Muitas mulheres relatam que a dor é um dos principais medos em relação ao parto e que, inclusive, é um fator determinante para não tentarem o parto normal.
De acordo com Thalita Freitas, fisioterapeuta especialista em Saúde da Mulher, Obstetrícia e Fisiologia do Exercício pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), há muito tempo o parto normal vem sendo associado a sofrimento e complicações em filmes e novelas, mas a realidade é outra.
"A dor do parto faz parte da fisiologia do nascimento. Não existe parto normal sem dor, e o primeiro passo para lidar melhor com ela é perceber que sentir essa dor não é o mesmo que sofrer, pois ela não está ligada com uma patologia e sim, com a chegada do bebê", explica.
Para a especialista, também é preciso considerar que a dor sentida por cada mulher não está relacionada somente ao processo fisiológico, mas a vários fatores que podem influenciar em sua percepção.
"O medo, estresse, tensão, frio, fome, desamparo social e afetivo, e também o fato do desconhecido, de não saber o que está acontecendo naquele momento, influenciam na dor. Além disso, há também o aspecto fundamental do bom funcionamento dos hormônios do parto, pois o próprio corpo tem suas defesas para amenizar essa dor. A liberação desses hormônios ocorre de forma natural, mas é preciso dar ao corpo o contexto necessário para que eles sejam produzidos", diz a fisioterapeuta.
Principais dicas
- Informação: "Saber como é o processo do parto e o que é esperado acontecer em cada fase, saber de onde vem essa dor, para assim aceitá-la como parte do processo do nascimento, é importante", inicia a especialista.
"A dor vem da contração uterina e da pressão que o bebê faz na pelve da mãe, e cada contração é uma a menos para a chegada dele. Vale lembrar também que a dor não é contínua, ela vem como ondas e tem intervalos para a mulher poder descansar, e quando ela não for mais suportável, podemos entrar com os métodos farmacológicos como a analgesia", diz.
"Ter consciência do seu corpo e saber como ajudá-lo no alívio da dor também é fundamental. Tudo isso ajudará a gestante a ter confiança necessária para superar os medos e encarar o parto de forma positiva. Quanto mais segura a mulher se sentir, mais ela conseguirá aceitar e lidar melhor com a dor", conclui Thalita.
- Suporte físico e emocional: "Nesse quesito entram todas as pessoas envolvidas com a mulher durante a gestação e no parto. Quem vai dar esse suporte serão o pai ou acompanhante, a família, o obstetra e toda a equipe de parto, e profissionais que acompanham a mulher nessa fase. Logo já temos uma noção do quão importante é a escolha desses profissionais", sinaliza a fisioterapeuta.
- Ambiente favorável: "Uma das condições essenciais para que ocorra o conforto, e com isso, o alívio da dor, é criar uma atmosfera calma e livre de incômodos, proporcionando um ambiente favorável e acolhedor, com iluminação reduzida, controle da temperatura, acesso à água quente em chuveiro ou banheira e espaço para movimentação", orienta Thalita.
- Métodos não farmacológicos: "Estudos apontam que a posição vertical e a movimentação materna durante o trabalho de parto podem diminuir a dor na região lombar, facilitar a circulação materno-fetal, aumentar a intensidade das contrações uterinas diminuindo a duração do trabalho de parto, favorecer o encaixe e a descida do bebê, diminuindo também as taxas de trauma perineal e episiotomia [incisão no períneo — região entre o ânus e a vagina — para facilitar a passagem do bebê]", diz.
"Vários outros recursos podem ser utilizados como a água quente (chuveiro, banheira ou compressas), massagem, técnicas de respiração, cromoterapia, aromaterapia, acupuntura, uso do TENS (corrente elétrica aplicada a pele com finalidade analgésica), etc, ma o grande segredo está no apoio que a mãe irá receber e não somente em técnicas medicamentosas. Olhar para cada mulher de forma individualizada e respeitá-la é a chave para um parto com menor sensação de dor”, finaliza.