Bullying é um termo usado para descrever atos de violência, seja ela física ou psicológica, contra uma pessoa, normalmente uma criança. Nos últimos anos, muito se tem falado sobre o tema, mas, com a internet, os pais também precisam se preocupar com outra forma de violência: o cyberbullying.

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Quando o bullying vai para o universo da internet, o alcance de pessoas é muito maior, assim como os efeitos do problema
Pixabay
Quando o bullying vai para o universo da internet, o alcance de pessoas é muito maior, assim como os efeitos do problema

Enquanto o bullying é um ato presencial, quando vítima e agressor estão no mesmo ambiente, o cyberbullying se estende a um universo muito maior. Os casos de agressão deixam de ser físicos, mas não psicológicos, já que vão para a internet. O agressor pode expor a vítima utilizando fotos, por exemplo, ao compartilhar a imagem com outras pessoas.

Para combater o problema, alunos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criaram uma revista em quadrinhos que aponta os dez mandamentos contra o cyberbullying. Como base, eles usaram as histórias de alunos de escolas públicas paulistas que já sofreram com o bullying nas redes sociais .

A revista em quadrinhos “Segredos do Meta – a verdade por trás das redes” traz à tona os perigos decorrentes da prática a fim de gerar uma conscientização sobre os limites entre uma brincadeira e um ato de violência psicológica, além de criar um alerta sobre segurança na internet.

Mandamentos

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Unifesp/Reprodução

Último dos mandamentos é “não se torne um agressor”, já que até mesmo quem não fez o bullying pode reforçar o problema com apenas likes

Na revista em quadrinhos, além de uma história para explicar o que é o cyberbullying, os alunos da Unifesp também contam os “dez mandamentos” contra o problema. Entre as recomendações estão não responder quando estiver com raiva, guardar evidências de agressões, evitar compartilhar informações pessoais com desconhecidos, pedir ajuda a pessoas de confiança e bloquear o agressor, por exemplo. O último deles é “não se torne um agressor”.

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Segundo a médica psiquiatra da Unifesp Sara Bottino, que coordena o grupo, o projeto tem dado ênfase à figura do espectador. “É ele quem vai dar visibilidade para a vítima e para o agressor na forma de 'likes' e na forma de 'curtir'. Então temos trabalhado muito para que esse espectador, que não é vítima nem agressor, denuncie. Em vez de curtir, que fale 'isso não tem nada a ver, isso não é legal’.”

A coordenadora de uma das escolas em que o projeto foi implantado, Marli de Almeida, afirma que as situações de bullying na internet se refletem também dentro do ambiente escolar. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Armando de Arruda Pereira, onde trabalha, muitas brigas já ocorreram devido a agressões nas redes sociais e disseminação de notícias falsas, e até a polícia precisou ser chamada.

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“O que eles [grupo da Unifesp] fazem é despertar a conscientização sobre a responsabilidade que os alunos têm que ter quando escrevem qualquer coisa no Facebook, por exemplo, e mostrar que tudo isso tem um retorno. É um processo muito lento, mas acredito que a base eles estão tendo e, depois disso, tem que ser desenvolvido aos poucos. Esperamos que a sementinha tenha sido plantada. Depois, os professores e as famílias têm que fazer com que essa sementinha floresça e que essa responsabilidade e essa conscientização comece a aparecer no futuro”, diz a coordenadora.

Projeto

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Unifesp/Reprodução

História contada na revista em quadrinhos foi inspirada na vida real de alunos de escolas públicas de São Paulo que sofreram cyberbullying

Os estudantes de enfermagem e medicina foram coordenados por profissionais da universidade. Cada um deles realizou atividades com alunos de escolas públicas, a partir de 11 anos, sobre o cyberbullying. O projeto surgiu em 2013, quando Sara teve conhecimento do número de suicídios e tentativas de suicídio que estavam associadas a fenômenos de agressão nas redes sociais.  

No ano de 2017, cerca de 200 adolescentes participaram da ação. Entre as atividades do projeto realizadas com os alunos de escolas públicas estão rodas de conversa sobre as vantagens e desvantagens do uso das redes sociais e dicas de como os estudantes podem se proteger na rede.

“Percebemos que os adolescentes usam as redes sociais, mas não têm nenhum mecanismo de controle sobre o que eles postam, sobre as pessoas com as quais eles compartilham notícias pessoais e, às vezes, até informações sobre endereço e sobre o que fazem. Então temos um roteiro de discussão que começa a partir daí”, explica Sara.

Nas conversas, os estudantes também são levados a refletir sobre os riscos de uma aparente brincadeira entre colegas virar um problema grave. “Às vezes, eles começam com uma brincadeira na rede, que eles chamam de 'zoação', e muitas vezes não sabem o impacto que isso tem para quem está sendo 'zoado'. O limite entre o que é uma brincadeira e como esta pode ser vivenciada pela vítima pode ser muito diferente.”

Estudante de enfermagem da Unifesp e integrante do projeto, Victoria Nery ressalta que o objetivo das atividades é reduzir a violência nas redes sociais dos adolescentes em geral, não apenas daqueles que frequentam as escolas integrantes do projeto. Segundo ela, a publicação da revista em quadrinhos é um meio para que essa conscientização continue para além dos muros dessas escolas.

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O momento em que os adolescentes se encontram e falam sobre seus gostos, rotinas e preferências em diversas áreas é, com certeza, um dos mais importantes para o sucesso do projeto. “Mesmo sendo diferentes, eles percebem que têm coisas em comum. Eles concluem 'por que vou fazer bullying com essa pessoa, se tem um pouco de mim nela e um pouco dela em mim?'”, conta Victoria.

A estudante explica ainda que muitas pessoas não têm noção de que a rede não é um ambiente totalmente seguro. De acordo com Victoria, muitos internautas ainda ficam impressionados quando é falado no projeto que já houve vários casos de suicídio em decorrência do cyberbullying e que as pessoas param de frequentar a escola, entre outras consequências.

*Com informações da Agência Brasil

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