O universo das trabalhadoras sexuais é vasto e repleto de tabus. Nadia Gonçalves* tem 25 anos, é formada em Direito e decidiu se tornar acompanhante de luxo aos 24. Para isso, largou o emprego no escritório e terminou um relacionamento longo. A decisão foi tomada com o objetivo de ter uma vida mais confortável e com mais liberdade. Nesse contexto, Nadia conversou com o Delas e contou sete fatos sobre a vida de uma acompanhante de luxo que você provavelmente não sabia.
1. Nem todas as prostitutas são vítimas
“Acho importante salientar que dentro do mundo da prostituição existem diferentes vertentes e caminhos. Exploração sexual, tráfico de pessoas e prostituição são coisas completamente distintas”, afirma Nadia. A garota garante que no próprio caso, por exemplo, foi uma decisão muito consciente, tomada após muita pesquisa sobre a profissão e que não tem nenhum arrependimento.
2. O perfil do cliente depende do perfil da profissional
No caso de acompanhantes de luxo, existe sempre um filtro feito pela profissional na hora de sair com um possível cliente. Algumas são mais abertas, não têm muitas restrições e até contratam um agente para fazer essa seleção. Nadia prefere ser responsável por essa função e prioriza qualidade acima de quantidade. “Isso varia de menina para menina, eu trabalho dessa forma porque gosto de fidelizar o cliente, é muito raro um cara só sair uma vez comigo, sabe?”, relata.
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3. As acompanhantes não realizam todas as práticas e fetiches, independente do dinheiro
Nadia trabalha com esse perfil mais exclusivo e sempre antes de ir para um encontro -- palavra que prefere ao termo “programa” -- traça um perfil do cliente, assim, já sabe se as práticas e os interesses do cliente se encaixarão com os seus. Além disso, ela conta que o que acontece nos encontros varia muito de acordo com a química e o momento. Por exemplo: nem sempre faz sexo anal, mesmo gostando da prática. “Eu não realizo tudo, não adianta o cara chegar com 10 mil reais, 20 mil e falar ‘caga em um pratinho’, não vai rolar. Se o cara é fetichista, eu já pergunto o que ele quer realizar e eu consigo saber se estou dentro do que ele busca”, conta a acompanhante.
4. Grande parte dos clientes vão para o programa preocupados com o prazer da garota
“As minhas transas foram muito melhores depois que eu me tornei acompanhante”, diz Nadia, que afirma que a primeira vez que teve um orgasmo com sexo oral foi com um cliente. Segundo ela, a maioria dos homens acaba se preocupando mais com o prazer dela do que deles próprios.
5. Muitas mulheres optam por trabalhar em boates para não precisarem se expôr
Para conseguir lucrar sendo autônoma nesse meio, é necessário saber usar redes sociais e pagar anúncios. Segundo Nadia, isso faz com que muitas mulheres continuem trabalhando em casas, muitas vezes por terem medo da família descobrir. Outra coisa que pesa nessa decisão é a praticidade de não precisar ter um local. Nadia é autônoma e recebe seus clientes na própria casa. “Eu prefiro assim, me sinto mais segura e fico 24h por dia disponível”, diz.
6. Existem garotas de programas mais “passáveis” do que outras
De acordo com Nadia, as garotas que não estão dentro do padrão estereotipado de prostituta -- com mega hair, silicone nos seios e no bumbum, etc -- acabam tendo mais passabilidade de entrar na vida do cliente como se fosse uma ficante ou namorada. Com isso, ela já participou de eventos como festa de família, de confraternização de empresas, casamentos e até dormiu na casa da mãe de clientes.
7. O preconceito de achar que garotas de programa não são para casar vem mais de mulheres
“Muita gente fala ‘ai, você sofre preconceito na hora de namorar, os caras têm pé atrás por conta da sua profissão?’ e, gente, não existe isso não. Parece que quando você é puta os caras querem mais ainda, porque querem te comer de graça”, confessa Nadia. Ela acredita que esse tipo de pensamento é muito mais alimentado por mulheres por uma questão de rivalidade feminina criada pelo patriarcado.
Nadia também mencionou que com todas as nuances e possibilidades dentro do trabalho sexual, as opiniões sobre ele são bem divididas mesmo dentro do movimento feminista. Para formar uma opinião sobre o assunto é necessário entender quanto questões como raça, classe social e identidade de gênero influenciam na realidade dessas trabalhadoras. Essas complexidades são abordadas em livros como "Putafeminista", escrito por Monique Prada, uma trabalhadora sexual e "Direito à Prostituição", da advogada e pesquisadora Alessandra Margotti.
*Nomes fictícios para preservar a imagem da fonte.