“Sim, o pole me aguenta”. É desta forma que a internacionalista Drea Costa se apresenta no Instagram. Quem encontra o perfil dela na rede social percebe logo de cara que a jovem foge dos padrões magérrimos que a sociedade impõe e ainda assim pratica uma atividade que expõe bem o corpo: o pole dance.

Drea Costa nem mesmo imaginava que existia uma aula de pole dance, mas, após conhecer, não deixou mais a prática
Arquivo pessoal
Drea Costa nem mesmo imaginava que existia uma aula de pole dance, mas, após conhecer, não deixou mais a prática

Até por isso, inicialmente, Drea ficou insegura de haver limitações no pole dance por conta de seu peso. “Meu primeiro receio era se haveria algum tipo de limite de peso para a barra, mas nessa mesma época vi outra menina gorda que fazia, então vi que não seria um problema. Minha mensagem para o studio foi basicamente ‘Quero fazer uma aula, mas não tenho força, flexibilidade, condicionamento físico  e sou gorda. Posso fazer?’”, conta em entrevista ao Delas.

Antes de iniciar qualquer tipo de exercício, o correto é que a pessoa passe pela avaliação de um médico para saber se está apta à atividade. Mas não há problema algum nessas características apontadas por Drea na mensagem enviada ao studio que conheceu, já que força, flexibilidade e condicionamento físico são características que também são geradas nas aulas de pole dance.

Da mesma forma que um aluno não precisa chegar em uma aula de musculação conseguindo levantar 20 kg de cada lado no supino, por exemplo, a pessoa também não precisa iniciar uma aula de pole dance já conseguindo se manter na barra. A aula existe justamente para ensinar a fazer isso.

“Passado o primeiro ‘bloqueio’, só tive receio de não conseguir fazer os movimentos, mas vi que aos pouquinhos estava conseguindo evoluir, continuei indo às aulas e vencendo cada barreira de uma vez”, conta a jovem que, hoje, três anos depois de ter iniciado a prática, já tem mais de sete mil seguidores no Instagram.

O curioso é que Drea nem mesmo imaginava que existia uma aula para ensinar a prática. Mas ela estava parada, sem fazer exercícios físicos e passou a pensar em atividades que poderia fazer. “Sempre gostei muito de aula de dança – fazia quando era mais nova – e, depois de ver uns vídeos de pole na internet, pensei ‘por que não?’. Comecei a procurar um lugar que ensinasse, mandei a mensagem para o studio, marquei uma aula e simplesmente nunca mais parei de ir!”

Quais os benefícios do pole dance?

Drea emocionou milhares de pessoas com sua apresentação no Rio Pole Fest, festival de pole dance  no Rio de Janeiro
Arquivo pessoal
Drea emocionou milhares de pessoas com sua apresentação no Rio Pole Fest, festival de pole dance no Rio de Janeiro

Entre os benefícios adquiridos por Drea com a prática, é possível citar melhora do condicionamento físico, que já era o objetivo inicial da jovem com a aula de dança. “Sou bem mais forte fisicamente hoje em dia. No início, eu nem sonhava em sustentar o peso do meu corpo e, hoje, consigo isso com mais facilidade."

Mas os maiores benefícios mesmo ela percebeu na mudança de mentalidade que adquiriu após os treinos e toda a vivência. Atualmente, ela não vê a aula de dança como uma atividade física que ela “tem de fazer”, uma obrigação, mas, sim, como um hobbie. “Eu amo ir às aulas, dançar, me distrair. Melhora muito a auto estima também porque você se vê capaz de fazer coisas que nunca imaginaria! Eu me sinto muito bem, muito poderosa e dona de mim quando estou dançando.”

Tão dona de si que emocionou milhares de pessoas com sua apresentação no Rio Pole Fest, 1º festival de pole dance e arte, que aconteceu no Rio de Janeiro em abril. O ato foi compartilhado nas redes sociais e já conta mais de três mil views só na parte final. “Estava tão emocionada e feliz que nem me aguentei em pé no final. Entrei no palco e sai do palco chorando”, escreveu Drea na legenda. Confira parte final da apresentação:

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“Assim que eu me inscrevi, eu sabia qual música queria dançar – ‘This is Me’, do musical ‘O Rei do Show’, interpretada pela atriz e cantora Keala Settle – e qual mensagem passar. Queria mostrar que podemos fazer tudo o que queremos, que podemos ser nós mesmos e que o pole é para todos . Foi uma experiência incrível e emocionante e sinto que consegui expressar bem o que eu queria. Foi uma energia muito incrível que vou carregar comigo o resto da vida!”

