Como cantava Roxette em "It Must Have Been Love", deve ter sido amor, mas agora acabou... Você conhece uma pessoa legal, trocam algumas mensagens
, o interesse cresce.... e, do nada, ela some. A prática do ghosting afeta jovens e muitos adultos. O termo se tornou comum para se referir a quem deixa a paquera sem respostas após rolar um interesse ou depois das duas partes já terem se relacionado
.
A expressão ghosting vem da palavra em inglês “ghost”, que significa fantasma e ocorre principalmente quando uma das partes perde o interesse e desaparece, sem dar a menor satisfação. A administradora Sabrina Rocha*, de 22 anos, conta que já sumiu de algumas conversas e o motivo dependia muito de quem era o contato.
“Tinha casos que eu pegava ranço/preguiça, mas sempre tive essa coisa que não saber falar não depois de já ter ficado com a pessoa. Então, eu só sumia ou dava umas respostas em aberto e não continuava os papos”, diz.
Ela explica que quando percebia que a pessoa era legal, até respondia, mas deixava o papo em aberto. Quando era alguém com um histórico ruim, ela não se importava. "Quando o cara me irritava e eu sabia que era um boy que não valia muita coisa, eu sumia mesmo. É péssimo quando é com a gente, não me orgulho de ter feito. Sempre no fundinho quando você dá o gosthing, você sabe que pode voltar atrás quando quiser, porquê nunca falou nada de fato negativo pra ficar com a pessoa".
É muito difícil não sofrer com o desinteresse e o ghosting em tempos de aplicativos de namoro, como conta a jornalista Bianca Soletti, de 20 anos: “Às vezes o seu match não tá na mesma vibe que você, quer ter uma conversa de um tom diferente. Se você dá uma cortada ou tenta desviar o assunto, acabou ali o "encanto" para eles”, diz.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS?
Para quem pratica o ghosting, pode até parecer uma forma mais rápida e tranquila de terminar um relacionamento ou um bate-papo, mas é também insensível com a outra parte.Bianca Liberati, psicóloga e terapeuta integrativa, diz que o ghosting acontece por causa de desinteresse, jogo de sedução e ego inflado.
A psicóloga clínica Triana Portal diz que essas pessoas, para evitar aborrecimentos, acham no sumiço a solução mais fácil. "Em outros casos, podem ser pessoas bastante inseguras que têm medo de relacionamento, medo de sofrer, de ser deixadas e preferem dar um basta antes que o outro termine com ela, como autoproteção", explica.
Você viu?
Com o isolamento social, o aumento de contato pela internet se tornou ainda maior. Flertes, brincadeiras e até comunidades de anúncio para relacionamentos no Facebook foram criadas. Portal diz que com essa movimentação nas redes sociais e a quarentena, o número de casos do ghosting vêm aumentando. Para a especialista, os ambientes virtuais facilitam muito o sumiço inesperado.
“Certo é que é ainda mais difícil lidar com o abandono e se recuperar dele em um período de isolamento social, considerando que todas as pessoas estão mais fragilizadas e sob diversos estressores durante a pandemia. Além disso, com atividades restritas, confinamento, relações sociais mais restritas, o foco no par aumenta, tendendo a maior apaixonamento, pelo tempo e energia investimento na relação. Ou seja, se sentindo mais junto do que nunca, o golpe é maior e a rede de apoio menor”, diz a profissional.
COMO LIDAR COM O GHOSTING?
O sumiço repentino não é apenas um sumiço. Ele pode causar abalos na autoestima de quem o recebe. Bianca Soletti diz que todas às vezes que isso aconteceu, o mal-estar era imediato e os pensamentos como "por que será? será que não sou bonita o suficiente? será que não sou interessante? será que meu papo é tão chato assim" sempre acabam aparecendo, fazendo a autoestima despencar.
"Quando responde de vez em nunca é ainda pior, porque você pensa ‘ele viu as mensagens anteriores, só não quis responder mesmo’. Definitivamente é uma sensação ruim. Sem falar na vergonha que dá, a famosa vontade de enfiar a cabeça na terra e fingir que nada aconteceu!", completa.
Lidar com a insegurança gerada pelo ghosting exige paciência e apoio dos amigos. Portal ressalta a importância de se distrair, desabafar e caso precise, procurar um psicólogo. "Lidar com o ghosting requer paciência, lidar com algo que não teve um término justificado dificulta o processo de luto, não fique sozinho, peça ajuda sentir que está difícil demais", encerra.
A coach Andrea Deis diz que o risco de levar ou aplicar o ghosting em alguém é menor quanto mais as pessoas falam sobre suas relações, alinhadando suas expectativas e necessidades. Por isso não tenha medo de perguntar e de falar.
"Não deixe isso somar ao longo do relacionamento. Quanto mais você falar ao longo da relação, sejam elas pessoais ou profissionais, menos chances de chegar a essa decisão extrema. Ela pode até acontecer, mas não de uma forma tão danosa que gere uma exaustão emocional, uma tristeza profunda e uma queda de elos", diz.