"Foi em casa que eu consegui compreender a importância de amar e me orgulhar das minhas raízes", declara a estilista índigena Dayana Molina. Ao iG Delas , ela recordou a influência da bisavó Caetana em sua trajetória profissional. Caetana aprendeu a costurar sozinha e, através da costura, conseguiu criar 12 filhos no sertão de Pernambuco. "Ela sempre foi uma inspiração de força, de coragem, de empoderamento", disse Dayana.
É por causa da bisavó que a costura sempre esteve presente em sua vida. "Eu não lembro quando aprendi a costurar, porque eu aprendi muito cedo. A costura era uma coisa tão essencial na minha vida que ela tinha esse lugar afetuoso. Eu lembro de ficar no pé da máquina ouvindo minha avó contar essas histórias", relembrou ela.
Mesmo assim, nem sempre trabalhar com moda esteve nos planos da estilista. Quis o destino que ela fosse cursar Ciências Sociais na faculdade. "E aí essa coisa da moda se conecta de novo comigo e eu vou parar em um ateliê de figurino para me manter na universidade. Eu não tinha pretensão de fazer isso novamente, mas eu fui parar lá. E eu falo que isso não foi o acaso, era para ser".
Estilista, diretora criativa e ativista
Hoje, Dayana Molino é diretora criativa da sua própria marca: a Nalimo, composta 100% por mulheres. Ela diz que, como estilista indígena, concentra seus esforços em quebrar estereótipos através da moda: "[Devemos] Olhar para a moda como uma ferramenta social para que a gente possa conscientizar, educar as pessoas. Porque a moda, por muito tempo, foi colocada num lugar fútil, vazio, efêmero e, hoje, eu percebo que a gente pode usá-la de uma forma inteligente para conduzir as pessoas a um novo pensamento".
Mas antes mesmo antes da moda, o ativismo já corria nas veias de Dayana, justamente por ser uma mulher indígena. "O nosso corpo é um corpo político, é um corpo território. Eu posso estar em qualquer lugar, e as pessoas vão olhar para mim e entender que os meus traços não revelam os traços de uma mulher branca. Eu tenho olhos, nariz, boca, cabelo que vão remeter à minha ancestralidade. Isso vai muito além do nosso tom de pele, está na nossa cultura, na nossa relação com o que a gente é", afirmou a estilista.
"Quando a gente nasce nesse corpo território, a gente não escolhe ser ativista, a gente nasce ativista, pela necessidade de viver uma luta que é histórica e que a gente vive diariamente, seja na moda, na arte, na música, no cinema, em qualquer espaço em que a gente estiver. Então, antes mesmo de eu escolher ser estilista e trabalhar com moda, eu precisei ter um processo de autoaceitação de quem eu sou e de lutar por uma igualdade racial e social".
Coleção com a Piccadilly
Dayana Molina foi a grande vencedora do reality show Encoraja PICCADILLY - uma parceria da marca de calçados com a TV Globo. O desfecho foi uma colaboração que resultou em cinco calçados: três papetes e dois tênis, com estampa exclusiva desenhada por Dayana. O lançamento foi marcado por uma celebração especial no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
O projeto Encoraja PICCADILLY nasceu em 2022, com o objetivo de impulsionar o trabalho de artistas mulheres e dar visibilidade a elas através de collabs com a marca. Sobre a coleção, a estilista contou que buscou imprimir nas peças a própria identidade, com elementos bastante ligados às suas raízes e que refletissem um hábito de consumo mais consciente e sustentável.
"Eu queria peças que fossem atemporais, que fossem além de uma tendência, por uma questão de durabilidade, de sustentabilidade. Às vezes, a gente compra coisas no ato da emoção, só por consumir, e não reflete que aquilo não tem a ver com a nossa autenticidade, com o nosso estilo. Eu acho que a minha relação com a minha origem já tem esse viés de ter um cuidado maior com a natureza, pensar um pouco mais sobre o nosso comportamento de consumo. Isso tem uma superinfluência no meu processo criativo".
Quer ficar por dentro das principais notícias do dia? Clique aqui e faça parte do nosso canal no WhatsApp