- "A Bruna briga até com o espelho se ele disser PT", provoca Iara*.
- "Bestas! Eu não brigo, não! Já disse que dentro da minha casa e nos meus fins de semana não discuto política. Você que queria passar a mão na cabeça do Lula em pleno sábado dentro da minha piscina. Aí, não!", justifica Bruna*.
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A conversa compartilhada em um grupo de WhatsApp nessa segunda-feira (11) de início de votação de impeachment resume o que aconteceu com duas amigas durante o último fim de semana de sol na casa de uma delas. São mais de 15 anos de amizade, muitas histórias vividas, mas a artesã Bruna e a jornalista Iara divergem nitidamente quando o assunto é a permanência ou a saída da presidente Dilma Rousseff: uma é a favor e a outra, contra.
"Fla X Flu político"
E quem não tem vivido esse verdadeiro "Fla x Flu" político no dia a dia, seja no trabalho, em casa, na mesa do bar ou em qualquer outro lugar?
"Rolou briga, discussão, gritaria"
Nas ruas ao lado de manifestantes contra o governo, Bruna lembra de ter vivenciado com amigos uma situação complicada em público.
"Tenho muitos amigos que admiro muito e que são a favor do governo. Eu sou contra. Rolou uma discussão no aniversário de uma amiga. O povo até parou do lado da nossa mesa. Teve gritaria e etc. Depois, a mesma turma marcou de tentar conversar sobre política lá em casa, mas não deu certo, não. Rolou briga, discussão, gritaria e decidimos que não vamos discutir mais. A discussão começa sempre bem, mas, depois, desanda", analisa ela.
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Amizade supera?
Segundo a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, mestre pela USP (Universidade de São Paulo) e especializada em felicidade e desenvolvimento de adultos, uma "amizade supera embates e conflitos. Se for real, o outro aceitará uma crítica a uma postura nova e diferente do padrão, sem dramas”. Será que é sempre assim?
Segundo Angelita Corrêa, "se o desentendimento for por questões circunstanciais, uma conversa pode desfazer o mal-entendido”.
A realidade é que esses embates políticos estão cada vez mais presentes no cotidiano e está cada vez mais difícil evitá-los quando há intolerância, radicalismo, patrulha sobre a cor da roupa ou a opinião alheia. "Eu bati boca com um vizinho e meus primos me detonam pelas costas", relata Ana*.
Relacionamento desfeito
Relacionamentos também foram desfeitos pelo mesmos motivos. "Minha prima estava toda apaixonadinha, mas o cara terminou com ela porque ela é petista e disse com todas as palavras que, com esse pensamento, ela não serviria para ser mãe dos filhos dele.Quanta ignorância, as pessoas perderam a noção", descreve Amanda*, sobre caso que presenciou.
Melhor ter os amigos
Bruna e seus amigos tentataram, mas a solução foi deixar, de uma vez por todas, o assunto política de lado nos encontros. "Melhor os amigos que o fica/fora Dilma. E a minha opinião é que os políticos a favor e contra querem exatamente isso: que fiquemos uns contra os outros. De mim, eles não terão isso", conclui.
* Os sobrenomes foram ocultados a pedido das entrevistadas.