No Twiter, mulheres relatam suas experiências em relacionamento abusivo e mostram que isso ocorre de diferentes maneiras
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No Twiter, mulheres relatam suas experiências em relacionamento abusivo e mostram que isso ocorre de diferentes maneiras



 Idas e vindas entre casais não são apenas roteiros de filmes, novelas e seriados. Especialistas revelam que muitas mulheres acabam tendo recaídas e retornam para relações abusivas mesmo após terem conseguido dar um basta. “Muitas mulheres vivem com fortes sentimentos de abandono, desestrutura familiar, medo e culpa que as fazem permanecer ou a retornar a um relacionamento”, aponta a psicóloga Gabriela Couto.

Para as Psicólogas Marcia Gomes e Luana Mota, quando a mulher retorna para um relacionamento abusivo, usa-se a expressão de abstinência, comparado a falta de uma substância química, que é um mecanismo cerebral que dão falsas sensações de "bem estar”. “O relacionamento abusivo não é ruim todo o tempo e são essas memórias que fazem a mulher ter a esperança de que aquele homem vá mudar”, apontam as especialistas.

Estela Mendes (30) já foi vítima de uma relação abusiva com inúmeras traições amorosas e mentiras por parte do namorado, episódios pelo qual a fez finalizar e retornar diversas vezes à relação. Ela conta que o principal motivo que a fazia retornar em sua relação abusiva era a esperança que o parceiro poderia mudar.

 “Eu alimentava a crença que ele poderia mudar por conta dos fortes sentimentos que eu sentia por ele. Acreditava que o sentimento seria o suficiente para fazê-lo mudar, infelizmente, é algo muito desgastante’, desabafa.  

Levando em conta que muitos são os fatores que levam as recaídas para relações abusivas, vejam os principais motivos, logo abaixo, como estrutura familiar, mito do amor romântico e a questão financeira. 

Estrutura familiar

Especialistas apontam que a estrutura ou a realidade familiar das mulheres influenciam na forma em como as mulheres se relacionam e o que elas acabam aceitando dentro desta relação. Para a Psicóloga Gabriela Couto um dos motivos que as levam a retornar a uma relação abusiva são as experiências que elas presenciaram com os pais.  “Os pais são nossos primeiros modelos e muitas vezes essas mulheres presenciam desde cedo agressões dos pais às suas mães”, comenta.

“Portanto, elas crescem achando que isso é natural, sinônimo de amor, ou muitas vezes são agredidas fisicamente pelos pais e acabam aceitando uma relação abusiva e violenta”, continua a especialista. 

Além disso, para Couto, a forma com que os pais conduziram a criação dessa criança (esse pais foram suficientemente bons? Conseguiram suprir as necessidades da nossa primeira infância?) influenciam nas recaídas para relações abusivas das mulheres. 

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Estela Mendes, que já caiu nessa cilada, relembra que a ausência do pai durante toda a sua vida a impulsionou a buscar em homens o apoio emocional masculino que nunca teve. “Todas as minhas amigas tinham pais, nas escolas o tempo todo era relembrado o quanto ter uma figura paterna era importante e natural... Eu sentia um vazio, acabei mais tarde depositando em homens esta ausência”, relembra. 

Dependência emocional e financeira

É um consenso entre as especialistas que a crença de um amor incondicional que aceita e suporta tudo é uma das grandes consequências por levar mulheres a depositar esperanças em relações falidas e tóxicas. 

Nesta realidade, já que o amor romântico é o foco, ficar sozinha também é dado como negativo, fazendo com elas busquem a qualquer custo estar dentro de um relacionamento, independente de ser saudável ou não. “Culturalmente somos ensinadas a termos como objetivos a busca por um relacionamento, o que faz com que nos sujeitemos a situações pouco saudáveis, por acreditar ser necessário nos sacrificar para manter aquele “amor”, apontam as especialistas Márcia e Luana. 


Segundo Couto, muitas mulheres antigamente eram dependentes financeiramente dos seus maridos, se saíssem de casa perdiam a casa, a guarda dos filhos. E hoje muitas trabalham, mas possuem dependência do vínculo emocional.  No entanto, conforme Estela, a dependência financeira ainda é um fator para que mulheres voltem atrás e suportem serem maltratadas.

Além disso, a manipulação da personalidade do parceiro é um fator relevante, de acordo com Gomes e Mota, pois muitas vezes o parceiro não é violento o tempo todo, mas também se mostra gentil e sensível; o parceiro se mostra arrependido e a vítima fica com pena; o parceiro diz que vai procurar tratamento e a vítima cria esperanças de que ele vá mudar.

Uma rede de apoio

Para Gomes e Mota um relacionamento abusivo não acaba quando termina, sendo necessário uma rede de apoio (terapia, amigos, família) para que essas recaídas não levem ao retorno dessa relação.

“A mulher nessa relação é constantemente menosprezada, humilhada, fazendo a questionar sobre a si mesmo, trazendo para si crenças de inferioridade, ansiedade e o famoso "não vou encontrar mais ninguém" e "ele é assim porque me ama", o abuso psicológico as fazem desacreditar de si mesmas e acreditarem no que este homem fala, levando-as de volta para esse relacionamento”, apontam. 

Além disso, elas finalizam apontando a importância do autoconhecimento no enfrentamento às recaídas ou estabelecimento de relações abusivas. “Entender o que queremos e o que não queremos numa relação, quais os nossos desejos e limites, o que estamos dispostas a aceitar. Elevar sua autoestima, autocuidado, entender suas vulnerabilidades, não se deixar levar pelas carências, que é normal e todos nós temos. Invistam no autoconhecimento”, finalizam. 


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