Desde que o Talibã invadiu o Afeganistão e tomou a cidade de Cabul este domingo (15)
é crescente a preocupação com os direitos das mulheres
. A ativista política Malala Yousafzai, baleada na cabeça pelo grupo extremista em 2013, já manifestou sua apreensão com as minorias políticas em suas redes sociais
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A professora Fabiola Oliver é muçulmana e fala em suas redes sociais sobre o Islã em uma perspectiva feminina, explica que é preciso ir para além da burca. "Violação de direitos não é colocar burca. Por exemplo, essa imagem que está rodando da jornalista da CNN. Parem de comparar essa mulher porque ela não vai sofrer nenhuma represália, porque ela não pode chamar isso de burca e ponto. É um olhar muito raso. Precisa de uma reflexão profunda e longa porque não é de hoje."
A imagem que ganhou as redes sociais mostra a jornalista usando uma abaya, vestimenta totalmente preta usada em países árabes. Inclusive, Clarissa Ward fala que a imagem dela que está circulando foi tirada de contexto. Fabiola explica que existe uma síndrome da vestimenta quando se fala em pessoas muçulmanas, pois muitos ainda enxergam o uso do véu (hijab), abaya ou burca como algo compulsório, enquanto nem sempre é assim - o que não é o caso do Talibã. Ela explica que isso impede que as pessoas enxerguem direitos que estão sendo tirados de mulheres e meninas há mais tempo, em outras partes do Oriente, como educação e acesso à saúde.
"Quando existe uma dominação do governo político, sobra primeiro para as mulheres e meninas e a primeira coisa que realmente tiram é a educação. As mulheres que não pensem, não estudem e não façam. Esse medo da gente sempre ter que voltar para o patriarcado porque é ele que faz isso com a gente: Esse medo das mulheres em mostrar a potência delas. É algo que ameaça o patriarcado, ameaça esse controle dominador e é o sistema que nos oprime".
Em outras palavras, é necessário diferenciar os preceitos da religião muçulmana das imposições pelo Talibã, que é um grupo político extremista. Essas medidas são impostas por um governo autoritário sobre a população que vive em território afegão e não estão relacionadas com a religião e sim com política que se vale da retórica religiosa para governar. A lista foi publicada pela RAWA (Revolutionary Association of the Women of Afghanistan - Associação Revolucionárias das Mulheres do Afeganistão).
1) Completa proibição do trabalho feminino fora de suas casas. Apenas algumas enfermeiras e médicas terão permissão para trabalhar em alguns hospitais em Cabul.
2) Completa proibição de qualquer tipo de atividade das mulheres fora de casa a não ser que seja acompanhada do seu mahram (parentesco próximo masculino como pai, irmão ou marido).
3) Proibição das mulheres de fechar acordos com comerciantes masculinos.
4) Proibição às mulheres de serem tratadas por médicos masculinos. Sistema de fio.
5) Proibição às mulheres de estudar em escolas, universidades ou qualquer outra instituição educativa.
6) Requerimento para as mulheres para levar burca que as cobre da cabeça aos pés.
7) Açoites, surras e abusos verbais contra mulheres que não vistam condizente com as regras Talibã ou contra as mulheres que não forem acompanhadas pelo seu mahram (marido e guardião).
8) Chicotes em público contra as mulheres que não escondem seus tornozelos.
9) Lapidação (apedrejamento) pública das mulheres acusadas de manter relações sexuais fora do casamento.
10) Proibição do uso de cosméticos, sob pena de amputação dos dedos
11) Proibição de falar ou apertas as mãos de homens que não sejam mahram.
12) Proibição de rir alto ou cantar (nenhum homem estranho deve ouvir a voz de uma mulher).
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13) As mulheres são proibidas de usar sapatos de salto alto pois podem produzir som alto ao andar (nenhum homem deve ouvir os passos de uma mulher).
14) Proibição de andar de táxi sem seu mahram.
15) Proibição das mulheres de terem presença na rádio, televisão ou reuniões públicas de qualquer tipo.
16) Proibição de praticar esportes ou entrar em qualquer centro ou clube esportivo.
17) Proibição de mulheres de andar de bicicleta ou motocicletas.
18) Proibição às mulheres de levar vestuários de cores vistosas. Em termos dos talibãs, trata-se de "cores sexualmente atraentes".
19) Proibição às mulheres de se reunirem por ocasião de festividades como o "Eids", com propósitos recreativos.
20) Proibição de mulheres de lavar roupas nos rios ou praças públicas.
21) Alteração de toda nomenclatura de ruas e praças que incluam a palavra "mulher". Por exemplo, o "Jardim das Mulheres" é agora chamado de "Jardim da Primavera".
22) Proibição de espreitar as varandas de seus pisos ou casas.
23) Opacidade obrigatória de todas as janelas para que as mulheres não possam ser vistas de fora de suas casas.
24) Proibição de alfaiates de tomar medidas às mulheres e costurar roupas femininas.
25) As mulheres são proibidas de usar banheiros públicos.
26) Proibição às mulheres de viajar no mesmo ônibus que os homens. Os ônibus estão divididos ou "só para homens" ou "só para mulheres".
27) Proibição de usar calças boca de sino, mesmo sob a burca.
28) Proibição de fotografar ou filmar mulheres. Elas não podem aparecer em fotos e vídeos. Elas não existem.
29) Proibição de postar imagens de mulheres impressas em revistas e livros, ou penduradas nas muralhas de casas e lojas.
Outras proibições
Estas proibições não são exclusivamente às mulheres, mas são regras que devem ser seguidas por todas as pessoas submetidas ao regime Talibã. Dentre elas estão: não ouvir músicas; não assistir filmes, televisão e vídeos; não celebrar o tradicional ano novo em 21 de março; desautoriza o Dia Internacional do Trabalho; toda juventude deve raspar os pelos; homens em idade adulta devem usar idumentária islâmica, turbante e ter barba comprida; ida à mesquita para orações cinco vezes ao dia; entre outras.