15% das brasileiras relatam ter sido vítimas de estupro
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15% das brasileiras relatam ter sido vítimas de estupro

Uma pesquisa divulgada pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva expõe um retrato alarmante da violência sexual contra mulheres no Brasil. De acordo com o levantamento, 15% das brasileiras afirmam já ter sido vítimas de estupro — e, entre elas, a maioria sofreu a agressão antes dos 13 anos de idade.

*Esta reportagem aborda violência sexual, estupro, abuso infantil, gravidez resultante de violência e descrições de silêncio e violência familiar. Se você já vivenciou abuso ou se sente vulnerável, considere não continuar a leitura agora. Procure alguém de confiança, um serviço de saúde ou apoio psicológico. Em caso de risco imediato, ligue 190; para atendimento especializado à mulher ligue 180; para apoio emocional, o CVV atende pelo 188; denúncias de violações de direitos humanos podem ser feitas ao Disque 100. 

Entre as vítimas de abuso infantil, 57% relataram nunca ter contado a ninguém sobre o que aconteceu. O silêncio, segundo especialistas, está ligado ao medo, à vergonha e ao tabu que ainda cercam o tema, especialmente quando o agressor é alguém próximo da família.

A pesquisa ouviu 1.200 pessoas, sendo 622 mulheres com 16 anos ou mais, em todas as regiões do país, entre 11 e 25 de julho. O levantamento mostra também que 8% das  vítimas de estupro engravidaram em decorrência da violência — e que a maioria das mulheres agredidas, sejam elas crianças ou adultas, não procurou atendimento médico após o crime.


Violência próxima e invisível

O estudo indica que a percepção social sobre o problema é ampla: seis em cada dez brasileiros (59%) afirmam conhecer uma mulher que foi estuprada ainda na infância. Além disso, 22% dizem conhecer vítimas que engravidaram após o abuso.

Consequências que atravessam o tempo

Especialistas apontam que o impacto do abuso sexual infantil pode acompanhar a vítima por toda a vida. A falta de apoio, de orientação e de acesso a serviços de saúde ou psicológicos agrava as marcas emocionais. Muitas mulheres, ao reprimirem o trauma, desenvolvem sintomas de ansiedade, depressão e dificuldade em estabelecer relações de confiança.

Aborto legal ainda é desconhecido por grande parte da população
O levantamento também investigou a percepção da população sobre o aborto legal em casos de estupro. Quase todos os entrevistados (96%) reconhecem que meninas de até 13 anos não têm condições físicas ou emocionais para serem mães. Mesmo assim, o desconhecimento sobre o tema ainda é alto.

Apenas 43% sabem que o aborto é permitido por lei em casos de estupro, risco de vida da gestante, estupro de vulnerável e anencefalia fetal. E somente quatro em cada dez pessoas sabem que não é necessário apresentar boletim de ocorrência para ter acesso ao procedimento.

Para sete em cada dez brasileiras, o aborto legal deveria ser uma opção disponível às vítimas de estupro. Ainda assim, 47% dos entrevistados afirmaram conhecer alguma mulher que já fez um aborto — e, em 71% desses casos, o procedimento foi realizado de forma clandestina.

Falta de informação e políticas públicas

De acordo com os institutos responsáveis pela pesquisa, oito em cada dez brasileiros acreditam que faltam informações claras sobre violência sexual e direitos das vítimas.

Os dados reforçam a urgência de políticas públicas que garantam acolhimento, atendimento médico e psicológico e acesso à justiça para mulheres e meninas em situação de violência.

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