O Brasil é o quinto país de mais mortes violentas do sexo feminino no mundo. De acordo com a 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher , 3 em cada 10 mulheres são vítimas de violência doméstica . Muitas mulheres se encontram vulneráveis e acabam aceitando estar em um relacionamento tóxico, que muitas vezes é seguido de violência .
Após presenciar um episódio de violência contra mulher diante de seus olhos, a escritora Jessica Chagas conta como se inspirou para escrever o livro “A história de como eu morri”, que retrata o cenário de relacionamentos tóxicos e abusivos.
“Eu estava escutando uma gritaria na frente do meu prédio e vi que tinha um homem sufocando uma mulher dentro do carro. Eu nunca tinha presenciado uma cena de agressão e para mim. Eu paralisei. No final daquilo tudo, eu fiquei com isso na minha cabeça e um dia, resolvi escrever e demonstrar o que eu gostaria que ocorresse naquele momento com aquela mulher. Eu queria mostrar que as mulheres podem ser corajosas e fortes, longe de uma submissão e salvação de um homem. Para a gente ser forte, não precisamos ser masculino. São coisas totalmente diferentes”, explica.
Jessica destaca como a obra retrata o relacionamento tóxico e como a violência doméstica está atrelada. “Sempre quando a gente pensa em violência doméstica, a gente relaciona com violência física. A história retrata além disso, traz o lado da violência emocional, de como o relacionamento se tornou perturbador e como a protagonista tenta se reerguer diante das pressões pelo seu modo de vestir, falar e agir, fazendo ela perder a própria confiança”. O livro também destaca como mulheres se veem presas a um relacionamento tóxico, não que ela seja fraca e estúpida. É um vínculo emocional. Quando você se vê você já está fragilizada e agredida por alguém que seria um suporte”.
Muitas mulheres, dentro de um relacionamento tóxico e abusivo, se sentem pressionadas e apreensivas na relação. A escritora explicita como a insegurança e a pressão da sociedade estão relacionadas a isso. “Existem muitas realidades diferentes. Muitas mulheres vêm de uma estrutura familiar tòxica. Nem todo relacionamento abusivo é um relacionamento amoroso, podendo ser familiar e entre amizade. De alguma maneira, isso é normalizado e a mulher demora a entender que ela pode romper este ciclo. Em outras situações esta mulher está presa financeiramente a um homem, com medo de sair de casa e sobreviver ou até receosa de deixar os filhos.
Sair de um relacionamento não é fácil em meio a uma sociedade exigida e padrões do patriarcado. Para Jessica, um dos conselhos que daria para mulheres em situações de abuso o violência doméstica é sempre uma ajuda, a qualquer circunstância. “Muitas vezes, mulheres que são agredidas acabam voltando para seus companheiros, e não só por dependência financeira, e sim emocional. A violência é um ciclo. Ela começa por insultos, pequena levantada de vozes e depois parte para a agressão física. Após isso, muitos homens partem para a “lua de mel”, pedindo desculpas e reatando o relacionamento. No livro, retrato que para as mulheres saírem desse ciclo elas precisam de uma rede de apoio que não julgue e que leve ela a tratamentos com terapeutas. Às vezes a gente é muito empático por situações que a gente não vivenciou. “A culpa não é da mulher e ela nunca está só. Para isso, ela deve buscar alguém para ajudar e ser sua rede de apoio”, finaliza.