Elisa Volpatto aborda as reflexões que a delegada Anita Beringer, sua personagem em
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Elisa Volpatto aborda as reflexões que a delegada Anita Beringer, sua personagem em "Bom Dia, Verônica", levantam ao público da série

Elisa Volpatto retornou para a segunda temporada de “ Bom Dia, Verônica ” para dar vida à Anita Beringer, uma das antagonistas principais do seriado. Machista, arrogante e perigosa, a personagem retrata como algumas mulheres em posição de poder podem reproduzir o machismo em suas ações – e reflete sobre como a presença delas nos altos cargos não significa, necessariamente, uma mudança.

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A delegada Anita se mostrou uma personagem muito poderosa dentro do esquema de corrupção na polícia descoberto por Verônica Torres, protagonista interpretada por Tainá Müller. Mesmo assim, isso não foi o suficiente para blindá-la de uma série de violências reservadas às mulheres.

“Por mais que a Anita tivesse força na primeira temporada e ocupasse um lugar importante, ela estava debaixo do guarda-chuva de homens poderosos. Por isso, ela não tem vez. Enquanto as mulheres não estiverem ocupando os lugares de poder, a gente não vai mudar esse tipo de estrutura em que homens violentam e eliminam mulheres”.

Como exemplo dessa estrutura, Elisa exemplifica a maneira como o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) encara as mulheres em posições de poder. “Nosso presidente é uma figura que se mostrou misógina em diversas situações, que não tem respeito algum pelas mulheres. Uma mulher debaixo dessa chapa nunca vai ocupar um lugar importante ou de relevância. Ele nunca vai dar essa opção”, reflete a atriz.

Elisa emenda que mesmo as mulheres que fazem parte de altos cargos dentro do governo federal são descredibilizadas pelo chefe do Executivo. Ela se lembra, por exemplo, da maneira como Bolsonaro reagiu diante da fala da ministra Damares Alves na polêmica reunião ministerial de abril de 2020.

“O Bolsonaro ouviu cada um que estava ali, debateu e discutiu. No momento da Damares falar, ele começou a conversar com um homem ao lado dele, começaram umas conversas paralelas. Ela era a única mulher na sala. No governo Bolsonaro, não veremos uma mulher sendo ministra da Fazenda, da Educação ou da Saúde, por exemplo. Porque ele mesmo não dá importância a isso”, elucida.

A atriz traça esse paralelo também em relação à delegada Anita, em “Bom Dia, Verônica”, e a relação dela com Matias Carneiro (Reynaldo Giannecchini), o dito líder religioso que abusou sexualmente de diversas mulheres que é chave importante dentro do esquema de corrupção retratado no seriado da Netflix.

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As contradições do machismo nas mulheres

Feminista na vida real, Elisa conta que interpretar Anita deu à ela a chance de contar a história do ponto de vista de uma mulher que age a favor da estrutura patriarcal. Ela diz que precisou entrar em contato com o contexto obscuro da personagem para conseguir compreender os motivos pelos quais a personalidade dela é dessa forma – além de explicitar que nenhuma pessoa está livre de realizar atos que não se orgulham por determinadas situações.

“A Anita me trouxe a possibilidade de perceber que estamos tão mergulhadas nas estruturas patriarcais que, muitas vezes, a gente não se percebe sendo violentas como os homens. Às vezes, pensamos que é o modelo que a gente aprendeu. Por mais que as mulheres tenham avançado, somos um pouco capangas desse patriarcado. Se não estamos lutando, estamos, de alguma maneira, reproduzindo esses modelos”, pensa a atriz.

Complexa, Anita é uma personagem também repleta de traumas. Na infância, a personagem viveu em um falso orfanato, onde foi treinada para assumir um cargo na polícia e, assim, dar continuidade aos esquemas de corrupção da corporação na série.

Elisa reflete que esse ambiente e essa motivação podem ter sido determinantes para moldar essa identidade da personagem: “Ela foi uma mulher que foi forjada no ambiente da polícia, predestinada a ocupar aquele lugar como delegada. Não é à toa que ela age dessa maneira. Deve ser porque ela teve que usar dessas estratégias para poder se firmar nesse ambiente que é mesmo muito machista e muito povoado por homens. Não deve ter sido fácil para ela", analisa a atriz.

