Quando a gente pensa em energia nuclear, logo vem à mente as usinas, os acidentes, a bomba, mas depois de um papo com a jovem engenheira nuclear Alice Cunha essa imagem se desfaz. Morando em Madri, Alice atua pelo uso da energia nuclear como fonte alternativa e viável para comunidades que sofrem os efeitos dos danos climáticos. Ela participou da COP 26 e da COP 27, sempre militando a favor da energia nuclear. Mas como ela chegou tão longe?
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"Desde pequena tive gosto por matérias de exatas, no ensino médio fiz técnico em informática, e arrumei um estágio em uma empresa do setor nuclear. Precisava ir para Angra, para ver os computadores, mass ficava curiosa. Nunca tinha ouvido falar em nuclear antes. Quando comecei a me preparar para o vestibular de engenharia, apliquei para UFRJ, e eles tinham acabado de lançar a graduação em 2010. Sou da segunda turma de engenheiros nucleares da universidade e desde o início do curso fui descobrindo aplicações da nuclear e é uma opção de energia renovável", conta.
A desmistifficação do uso bélico da tecnologia não é de hoje. Alice conta que desde a década de 50 já havia o movimento Átomos para Paz, uma corrida para o uso da tecnologia para fins pacíficos. Na Constituição brasileira está estipulado que o país só pode usar a tecnologia para fins pacíficos.
E o uso para fins pacíficos, pesquisa e tecnologia são inúmeros, como a esterilização de materiais médicos, por exemplo. Mas convencer o público e os governos a usarem a energia nuclear ainda é processo lento. "É preciso muito diálogo, pois há um desconhecimento. Existe o Projeto Reator Multipropósito Brasileiro, é um reator para radiofármacos, para tratamento e detecção de câncer, por exemplo", diz Alice.
Alice nunca se intimidou por estar em uma área predominantemente masculina. Lembra que, na faculdade, dos 25 alunos da turma, 3 eram meninas, e todas concluíram. na turma, todas concluíram. Estão no setor. Trabalhei em diversas áreas. Ainda estudante, ela conseguiu uma vaga em um laboratório de pesquisas, e teve a oportunidade, pelo programa Ciências sem Fronteiras, de fazer um intercâmbio em uma universidade americana. "Para quem tinha um background como o meu, minha família jamais teria como bancar isso, foi uma oportunidade incrível", celebra.
Como engenheira nuclear, foi transferida e está na Espanha há sete meses. Reconhece que o país tem políticas de gênero mais igualitárias, mas o setor nuclear ainda é setor masculino. Ela conta que participou da coordenação da Conferência internacional do Atlantico, realizada no Rio de Janeiro, e todas as lideranças eram homens. Por isso enxerga sua posição como modelo para inclusão, visibilidade e diversidade. "Diversidade é convidar para a festa, inclusão é poder dançar", diz Alice.
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Ela sabe que sua posição é de uma responsabilidade muito grande. "É também um privilégio, olha de onde eu vim, da minha realidade familiar, minha mãe tinha medo, dizia que aqueles sonhos não eram para mim. Consegui apesar dos problemas, ainda tenho escada para subir, mas sinto que posso motivar, abrir portas, sinto uma responsabilidade, como eu posso ajudar a melhorar esse caminho." Alice também confessa que às vezes dá medo de perder o que conquistou, mas prefere continuar avançando.