A psicanalista Ana Tomazelli argumenta como o machismo repudia tudo que é minimamente feminino.
Pexels/ Yan Krukov
A psicanalista Ana Tomazelli argumenta como o machismo repudia tudo que é minimamente feminino.


O mais recente estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos do Feminino, chamado "Ihhhhh, tá de TPM, né?", revela que 74,8% das mulheres no mercado de trabalho já foram vítimas de machismo por meio da banalização da TPM. Segundo o artigo, a argumentação serve para descredibilizar a competência profissional feminina e transformar as mulheres em seres sem autocontrole emocional.   

De acordo com a psicanalista e idealizadora do IPEFEM, Ana Tomazelli, o mito das mulheres incontroláveis permeia desde a Idade Média e teve o seu ápice no século  XIX, em que, teorias como a “histeria feminina” ganharam força por toda a comunidade cientifica ocidental.

“O mito das mulheres descontroladas, que ganha força a partir da Idade Média, tem seu ápice no fim do século XIX, quando Freud atribui ao útero a causa de alguns sintomas e desenvolve a tese das mulheres histéricas, que ganha força no século XX com peças publicitárias, filmes, novelas e livros. Agora, é só juntar o quebra-cabeça: no ambiente de trabalho, esse mito afeta diretamente a reputação das mulheres e coloca em risco a confiança em seu trabalho, já que, supostamente, elas são dominadas por uma força incontrolável capaz de alterar sua capacidade de discernimento e bom-senso uma vez por mês, com o ciclo menstrual. São vistas como suscetíveis a erros, a reações desproporcionais e acessos de raiva, o que poderia comprometer os resultados, a produtividade e a imagem perante um cliente, por exemplo. É o que eles dizem”, diz a pesquisadora. 

A TPM consegue fazer a mulher perder o autocontrole e o poder de julgamento? 

A profissional da saúde Bruna Conde explica que não é bem assim. Entre os sintomas da tensão pré-menstrual, TPM, que podem ser tanto físicos, como cólicas no útero, dores nas costas e na cabeça, como psicológicos, a TPM pode intensificar problemas pré-existentes, como ansiedade, estresse e depressão. 

“A TPM provoca uma queda e desordem de hormônios muito brusca que gera alterações psicológicas muitas vezes bem fortes. Ainda mais se a mulher já apresenta casos de estresse, ansiedade ou depressão, no período da TPM pode se intensificar”, esclarece a profissional. 

Banalização da TPM 

Apesar de a tensão pré-menstrual realmente poder causar uma intensificação em sensações, como estresse e cansaço, o artigo demonstra como dentro do ambiente de trabalho, a TPM é usada de forma banalizada e para constranger e descredibilizar as mulheres. 

“Principalmente com as piadas de mau gosto, que insistem em relacionar uma resposta mais assertiva com ‘exagero’ ou ‘destempero’. Ou uma resposta mais emotiva, com ‘extrema sensibilidade’ ou ‘descontrole’. Um exercício muito interessante é imaginar sempre o contrário binário do gênero: um homem sendo firme te causa estranhamento? Um homem te dando ordens te soa fora de contexto? Provavelmente, não”, fala Tomazell.

A psicanalista ainda argumenta como o machismo tenta sempre inferiorizar tudo que é meramente relacionado ao corpo feminino e que muitas vezes o “descontrole” está mais ligado a problemas que a pessoa já possui e que não têm ligação com a competência profissional.

“O que está em jogo, aqui, são os sentimentos, mais do que a menstruação em si. Ela é um símbolo, um veículo, quase um território onde os sentimentos, em teoria, ficam ‘descontrolados’, o que é de um absurdo sem tamanho. Sentimentos todos temos e o destempero ou o descontrole está muito mais relacionado ao histórico de vida da pessoa, às narrativas em que ela se encontra e às respostas emocionais que ela aprendeu quando criança do que qualquer outra coisa. Um período de sensibilidade emocional para pessoas que têm útero deve ser de acolhimento e não crítica. Pois, nada têm a ver com performance profissional”, conclui a psicanalista.

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