Trabalhar o psicológico não é nada fácil e ainda é mais difícil em uma rotina intensa de extremo cuidado e diversas tarefas multidisciplinares como mulher na sociedade. Nisso, há uma mistura de sentimentos envolvidos que acabam deixando diversas mulheres confusas ao exprimir seus sentimentos diante das sobrecargas diárias.
Nesta semana do Dia da Mulher , o iG Delas esteve em uma entrevista exclusiva com a empresária Fabiana C.O, formada em Mercado da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi, que deixou o trabalho têxtil para conversar com o público sobre os desafios da sobrecarga feminina e o valor dos sentimentos para o autoconhecimento. Ela dedicou seu tempo à escrita e criou o livro Sra. Capa , a qual a narrativa faz uma homenagem a sua mãe, que passou por um período de depressão após a morte de seu avô. Assim, a obra ajudou a mãe entender como seus sentimentos fluem e como ela podia trabalhar com nossas emoções.
“Com 15 anos de idade, eu comecei a ter crises de depressão e isso foi até os meus 30 anos. Quando minha segunda filha nasceu, eu comecei a entender que meu processo tinha que ser diferente e busquei uma terapeuta. Na época, eu estava procurando ajuda pelas minhas filhas, mas acabei descobrindo que quem realmente precisava se gostar era eu. Isso foi uma virada na minha cabeça, de como aprender a me amar e como poderia levar a vida daqui pra frente. Em 2019, minha filha mais nova teve uma suspeita de um tumor no cérebro e eu decidi sair de um trabalho excelente para cuidar da minha filha. Nesse processo de autoconhecimento, eu me dediquei à escrita, o que me curou da depressão e como enxerguei meus traumas e minhas dores”, explica.
A sobrecarga feminina impacta diretamente na vida das mulheres. Fabiana relata que existe uma cobrança da sociedade para uma “boa menina”. “As mulheres vivem de vários cargos na vida que exigem uma cobrança pela menina educada e sorridente, mesmo quando não estamos bem. No âmbito profissional há uma pressão por sempre querer superar uma alcance e sempre ser a melhor em tudo que faz, além de ter conciliar ser mãe e dona de casa ao mesmo tempo. Isso gera uma sobrecarga física e emocional que a gente cobra mais do que outras pessoas, inclusive no mundo da beleza. A gente sempre teve que seguir um padrão, desde as revistas das bancas de jornal até a tela do celular. É uma cobrança exaustiva 24 horas por dia que nos faz produzir mais do que devemos mesmo nos momentos de descanso”, desabafa.
A empresária reflete sobre como a falta de conexão entre mulheres faz com que dificulte ainda mais o processo de entendimento dos próprios sentimentos e funções. “Eu tenho dias ruins e dias bons como todo mundo. Hoje consigo entender o que estou sentindo no momento, que veio com uma base muito forte do autoconhecimento e da terapia. O que eu percebo hoje é que existe a falta do momento de se olhar e acabamos não sabendo como separar as funções que temos na vida, seja como mãe, profissional e mulher. Nisso, a maioria das mulheres que convivo e vejo não estão conectadas com o presente e presas no celular, por exemplo. Acredito que as mulheres têm que ter um momento de troca com outras, para compartilhar suas dores, traumas e angústias”.
Fabiana aconselha mulheres que sentem dificuldade de exprimir seus sentimentos a fazer atividades que dão prazer.. “Uma dica que funcionou para mim e acabou sendo meu ofício, é a escrita. Eu tinha muita dificuldade de conversar com as pessoas sobre minhas emoções e não sabia como demonstrar isso. Foi assim que comecei a escrever cartas para meu namorado, meus familiares e para mim mesma. A escrita ajuda muito a tirar do mental aquilo que fica te deixando ansiosa por muito tempo,e assim você começa a entender estava acontecendo. Além disso, tente encontrar atividades que te conectam com algo importante, como por exemplo a música, que te faça lembrar de momentos bons que já foram vividos e assim trazer uma conexão ao coração", finaliza.