Tudo o que rolou no ‘Justiça para Todas Summit’, evento de Fayda Belo em SP
Kalel Adolfo
Tudo o que rolou no ‘Justiça para Todas Summit’, evento de Fayda Belo em SP

Mulheres ainda recebem 20% a menos que os homens no mesmo cargo e dois terços delas já sofreram algum tipo de assédio moral ou sexual no ambiente de trabalho . Ainda, 34% das mulheres precisaram tirar licença do trabalho por motivos de saúde mental . Esse cenário penoso foi pauta no 1º Justiça Para Todas Summit , evento idealizado pela advogada Fayda Belo que reuniu juristas, executivas, jornalistas e ativistas em 9 horas de programação dedicadas a discutir e combater a violência contra a mulher no mercado de trabalho.

O evento começou falando justamente sobre justiça – mais especificamente, sobre a perspectiva de gênero no sistema de justiça brasileiro, com um diálogo entre o ministro do STJ Rogério Schietti e a conselheira do CNJ Renata Gil, a primeira mulher a ocupar o posto de presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros.

Os dois juristas discutiram a implementação do Protocolo Perspectiva de Gênero, lançado em 2021, e como esse conjunto de diretrizes vem mudando a atuação dos magistrados perante as mulheres vítimas de violência, com mediação da jornalista Lia Rizzo, da revista Exame. Ainda, discutiram a presença feminina, ainda minoritária, em postos de liderança na justiça brasileira.

Participação da atriz Luiza Brunet

Mais tarde, um dos maiores destaques do evento foi o debate “O papel dos atores sociais no enfrentamento à violência de gênero”, composto pela atriz e ativista Luiza Brunet, a advogada e presidente do Instituto Liberta Luciana Temer, e a promotora de Justiça Silvia Chakian, que também é coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à violência contra a mulher do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Continua após a publicidade

Com mediação da jornalista Semayat Oliveira, o trio expôs dados alarmantes sobre as vítimas de estupro no Brasil e alertou para a importância de um bom diagnóstico da violência de gênero para embasar a implementação de políticas públicas de proteção às mulheres.

“Quando pensamos em vítimas de estupro, pensamos em mulheres, mas essa resposta não está totalmente correta. M ais de 65% dos registros de estupro de 2023 foram contra menores de 13 anos. 80% contra menores de 17 . Então as vítimas são mulheres, sim, mas são principalmente crianças e adolescentes”, falou Luciana Temer.

Luiza Brunet , por sua vez, compartilhou sua experiência como vítima da violência doméstica – em 2016, ela denunciou o então companheiro Lirio Parisotto por agressões físicas – e também do abuso sexual dentro de casa, na infância. “A gente precisa estar atenta o tempo inteiro para reconhecer uma violência e buscar justiça”, defendeu a atriz.

Equidade de gênero nas empresas também entrou em pauta

Também ocuparam o palco do Summit para debater equidade de gênero nas empresas a psicóloga e executiva Mafoane Odara, a executiva de Comunicação e Diversidade Helena Bertho, e a advogada Anne Willians, presidente do Instituto Nelson Willians.

Natália Falcón, gerente de comunicações de Segurança na Uber, e Marcia Silveira, head de diversidade, equidade e inclusão na L’Oréal no Brasil, se reuniram com a jornalista e editora-chefe da revista Bravo! Laís Franklin para dividir experiências e sugerir práticas que empresas podem adotar para gerar impactos significativos na vida dos usuários.

Elas debateram questões como a responsabilidade corporativa e mudanças internas e externas à empresa que podem acolher e resguardar grupos minoritários.

A importância da imprensa no combate à violência contra a mulher

O evento também discutiu o papel da imprensa no debate da igualdade de gênero e no combate à violência contra a mulher , com um time de jornalistas de peso: Cris Fibe, Renata Ceribelli, Aline Midlej, Débora Freitas e Petria Chaves .

Continua após a publicidade

Ainda houve espaço para reflexões acerca da liderança feminina na construção de um futuro de equidades, com a publicitária e executiva Raphaella Martins, a escritora e executiva Danielle Torres e a presidente do W20 e fundadora do Instituto Rede Mulher Empreendedora Ana Fontes.

Encerramento contou com entrevista de Fayda Belo

O Justiça Para Todas Summit encerrou com a apresentadora Cris Guterres entrevistando ao vivo a idealizadora do evento, a advogada Fayda Belo, autora do livro “Justiça para todas: o que toda mulher deve saber para garantir seus direitos”, publicado em 2023 pela Editora Telha.

Todo mundo fala sobre violência dentro de casa, que é muito importante, claro, mas a gente se esquece que a mulher passa mais tempo no trabalho do que em casa e que também é vítima de violência no ambiente corporativo . Além disso, quase 80% das mulheres que são violentadas em seus empregos não relatam o ocorrido por medo de não serem ouvidas ou terem suas carreiras prejudicadas”, disse a advogada, quando questionada sobre a importância dos temas discutidos ao longo do summit.

E completou: “A gente precisa falar sobre o direito da mulher de ter um emprego digno e sem violência, como alguém que está ali pra oferecer seu conhecimento e não como um corpo que pode ser usado ao bel prazer dos homens daquele ambiente”.

Continua após a publicidade

Fayda Belo também é membro do Conselho Nacional de Justiça e da Diretoria Nacional da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica, venceu o prêmio Sim À Igualdade Racial deste ano, como destaque em Influência e Representatividade Digital, e integra a lista do Brazil Charlab como uma das advogadas mais influentes do país.

O papel dos homens

“Se existe uma mulher sendo agredida, ela está sendo agredida por um homem”, lembrou a apresentadora do evento, Cris Guterres, antes de passar o microfone para três homens que comandaram uma mesa justamente sobre o papel deles no combate à violência de gênero nas empresas – o jornalista Luiz Gustavo Pacete, editor da Forbes, Rodrigo Pardal, doutor em Direito Penal, e Luciano Ramos, historiador e especialista em Masculinidades.

Para Luciano, a pior postura de homens em posição de liderança é a negação de que a discriminação existe na empresa e no mercado de trabalho. Segundo ele, quando se nega a violência, é impossível combatê-la.

Continua após a publicidade

“É preciso entender que não existe espaço neutro”, completou Rodrigo Pardal. “Se você se mantém neutro em um ambiente de opressão, está contribuindo para a manutenção do status quo”.

Fayda Belo, em sua fala no encerramento do evento, deixou claro que não deve existir “uma guerra de mulheres contra homens”, mas que é preciso falar sobre violência contra a mulher não apenas com mulheres, mas especialmente com os homens, que são parte importante do debate. “É o homem que está à frente das empresas, que tem a caneta na mão, então é com eles que precisamos falar”, finalizou.

Assine a newsletter de CLAUDIA

Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:

Continua após a publicidade

Acompanhe o nosso Whatsapp

Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp .

Acesse as notícias através de nosso app

Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android , você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante.

Publicidade

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!