Interessante constatar como em apenas seis anos a minha visão sobre envelhecer
mudou tanto. Estou mais tranquila e preparada
para a forma como o mundo me vê. Também tenho mais certezas daquilo que quero e, principalmente, do que não quero na minha caminhada rumo aos 60 anos, que estão bem próximos e já trato como um evento a ser festejado
. Do jeito que eu quiser.
Todas as transições na vida, acredito, embutem mudanças. Basta fazer uma retrospectiva, puxar pela memória e lembrar de como você e a sociedade a enxergavam aos 30, 40 anos de idade. Lembra? A contagem meramente cronológica não é relevante individualmente, mas carrega as expectativas e cobranças que a sociedade nos cobra. A idade para casar, para ter ou não filhos, a hora para se tornar avó. Cobranças não nos faltam e mesmo sendo vítimas, na maioria das vezes nos transformamos em algozes, numa espécie de vingança a tudo que o mundo nos impõe.
A virada dos 40 para o 50 é a transição mais dolorosa . A entrada na segunda metade de século de existência traz questionamentos e sofremos os impactos físicos e mentais provocados pela menopausa .
Cabelos brancos brotam entre os fios que caem em maior quantidade e haja tonalizantes e tintas para esconder os grisalhos. A pele ressecada perde o viço. A gordura abdominal ganha a luta apesar do esforço em comer menos e praticar exercícios físicos. A silhueta muda. Os calorões surgem quando menos se espera - numa reunião de trabalho, no meio de uma noite fria, no elevador, quando todos reparam. A vida sexual praticamente inexiste, não se tem desejo nem disposição. Mentalmente, as conexões cerebrais estão mais frágeis, a falta de memória torna-se constante. Em alguns momentos queremos sumir. Pai e mãe partiram ou podem partir a qualquer momento. Nos tornamos órfãs. Passamos a ser a bola da vez.
É um turbilhão de emoções, perdas e dúvidas. Muita coisa ao mesmo tempo agora. Tudo isso com o carro andando, o trabalho ou desemprego rolando, as contas vencendo, filhos indo embora ou chegando em casa com seus filhos. Casamento em crise, você em crise, o mundo em crise.
ALICERCE PARA RECONSTRUÇÃO
O início desta tempestade perfeita pode parecer sem fim, sem solução. Até que alguns anos passam e você consegue ver a dimensão do estrago, mas reage e pensa por onde começar a reconstrução .
Para recompor a vida e encontrar um caminho seguro para seguir vivendo, de preferência da forma que escolhemos, utilizamos os alicerces que restaram no pós-tempestade reforçados pela maturidade apreendida, que nesta hora ganha a dimensão e importância certas. A maturidade é sem dúvida o material imprescindível nesta obra. É a maturidade que vai encurtar caminhos e facilitar nas escolhas.
Seis anos atrás, gravei um vídeo para o Pirações da Meia-Idade falando do baque que foi aos 52 anos ser chamada de senhora por um rapaz gentil que ofereceu seu lugar no banco do ônibus para que eu me sentasse. Agradeci a gentileza e pensei no que aquele gesto representava. Um "toque" suave do universo dizendo "Edna você não é mais uma jovem". E isso, vamos combinar, não é fácil de ouvir, muito menos de aceitar. Como assim, eu não sou mais uma pessoa jovem ?
Lutei contra, reclamei , encontrei ressonância na minha não-aceitação em várias amigas e mulheres com quem compartilhei o meu vídeo-descoberta. Muitas comentaram, algumas realmente jovens, que estavam inconformadas com o tratamento recebido.
Hoje, superados os primeiros anos daquele momento, com inúmeras outras questões pendentes em mente, posso dizer que aceitei e aceito ser chamada de senhora. Podem me chamar à vontade. Não ligo mais nem vou perder tempo sofrendo com isso. Às vezes, fico até aliviada quando alguém cede o lugar para eu me sentar.
Uma coisa que tenho feito com muito prazer ao conversar e trocar ideias com mulheres mais novas ou mais velhas do que eu é tratá-las como uma igual , que é o que todas somos, iguais. Eu trato todas por você.
Assista aqui o vídeo-descoberta de que eu não era mais vista como uma jovem.