O Lipedema é uma doença crônica e progressiva causada por acúmulo de gordura em regiões específicas do corpo como braços, pernas e quadris, que provoca sofrimento físico e psicológico, e afeta cerca de 10% das mulheres em todo o mundo, segundo dados da Sociedade Espanhola de Medicina Estética (SEME).
No Brasil, este número é estimado em cinco milhões de mulheres - atinge quase que exclusivamente este público, pois está associado a um padrão hormonal feminino. Ainda por conta da falta de conhecimento e de informação da classe médica, mesmo com a conquista da CID 11 este ano, um dos malefícios para a saúde mental de quem sofre com o Lipedema é o descrédito.
Entre no canal do iG Delas no Telegram e fique por dentro de todas as notícias sobre beleza, moda, comportamento, sexo e muito mais!
A maioria delas recebe diagnósticos clínicos errôneos de obesidade, alterações linfáticas, entre outros, o que leva a tratamentos inadequados e, por consequência emocional, distúrbios psicológicos como depressão.
Muitas mulheres sofrem com um sentimento constante de culpa por acharem que não estão se esforçando o suficiente para eliminar a gordura dos braços e das pernas. Não é falta de disciplina ou de esforço.
“Muitas são taxadas de preguiçosas por não conseguirem emagrecer, mas a questão é que elas podem fazer dietas e exercícios físicos diariamente e, mesmo assim, a gordura continuará em seu corpo porque a gordura do Lipedema não é obesidade, não é algo estético, é uma doença”, diz o diretor do Instituto Lipedema Brasil e um dos médicos pioneiros no tratamento da doença no país, dr. Fabio Kamamoto.
De acordo com o especialista, ouvir esses comentários constantemente acaba com a autoconfiança delas, além da frustração de não conseguir reduzir o peso e perder a gordura localizada, pode gerar nessas mulheres distúrbios alimentares como anorexia e bulimia, e também emocionais.
“A doença não é fatal, tem cura, mas por causa do desconhecimento geral, até essa mulher conseguir encontrar um profissional que saiba o que é a doença e possa ajudá-la, a qualidade de vida pode ser prejudicada de tal forma que pode desencadear depressão, obesidade, perda de mobilidade e redução de autoestima. Fora a necessidade que elas têm de esconder essas partes do corpo. Ir à praia, usar saias ou shorts torna-se impensável para essas mulheres. O impacto emocional é brutal”, avalia.
A palavra do psiquiatra
A importância de reconhecer a diferença entre o Lipedema e a obesidade para o bem da saúde mental das mulheres já foi pauta do Reflexões Psiquiátricas, projeto liderado pelo psiquiatra dr. Táki Cordás e que contou com a participação do dr. Kamamoto nas mídias sociais. Segundo o dr. Cordás, o centro de dor e os diferentes centros que podem dar depressão em nível cerebral são muito próximos, ou seja, síndromes dolorosas e crônicas dão muita depressão.
Acompanhe também perfil geral do Portal iG no Telegram !
Para o dr. Kamamoto, a dor de apalpação nos membros afetados pelo Lipedema é altamente limitante para as mulheres. “Elas tentam fazer caminhadas, atividades que precisam ficar muitas horas em pé, e isso vai atrapalhando a vida delas porque chegam ao final do dia literalmente no limite da dor e do emocional”.
Além da dor física
O Lipedema, que provoca dores, problemas de locomoção e uma sensação de peso nesses membros, também traz uma sensação de sofrimento e solidão, já que elas não se sentem acolhidas nem pelos médicos nem pela sociedade. Tudo isso “pesa” no quesito saúde mental feminina, um dos assuntos mais discutidos este ano.
Para a mulher que concilia trabalho doméstico, carreira, estudos, maternidade, relacionamentos e cuidados com a família, ter uma doença crônica e progressiva, ou seja, que piora se não for tratada, o “problema” é maior. Segundo estudo recente do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo que comprovou as consequências para a saúde mental das mulheres, 40,5% delas responderam que desenvolveram sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. O que se constata é que as mulheres estão sobrecarregadas e exaustas.
“Estamos falando de números no pós-pandemia, imagina se falássemos com as mulheres neste período e com Lipedema? Este número, provavelmente, seria maior”, finaliza Kamamoto.