Perder a virgindade pode ser uma experiência única, tanto pelo lado positivo, quanto pelo lado negativo. Algumas estratégias, como apelar para lubrificantes, usar preservativos para evitar preocupações na hora H e caprichar nas preliminares podem tornar a primeira vez no sexo um momento bem aproveitado , mas, para algumas mulheres, nenhuma dessas dicas funciona.
De acordo com a educadora sexual e fisioterapeuta Débora Padua, cerca de 5% da população feminina sofre de vaginismo , uma condição que faz com que os músculos pélvicos se contraiam involuntariamente, impedindo que a penetração seja possível. Ela afirma que algumas pacientes que sofrem com o vaginismo demoram anos para perder a virgindade , como ocorreu com a britânica Amy Forrest.
A jovem – que hoje tem 26 anos e vive na Escócia – conta ao Delas que demorou seis anos desde a primeira tentativa de fazer sexo para realmente conseguir ter uma relação sexual com penetração . “Eu tinha quase 20 anos na época que me auto diagnostiquei e estava tentando fazer sexo desde os dezoito”, afirma. Ao veículo americano “Cosmopolitan”, a moça afirma que foi só aos 24 que ela conseguiu fazer sexo com penetração, após um tratamento envolvendo a aplicação de botox.
Da frustração ao diagnóstico
Quando fez a primeira tentativa de transar (aos 18 anos com o então namorado) e não conseguiu, percebeu que realmente tinha um problema. Segundo ela, não conseguir fazer sexo de forma alguma deixou sua autoestima em frangalhos. Foi então que uma das amigas da moça leu uma matéria a respeito do vaginismo em uma revista e disse que ela deveria procurar informações sobre o assunto.
Segundo Amy, desde sempre, falar sobre sexo não era fácil para ela. “Eu sempre tive um medo inexplicável acerca de assuntos que têm a ver com menstruação, sexo e gravidez. Eu chegava a quase desmaiar durante as aulas de educação sexual dadas desde o primário até o colegial“, conta. Débora explica que, normalmente, o vaginismo está diretamente ligado ao emocional da mulher, ao medo de fazer sexo e à falta de informações sobre o tema; esse é o caso da britânica, que classifica a situação como fruto de seu subconsciente.
Inicialmente, ao procurar médicos para conversar sobre o assunto, Amy se consultou com profissionais que nunca haviam ouvido falar sobre vaginismo e foi constantemente questionada sobre ter passado por situações que pudessem ter criado um trauma e servido de gatilho para o vaginismo, como um abuso sexual ou um exame ginecológico mal administrado. Amy afirma que, até hoje, não consegue pensar em um acontecimento específico que possa ser responsável por ter desenvolvido a condição.
Amy afirma que, nessa época, ouvia todo tipo de palpites a respeito do que deveria fazer a respeito do problema. “Fui aconselhada por muita gente, inclusive por médicos e pela minha própria mãe, a tentar relaxar e tomar um vinho! Até em um estado bastante alcoolizado tentando fazer sexo com meu primeiro namorado, meu subconsciente agiu e meus músculos se contraíram”, afirma. Eventualmente, ela terminou o namoro por sentir que estava fazendo com que o rapaz “perdesse” algumas vivências. Segundo a moça, esse tipo de situação fez com que ela ficasse ainda mais inibida e deixasse de procurar outros profissionais e alternativas por outro longo ano.
Débora afirma que, normalmente, o tratamento para vaginismo consiste em fisioterapia íntima, ou seja, massagens que tiram a tensão dos músculos vaginais com dilatadores e eletroestimulações que “ensinam” a musculatura a relaxar. Para a britânica, a frustração aumentou mais ainda quando nem esse tipo de tratamento a fez enxergar algum progresso, já que ela não conseguia usar dilatadores, deixar que alguém examinasse detalhadamente a região ou ter sucesso em novas tentativas de fazer sexo. A moça também foi aconselhada a tentar praticar yoga e meditação. “Na minha opinião, eu estava apenas perdendo tempo”, conta.
Foi então que surgiu a luz no fim do túnel, mas em forma de livro. Amy conta que começou a ler uma publicação intitulada “When Sex Seems Impossible” (quando o sexo parece impossível), e descobriu que havia ainda uma alternativa que ela não tinha testado: a aplicação de botox . A toxina botulínica – frequentemente utilizada em procedimentos estéticos – paralisa as células nas quais é aplicada. Sendo assim, a ideia do tratamento é aplicá-la nos três músculos que compõem o assoalho pélvico para que eles fiquem impossibilitados de se contrair involuntariamente. “Você essencialmente quebra o ciclo psicológico da coisa”, explica Amy.
Já que o livro descrevia o tratamento como um sucesso em quase 100% dos casos, Amy ficou decidida a tentar. Como o serviço de saúde do Reino Unido não cobria o procedimento e não havia nenhum lugar na Escócia que o executava, a moça teve de viajar até Londres e realizá-lo em uma clínica privada. Lá, ela conta que foi devidamente sedada para que seis agulhas injetassem o botox em seus músculos pélvicos.
Ela explica que demora de dois a dez dias para que o tratamento tenha o efeito desejado, e que, a partir disso, é recomendado que as pacientes usem dilatadores de diferentes tamanhos para que a vagina fique acostumada com a sensação. “Duas semanas após o tratamento com botox, eu consegui inserir o menor dilatador com facilidade. Na mesma noite, com a ajuda do meu namorado, passei para o próximo dilatador”, comenta. No dia seguinte, porém, Amy finalmente conseguiu perder a virgindade com o namorado, com quem tem um relacionamento até hoje.
A melhor parte do tratamento, porém, foi a de que Amy não precisou nem de outras sessões. “O efeito do botox passa depois de cerca de dois meses e você não nota de forma nenhuma. A ideia é a de que ter penetração sem dor remove o medo inconsciente do sexo ser doloroso, o que também faz com que os músculos vaginais parem de se contrair espontânea e incontrolavelmente”, conta.
Apesar de a espera de Amy ter sido longa, vaginismo faz com que o processo de perder a virgindade seja ainda mais extenso e conflitante para outras mulheres. Débora possui pacientes que chegaram a ter a primeira relação sexual sem dor após os sessenta anos de idade , e enfatiza que a mulher com vaginismo não está sozinha, que é importante procurar um médico que inspire confiança e que o problema tem, sim, tratamento.