Além de muitos aspectos da sexualidade feminina ainda serem um mistério, o próprio funcionamento do corpo da mulher – sobretudo do sistema reprodutor – não cansa de surpreender. Apesar de muitas delas terem dificuldades em atingir o orgasmo – algo que, para algumas, pode nunca acontecer –, estudos e especialistas mostram que o ato sexual ou a masturbação não são as únicas formas de fazê-las chegar ao ápice do prazer.
Conforme mostrado no documentário “Orgasmic Birth” (2009) e reforçado por diversas mulheres que optam por um caminho diferente na hora de dar à luz, o parto, dependendo da preparação e das condições do momento, também pode gerar ondas de prazer poderosas e semelhantes com as de um orgasmo atingido durante uma relação sexual ou a masturbação.
Essa, porém, não é a única situação em que as mulheres podem ter as mesmas sensações de prazer provocadas por um orgasmo sem estímulos necessariamente sexuais; para muitas, basta fazer certos exercícios físicos para que isso aconteça. Como grande parte das mulheres ainda têm vergonha e até medo de esclarecer dúvidas com relação ao sexo, chegar ao ápice do prazer na academia ou no pilates pode gerar um susto e tanto, mas não há nada de errado nesse processo.
Orgasmo com motivação mental ou física?
Para Bruna* (nome fictício), isso ocorreu durante uma aula experimental de pilates, conjunto de exercícios que trabalham respiração, equilíbrio e força na maior parte dos músculos – principalmente os abdominais. Segundo a jovem, ela estava fazendo um exercício em um aparelho que exigia uma contração lenta e ritmada da parte inferior do abdômen. “O professor estava do meu lado explicando o que eu tinha de fazer, até que em um momento começou... Veio aquela sensação, aquela queimação”, comenta.
Há quem diga que é possível – principalmente para mulheres – alcançar orgasmos apenas com estímulos mentais e sem precisar sequer encostar no corpo, mas não é esse o caso das mulheres que relatam a experiência de chegar ao clímax durante a prática de exercícios físicos diversos. Segundo Cátia Damasceno, especialista em sexualidade feminina e uroginecologia, a motivação nesses casos não tem nada a ver com estímulos mentais.
“O orgasmo durante a atividade sexual pode ocorrer, sim, e não é por uma fantasia ou necessariamente porque a mulher estava pensando em sexo, é uma questão de fisiologia”, explica a especialista. Segundo ela, alguns tipos de atividades físicas estimulam o músculo coccígeo – também conhecido como músculo pélvico –, que participa ativamente da chegada até os orgasmos.
E não vá pensando que apenas o pilates pode ser responsável por essa situação meio divertida, meio assustadora. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Indiana (EUA) e publicado em 2012, as possibilidades são muitas quando se trata de atividades físicas que provocam um prazer similar ao sexual nas mulheres.
Para realizar esse levantamento, a pesquisadora que liderou o estudo, Debby Herbenick, enviou questionários a 370 mulheres entre 18 e 63 anos que afirmaram já ter passado por experiências assim. Desse total, 124 de fato chegaram ao clímax, enquanto as 246 restantes sentiram algum tipo de prazer semelhante ao sentido durante um ato sexual. Além disso, o levantamento mostrou que, para 40% das mulheres consultadas, essa situação já ocorreu mais de 11 vezes ao longo da vida.
De acordo com o estudo, a experiência de Bruna faz bastante sentido, já que exercícios que mexem com a região abdominal encabeçam a lista dos mais estimulantes, com 45% das entrevistadas afirmando ter passado pela experiência com uma atividade desse tipo. Para 19% das mulheres, a onda de prazer veio quando elas estavam andando de bicicleta ou fazendo spinning.
O ato de escalar cordas ou mastros também foi citado e desencadeou a mesma reação física em 9,3% das mulheres consultadas pelo estudo. Por último, vem o levantamento de peso, que serviu de estímulo para 7% delas, e a corrida, que fez outros 7% “chegarem lá”.
Surpresas que ensinam
Apesar de ter ficado um bocado envergonhada (afinal, não é todo dia que se tem orgasmos dentro de um estúdio de pilates na presença do instrutor, certo?), a experiência fez com que Bruna conseguisse aprender algumas coisas, tanto sobre exercícios físicos que mexem com o abdômen quanto sobre a própria sexualidade – principalmente porque, na época, ela ainda era virgem e não tinha muita familiaridade com as sensações do orgasmo.
Segundo ela, o primeiro impulso foi parar de fazer o exercício em questão, mas o professor – sem saber o que estava acontecendo – insistiu para que ela continuasse. Ela então buscou controlar a situação com a respiração e prosseguiu. “Dei aquela respirada, continuei e entendi o que eu tinha de fazer para conseguir o orgasmo e o que eu tinha de fazer para conseguir fazer só o movimento”, explica Bruna.
Hoje, ela diz que presta bastante atenção quando vai realizar uma modalidade nova de abdominal pela primeira vez para não repetir o susto. Porém, ainda que as mulheres não tenham orgasmos durante os exercícios físicos, eles são capazes de melhorar a consciência corporal e até a vida sexual delas.
De acordo com Cátia, determinados exercícios físicos – mais especificamente os que estimulam a contração e o relaxamento sucessivo do músculo coccígeo, como o pilates e a ioga – têm o poder de fortalecer o assoalho pélvico, melhorando a circulação sanguínea na região e, por consequência, a lubrificação íntima.
Além de exercícios físicos “comuns”, Cátia afirma que outra prática que funciona da mesma forma é a da ginástica íntima , conhecida popularmente como pompoarismo. As técnicas dessa ginástica podem ou não envolver objetos (como as bolinhas tailandesas, por exemplo) e focam no movimento de “prender e soltar o xixi”.
Além de o pompoarismo facilitar a recuperação da mulher após um parto normal e até prevenir incontinência urinária, Cátia afirma que, normalmente, quem pratica essa ginástica costuma ter orgasmos melhores, mais frequentes e até múltiplos (ou seja, mais de um orgasmo seguido). E aí, bora se exercitar?