“Ao mesmo tempo que ela é absolutamente mal caráter, ela atravanca muitas coisas. A Anita é muito machista, e acho que o fascínio pela personagem existe por se tratar de uma mulher que está ocupando esse lugar de antagonista e também de delegada de polícia. Esse é um tipo de personagem que, por muitos anos, ficou nas mãos dos homens", continua a atriz.

O sucesso de “Bom Dia, Verônica”

Elisa Volpatto
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"Se não estamos lutando contra o patriarcado, estamos o reproduzindo", diz Elisa Volpatto

Desde a primeira temporada de "Bom Dia, Verônica", que foi lançada em outubro de 2020, a série tem conquistado um público fiel e alcançado diversos recordes. Quase um mês após a estreia da segunda temporada, em 3 de agosto deste ano, o seriado se mantém entre as atrações mais assistidas da Netflix.

Além disso, a série se tornou uma das séries de língua não inglesa mais assistidas no mundo, chegando ao top 10 mundial da plataforma de streaming. Até o momento, a série teve mais de 34 milhões de horas assistidas. "Essa série é uma felicidade para todos nós que fazemos parte dela. Ela praticamente anda sozinha. À medida que as pessoas iam assistindo, elas postavam e comentavam muito, desde a primeira temporada", comemora Elisa.

Além de ser uma série de entretenimento para quem adora uma boa trama policial, a atriz celebra a maneira como é possível evidenciar aos espectadores sobre outros temas importantes que merecem ser debatidos, em especial a violência de gênero.

"As duas temporadas abordam denúncias sociais importantes, principalmente a violência contra mulher, que precisa ser falada no Brasil e no mundo. O nosso país tem recordes de feminicídio e altas taxas de violência doméstica que, inclusive aumentaram muito na época da pandemia", começa Elisa.

"A gente está vivendo um momento em que as mulheres estão denunciando cada vez mais as violências sofridas, desde as mais sutis até as mais explícitas. Então, a gente fica muito feliz por poder participar de uma série que pega um público enorme que gosta do gênero policial e, de quebra, colocá-lo em contato com uma denúncia social da maior importância", acrescenta.

A atriz pensa ainda que as situações e abordagens da série mostram a necessidade de as mulheres permanecerem vigilantes com relação às ações do patriarcado. "Nós somos parte desse patriarcado. É importante que a gente esteja falando cada vez mais disso. Uma série como 'Bom Dia, Verônica' escancara essas estruturas ao grande público e mostra que elas não são um modelo ideal a ser seguido eternamente. O seriado mostra que temos voz, sim, e que precisamos falar das violências, dos assédios, dos abusos e denunciar".

O amor do público pela vilã

A atuação de Elisa, bem como a forma condenável como a delegada Anita atua para comprometer Verônica, a alçou a um posto muito querido no coração do público: a de personagem que se ama odiar, ou como a atriz define, de "minha malvada favorita" ou "minha vilã".

"Recebo muitas mensagens que dizem: 'Eu te odiei, você é uma grande escrota. Você é horrível com a Verônica, você é uma vaca'. E na sequência sempre vem um: 'Parabéns, você fez um ótimo trabalho'. Se você causa isso é porque realmente deu certo e compôs bem a personagem", conta.

O que causou curiosidade em Elisa foi o apelo que a personagem ganhou dentro da comunidade LGBTQIA+, especialmente na comunidade lésbica. Essa relação começou na primeira temporada, em uma cena que Verônica coloca Anita contra a parede. "Que pena que a gente nunca ia dar certo, né? Você tem um maridão, dois filhinhos lindos", responde a personagem com deboche.

"Essa cena pegou muito forte na comunidade lésbica. As meninas ficaram empolgadas com a cena, fizeram até fanfics", diz, em referência às histórias fictícias criadas por fãs que colocam as duas personagens em um relacionamento. "Até hoje recebo mensagens de gente que fala que queria que a Anitta mudasse de lado e ficasse com a Verônica. Tem sido curioso e engraçado ver a forma como ela reverberou dentro da comunidade LGBT", diz Elisa.

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