Se você tem uma vagina, provavelmente as primeiras coisas que ouviu a respeito da primeira vez no sexo envolviam dor intensa e sangramentos dignos daquela cena de “O Iluminado” em que os corredores são inundados por um mar de sangue. Enquanto meninos têm mais liberdade para se familiarizar com o tema conforme vão crescendo, meninas muitas vezes crescem com medo de perder a virgindade ou com plena certeza de que a ocasião será um desastre absoluto.
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Se você se identifica com essa situação, sem pânico! Há muitos mitos e verdades acerca da primeira vez no sexo, principalmente para mulheres. Ao contrário do que é dito por aí, a dor não é algo que necessariamente estará presente no momento em que a mulher tem a primeira relação sexual, e muitas pessoas estão aí para provar isso.
Natalia* (nome fictício - ela preferiu não se identificar), por exemplo, conta que, apesar de ela e o parceiro da época não saberem muito bem o que estavam fazendo, tudo aconteceu de forma muito rápida e absolutamente indolor. “Foi meio estranho porque, né, tem algo entrando em você, mas não doeu!”, explica a jovem. Por outro lado, ela afirma que também nem a experiência da primeira relação nem algumas das seguintes foram prazerosas, e credita isso ao fato de não ter se sentido totalmente relaxada com os primeiros parceiros. “Eu transei com pessoas meio que sem estar 100% segura. Quando foi com alguém que eu realmente queria foi ótimo”, relata.
Prazer na primeira vez é possível?
Outra afirmação que as pessoas costumam fazer é a de que, ao perder a virgindade, a mulher não sentirá prazer logo de cara. Apesar de ter essa a situação pela qual Natalia passou, ela também não é uma regra das primeiras vezes. Para Bianca* (nome fictício), por exemplo, bastou uma transa para que ela entendesse como era esse prazer sobre o qual todo mundo fala por aí. “Eu já estava morrendo de vontade. A primeira sensação foi meio estranha, mas em uns cinco ou dez minutos depois já foi bom. Óbvio que, com prática, a gente percebe que pode ser ainda melhor, mas foi bom”, conta a jovem.
Ainda que não seja uma regra, é possível, sim, que haja alguma dor durante o ato. Mas calma, não é nada traumático, como explica Larissa* (também nome fictício). “Minha primeira vez foi dividida em duas partes. Na primeira tentativa não aconteceu nada, a gente estava se beijando, foi esquentando e pensamos: ‘Vamos tentar?’. Tentamos e doeu tanto que eu desisti, mas na segunda vez fui mais relaxada por já termos tentado, doeu bem menos e rolou”, relata. Conforme ela foi se familiarizando com as sensações e entendendo de fato como o sexo funciona, a dor foi embora e deu lugar ao prazer. “Depois de dois anos e meio de namoro, cada vez é melhor que a anterior”, conclui.
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Afinal, o que acontece?
Você deve estar se perguntando: “Então você está me dizendo que doer ou não doer é questão de sorte?”. Não, não é. De acordo com Livia Daia, ginecologista e obstetra da clínica Daia Venturieri, é um combo de questões fisiológicas e até emocionais que vai ditar como a primeira relação sexual vai se desenrolar em termos de sensações. Então, vamos lá:
O hímen tem algo a ver com isso?
Desde que você aprendeu sobre o aparelho reprodutor nas aulas de biologia da escola, provavelmente culpa o hímen pelo medo de que perder a virgindade seja algo doloroso. Ainda assim, pode ser que, como ocorre para muitas mulheres, você mal saiba exatamente como é a tal da membrana.
Ao contrário do que muitos pensam, a maioria dos hímens não são trechos espessos de pele que formam um “tampão” no canal vaginal. Normalmente, eles ficam em torno do canal, formando um círculo e deixando-o mais estreito, mas nem todos se apresentam dessa forma, como mostra a ilustração abaixo:
O último tipo, chamado de hímen imperfurado, mal permite que a mulher menstrue e, normalmente, precisa de uma intervenção cirúrgica para ser retirado, mas é considerado uma anomalia bem rara. Com a penetração, o hímen de fato se rompe e, segundo a ginecologista, é possível que isso cause certo desconforto. Livia explica, porém, que a membrana não é a principal razão para queixas de dor na primeira vez.
O que pode, de fato, causar dor?
De acordo com Livia, o primeiro fator que pode causar dor no momento em que a mulher perde a virgindade é a tensão, explicando, por exemplo, a história de Larissa. “A tensão da mulher na hora da relação leva a uma contração da musculatura vaginal, gerando a dor. Quanto mais relaxada, tranquila e segura, as chances de ter desconforto é menor”, explica a ginecologista.
A presença ou ausência de prazer no momento também está bastante ligada ao nível de relaxamento da mulher e ao quanto ela conhece os próprios desejos. Segundo Bianca, que teve prazer logo na primeira relação sexual, ela já se masturbava e já havia experimentado várias outras práticas sexuais durante meses antes de tentar transar. Enquanto isso, tanto Larissa quanto Natalia contam que não sabiam muito bem o que estavam fazendo, o que pode ter influenciado na falta de prazer.
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Segundo a médica, outro fator importantíssimo que pode interferir – e muito – no bem-estar da mulher na primeira vez é a lubrificação. “O conteúdo lubrificante da vagina permite que a mucosa vaginal tenha mais capacidade de distensão e fique menos ressecada, propiciando menos dor e desconforto na hora da relação”, explica Livia.
A lubrificação, por sua vez, ocorre naturalmente no canal vaginal, mas depende de estímulos. “As preliminares, que podem ser masturbação ou excitação de pontos erógenos, são importantes antes de uma relação sexual, inclusive na primeira vez, pois estimula a produção de conteúdo lubrificante”, afirma a ginecologista.
É claro que, para mulheres que não tiveram nenhum contato com experiências sexuais antes da primeira vez no sexo e não sabem como gostam de ser tocadas, pode ser difícil se excitar a ponto de ficar devidamente lubrificadas. Sendo assim, lubrificantes artificiais (com base de água para não entrar em conflito com a camisinha) podem ser seus melhores amigos, não apenas na primeira relação, mas durante toda a vida sexual.