Mulheres que foram vítimas de assédio sexual de Marcius Melhem se solidarizam com vítimas do ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães
Reprodução/montagem
Mulheres que foram vítimas de assédio sexual de Marcius Melhem se solidarizam com vítimas do ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães

Dez mulheres envolvidas nos casos de assédio sexual cometidos pelo ator e ex-diretor da Globo Marcius Melhem se solidarizaram em carta aberta às vítimas de Pedro Guimarães, o agora ex-presidente da Caixa Econômica Federal . As denúncias pelo mesmo crime foram divulgadas na última semana e Guimarães pediu demissão na última quarta-feira (29). Os casos envolvendo Marcius Melhem ganharam repercussão em agosto de 2021 , depois que a humorista Dani Calabresa expôs situações de assédio cometidas pelo ex-diretor.

Na carta, as vítimas demonstram respeito pela coragem das mulheres que realizaram as denúncias e expuseram o caso e citam a importância de "revelar a verdade e denunciar o poder", ação que pode proteger outras mulheres.

"Nós não sabemos seus nomes, mas conhecemos e respeitamos a sua coragem. Sabemos como foi difícil passar por tudo o que vocês passaram. Os assédios, as pressões, as ameaças. E a força que foi necessária para romper o silêncio e fazer as denúncias. Conhecemos os desafios que aparecem ao enfrentarmos um homem em posição de poder, que usa a sua força e o seu cargo para constranger e calar as pessoas. Mas vocês falaram. Vocês foram às autoridades, contaram suas histórias, mostraram sua verdade. O medo de falar é enorme, sabemos. Mas a coragem para romper o silêncio é maior ainda", começa a carta.

"Estamos aqui para, metaforicamente, segurar suas mãos e reforçar seu movimento: não se calem, não cedam, não esmoreçam. Vocês não estão sozinhas. Queremos, num abraço por escrito, tentar apaziguar a dor de tudo que vocês vêm vivendo, pois sabemos exatamente o que vocês sentem. Cada uma de nós sente a dor de cada uma de vocês. E sabemos, não somos poucas", continua.

As vítimas de Melhem apontam ainda a dificuldade de realizar essas denúncias, já que o assédio pode vir "disfarçado como piadas, falsa amizade, como a insistência que precisa ser tolerada, sem que possamos reclamar". As mulheres afirmam ainda que o caminho que as denunciantes de Guimarães devem seguir nos próximos meses será árduo.

"O sentimento principal talvez seja o medo. Medo da retaliação do poderoso denunciado, medo pelo futuro de nossas carreiras, medo de que nossa reputação seja posta em jogo, simplesmente porque fizemos o que era correto. O único fio que temos para nos segurar é a certeza de que essa era nossa única opção. Não podíamos suportar mais", afirma o grupo.

Na carta, as mulheres também apontam o comportamento de homens em posições de chefia para tentar sabotar os relatos e minimizar as acusações. "Nos desqualificam como forma de se defenderem, como se houvesse uma justificativa legítima para o assédio. Sabemos que não há. 'Foi ela quem pediu'. 'Era só uma brincadeira'. 'Veja as roupas que ela usava'. Ou, 'dei em cima, mas não foi assédio'. Como se a culpa fosse das mulheres. Mas não é".

O grupo que denunciou Melhem continua: "Ou então, a velha pergunta: 'por que não denunciaram antes?'. Como se fosse fácil. O assédio, por definição, é um exercício de poder. Assediadores são poderosos. Têm em suas mãos empregos, carreiras, famílias. O ato de denunciar, seja quando acontecer, é um ato de extrema coragem. Vocês foram bravas".

"A culpa não é de vocês, como não era nossa. A culpa é de quem assedia. E das pessoas que sabem e ainda assim protegem os assediadores".

As vítimas denunciantes de Melhem finalizam ao afirmar que, agora, elas e as funcionárias assediadas por Guimarães da Caixa têm agora "um laço inquebrável". "É por causa de mulheres como vocês que nós seguimos lutando. Daremos forças umas para as outras e não pararemos até que todas as histórias sejam contadas. Acreditamos que a inspiradora fibra que vocês demonstram, bem como a nossa, é o material com o qual se construirá um futuro mais promissor. Um futuro em que todas as mulheres possam trabalhar sem serem assediadas", finalizam.

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