2020 foi um ano atípico por causa da pandemia da Covid-19
. As pessoas passaram muito mais tempo dentro de casa do que normalmente ficariam. Home office
, aulas on-line e chamadas de vídeo tornaram-se parte da nova rotina, aumentando o contato direto com as luzes artificiais da TV, do celular, do computador. Surgem as dúvidas: é necessário proteger a pele dessas luzes
? O que elas podem provocar na pele? São prejudiciais?
Apesar de, normalmente, serem apontadas como vilãs para a visão e a saúde dos olhos, as luzes artificiais também podem prejudicar a pele, caso ela não esteja devidamente protegida. Manchas e envelhecimento precoce são alguns dos principais sintomas. Para tirar essas dúvidas o iG Delas entrevistou médicos sobre o Dezembro Laranja, campanha voltada para a prevenção do câncer de pele. Confira.
Todos os anos, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) registra cerca de 185 mil novos casos de câncer de pele. Segundo a Sosciedade Brasileira de Dermatologia (SBD), houve queda de 48% na realização de exames para detectar a doença em 2020.
De acordo com a médica dermatologista Deborah Castro, o câncer de pele pode ser provocado por fatores genéticos e ambientais, além de atingir mais facilmente pessoas de pele mais clara.
“O principal fator ambiental é a exposição solar, principalmente nos primeiros vinte anos de vida, um efeito cumulativo, que aumenta o risco do câncer de pele. Além disso, as pessoas mais brancas, com fototipos mais baixos, aquelas que nunca se bronzeiam e se queimam, tem mais riscos de ter câncer de pele”, diz a médica.
De acordo com ela, não existem estudos suficientes que indiquem o risco da luz artificial para o desenvolvimento dos cânceres de pele, mas sim para outros problemas. “Os espectros que estão envolvidos na gênese do câncer de pele são UVA e UVB [luz solar]. A luz invisível [artificial] está relacionada ao envelhecimento, produção de radicais livres, manchas. Mas a função dela em relação ao câncer de pele ainda não é muito estudada”, pontua.
“Se o objetivo é apenas prevenir o câncer de pele, como a gente trabalha no Sistema Único de Saúde (SUS), no caso com pacientes que têm dificuldades para comprar o protetor solar, eu não oriento usar protetor em casa, mas apenas quando vai se expor ao sol. Mas, grosso modo, seria importante usar o protetor solar em casa, sim, para proteger a pele do foto-envelhecimento, da produção de manchas e outros problemas”, afirma Deborah.
Sobre o câncer de pele
Os cânceres de pele são divididos em dois tipos, os melanomas, raros e perigosos, e os não-melanomas, mais comuns e simples.
O melanoma pode ser qualquer pinta que está crescendo, de início recente, que tem mais de uma cor. Ele apresenta maior risco de metástase e de morte. “Deve-se levantar o alerta para câncer de pele principalmente quando tem parentes de primeiro grau com histórico familiar de melanoma. O histórico familiar é mais importante para o melanoma do que para os outros tipos de câncer”, pontua Deborah.
Já o não-melanoma aparece como uma pequena ferida que não cicatriza, parece um sinal da cor da pele que costuma brilhar mais que a pele e tende a sangrar sem cicatrizar. “Toda ferida que não cicatriza em área foto-exposta deve acender o alerta para o câncer de pele. É muito comum nos dois terços superiores da face e nas orelhas, mas pode aparecer em qualquer área do corpo”, explica a dermatologista.
“O que se pode fazer de melhor para prevenção é fotoproteção. A proteção solar desde o início da vida. Evitar os horários de pico, usar protetor solar diariamente, usar óculos escuros e meios físicos de fotoproteção, como chapéu, roupas, guarda-sol. O principal objetivo do Dezembro Laranja é orientar sobre a importância da fotoproteção e alertar a população dos primeiros sinais para um diagnóstico precoce”, afirma Castro.
A médica diz que é importante que o FPS seja sempre, no mínimo, 30. Para ela, o problema de maquiagens e hidratantes com FPS é que, geralmente, eles possuem FPS baixo, não dando conta da proteção necessária para a pele.
Segundo a dermatologista, a redução na procura por exames que detectam o câncer de pele em 2020 é preocupante porque representa um risco para o tratamento do câncer. “Quando descoberto no início, o câncer tem até 90% de chance de cura. Geralmente, eles são resolvidos ambulatorialmente, mas para isso o diagnóstico precoce é necessário”, explica.
Nos casos em que os cânceres de pele são diagnosticados quando já estão avançados, os tratamentos pode ser mutilantes e deixar grandes sequelas funcionais e estéticas. De acordo com o cirurgião de Cabeça e Pescoço, André Raposo, além do risco de metástase aumentar, as cicatrizes da retirada costumam ser maiores, desagragando principalmente as mulheres e os mais jovens.
“Nos casos mais avançados, com tumores grandes e história mais prolongada, pode haver metástases para gânglios do pescoço. O paciente também sentirá a presença de um nódulo na região. A retirada cirúrgica sempre deixará uma cicatriz extensa nos casos de tumores avançados. Frequentemente, trabalhamos com cirurgia plástica para fazer a reconstrução do defeito cirúrgico, utilizando diversas técnicas, desde as mais simples – como a utilização de enxertos – até as mais complexas, como a confecção de retalhos regionais ou microcirúrgicos”, diz o cirurgião.