Depois de toda a experiência que viveu com as aulas e apresentações e com o que ainda vive com o pole dance, Drea afirma se sentir feliz e acreditar que pode fazer tudo o que quiser. “Desde que tenha paciência e dedicação, claro”, brinca a internacionalista e dançarina.

E esse sentimento é transmitido aos seguidores no Instagram, que veem nas publicações da jovem uma verdadeira inspiração. "Meu deus, chorei muito! Encantadora! Mudou meu dia! Parabéns, você é fo**!", diz um dos comentários sobre a apresentação. "Não te conheço, mas te admiro muito!!! Chorei vendo o vídeo!!! Você é incrível!!!", diz outra internauta. 

Aceitar o corpo e sentir-se bem no pole dance são um processo

Principal benefício da prática do pole dance na vida de Drea está na melhora na autoestima e no condicionamento físico
Arquivo pessoal
Principal benefício da prática do pole dance na vida de Drea está na melhora na autoestima e no condicionamento físico

No começo, a jovem não falou para ninguém que estava praticando pole dance, apenas para pessoas realmente muito próximas. Ela tinha medo do julgamento, medo de não conseguir, desistir e, depois, ainda ter de ficar explicando que não deu certo. Drea não podia fazer ideia, na época, que um dia teria um perfil repleto de fotos e vídeos dela na barra.

“Na verdade, eu nem tirava fotos ou vídeos. Minha instrutora incentivou a registrar para que víssemos nossa evolução, e comecei a fazer isso esporadicamente. Lembro da primeira foto que postei, depois de um mês de aula, porque estava muito feliz de ter conseguido subir no pole com muito sacrifício! Depois, fui postando outras fotos também, comemorando os pequenos avanços, e não me preocupei muito com exposição.”

Porém, junto da exposição, algumas críticas surgiram também. “Na verdade, todo gordo vai ouvir crítica. Se não fizer alguma atividade, vai ser por isso, e se fizer, também. Porque é como se estivéssemos errados só por estar ali, como se não devêssemos ocupar nenhum espaço e, ironicamente, ocupamos mais e chamamos atenção.”

Além das críticas por não ser magra, Drea também recebe comentários negativos por conta da sensualidade que está atrelada ao pole dance, como se alguém fora do padrão não pudesse se sentir sexy ou bem com o próprio corpo.

“Isso é incômodo, e talvez inaceitável, para muita gente. Mas acho até que ouço menos críticas do que eu imaginava que ouviria. O que acontece com mais frequência são comentários aleatórios que eu acredito não serem intencionais, mas que podem incomodar. Tipo o ‘você tem coragem de fazer isso?’, ‘se até você consegue, eu também consigo’. Mas já ouvi coisas como ‘coitada da sua instrutora’, ‘gordo não devia fazer atividade de gente magra’, ‘não sei como a barra não quebra’.”

Por outro lado, há muito mais gente que se inspira em Drea e se sente motivada a tentar também, já que vê que é, sim, possível ser gorda e praticar a modalidade. Este é justamente o motivo pelo qual a jovem continua a compartilhar sua própria experiência nas redes sociais, para inspirar mulheres como ela.

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Para quem tem medo, assim como Drea teve no início, a internacionalista afirma que é preciso tentar com medo mesmo, já que a gente só perde a insegurança quando tenta e vê que é possível. “Temos que nos permitir testar coisas diferentes. Pode ser que não role uma identificação com o pole, mas tem um monte de outras atividades para testar  e conhecer. Só não podemos deixar de fazer as coisas por medo do que os outros vão dizer ou pensar. Não podemos perder tempo com isso!"

Outra dica é não se comparar com outras pessoas, algo que, na opinião da jovem, demos levar para a vida. Ela explica que cada aluno tem uma evolução e um tempo, uma facilidade e uma dificuldade, então por isso não há sentido em se comparar com os outros e se julgar.

“Precisamos aprender a ser mais gentis com nós mesmos. Temos a tendência a nos cobrar demais, nos julgar, nos comparar com os outros. Temos muito mais tolerância e aceitação com o outro e acabamos sendo um pouco cruéis conosco. Ao mesmo tempo, também, damos muita importância ao que os outros dizem ou pensam e deixamos de fazer coisas que queremos por causa disso. Precisamos nos respeitar mais, dar mais atenção ao que nós queremos e não ao que esperam de nós.”

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Por fim, a dançarina de pole dance lembra que tudo isso é um processo. “Ouvimos desde sempre que tem algo errado com nossos corpos, e não vai ser da noite pro dia que vamos passar a aceitá-los e amá-los. É um exercício diário, um processo demorado, mas que vale muito a pena!”

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