.

Ainda nesse sentido, permita-se viver essa recaída e sentir sentimentos “ruins”. Ao invés de se repreender por sentir sentimentos negativos e evitar entrar em contato com eles, procure entender qual a origem deles e de que forma eles podem ser trabalhamos. O sentimento já existe, de nada vai adiantar você lutar contra ele.

Além de tudo isso, é fundamental aprender a dizer “não” (ou “sim”) para os outros. “Nos amar significa valorizar o nosso tempo e valorizar quem somos. Ao dizer ‘não’, nos colocamos em primeiro lugar, deixamos claros quais são nossos limites”, fala. Por mais difícil que possa ser, pratique esse exercício e não tenha medo de dizer “não” pela reação do outro. Lembra-se que você deve ser sempre colocada em primeiro lugar. Da mesma forma, dizer "sim" é uma maneira de se permitir fazer coisas que temos vontade sem o julgamento do outro.

7 exercícios para o amor próprio

Fazer elogios a si mesma, aprender uma nova habilidade e buscar referências positivas ajudam a conquistar o amor próprio
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Fazer elogios a si mesma, aprender uma nova habilidade e buscar referências positivas ajudam a conquistar o amor próprio

Para te ajudar nessa jornada construção da autoestima  e de amor por si mesma, além das dicas de como praticar o auto amor diariamente, Luisa listou sete exercícios para você começar a mudar a relação que tem com você mesma. Confira os exercícios:

1. Faça elogios a você mesma

Fazer elogios a você mesma é um ato de carinho e cuidado com você mesma. Para isso, Luisa propõe um exercício interessante. “Treine apresentar a pessoa que você mais ama no mundo a um estranho imaginário. Percebe como você falou bem dela? Agora tente fazer isso com você, se apresente para um estranho imaginário da mesma forma bacana que você falou do outro”.

2. Aprenda uma nova habilidade

Cultivar um hobby e aprender coisas novas são ações que melhoram a relação com você mesma. Você pode aprender a tocar um instrumento, escrever um diário, fazer colagens ou aprender um novo idioma.

3. Faça atividades que te dão prazer cotidianamente

Quanto tempo do seu dia ou da sua semana você dedica às atividades que realmente te fazem feliz? Seja ler um livro, fazer um ritual de beleza ou sair com os amigos. O importante é se permitir ser feliz.

4. Aceite elogios

Além de fazer elogios a si, saber receber elogios é um importante passo para a construção do auto amor. Geralmente, costumamos justificar algum elogio que recebemos com frases como “mas (e algum comentário depreciativo)” ou “em compensação...”. Parece que as mulheres nunca são boas o suficiente para receber o elogio. No entanto, quando alguém te elogiar, faça o exercício de apenas dizer “muito obrigada!”.

5. Crie uma lista de conquistas

Liste todas as suas conquistas diárias, desde coisas grandes até as pequenas tarefas do cotidiano como levantar da cama, lavar a louça e levar o cachorro para passear. Aos poucos, você vai perceber que tem várias habilidades, conquistas e pontos positivos para serem exaltados.

6. Tenha referências

“Representatividade é um ótimo caminho para se amar”, comenta Luisa. Dessa forma, busque referências de pessoas que se pareçam com você e passam por coisas parecidas. Existem escritoras, atletas, blogueiras e youtubers que são como você e podem te ajudar nesse processo. Deixe de seguir aquela influenciadora digital que só faz com que você se sinta mal com a própria imagem. Cerque-se que referências positivas! 

7. Faça terapia

Infelizmente a terapia ainda é um tabu para muitas pessoas. No entanto, a realidade é que fazer terapia significa entrar em um processo profundo de autoconhecimento. De acordo com Luisa, se conhecer é um dos caminhos para trabalhar o amor próprio .

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