Sabe aqueles pedaços de madeira que são deixados em caçambas ou então descartados na natureza de forma indevida? Nas mãos de Francisco Guetti, esses materiais, considerados inúteis por algumas pessoas, se transformam em delicadas casinhas para pássaros .
Executivo do terceiro setor que, na pandemia, fez do artesanato a sua principal fonte de renda, Guetti já produziu quase 200 modelos exclusivos de casinhas com sua criatividade excepcional. "Quando avisto uma obra ou encontro tábuas e ripas de madeira jogadas na mata, vou até lá e retiro tudo aquilo que é importante para meu trabalho. Nas madeireiras, também reaproveito o que viraria descarte", afirmou.
O projeto sustentável , criado por Guetti e a esposa, Juliana, é chamado Ninho de Pássaros e tem como intuito transformar "lixo" em obras de arte, de modo que essas pequenas estruturas enfeitem, mas também acolham pássaros e diminuam os impactos ambientais. Em apenas quatro meses, pelo menos 1,5 tonelada de madeira descartada foi reaproveitada para a criação das casinhas.
Curiosamente, a iniciativa nasceu da demanda de um comedouro para os pássaros que visitam sua própria casa, em Caieiras, todos os dias. "Há um ano, saímos do nosso apartamento em São Paulo para morar em uma casa na Serra da Cantareira. Todas as manhãs, enquanto tomávamos nosso café, ficávamos observando pela janela da cozinha os passarinhos buscando alimento nas árvores. Foi aí que tive a ideia de fazer um comedouro para pendurá-lo em uma dessas árvores", contou Francisco.
Juliana, lembra que "aquilo nos dava um prazer tão grande, que resolvemos fazer mais duas casinhas e presentear nossos novos vizinhos". E foi assim que tudo começou. "Outros moradores do condomínio e alguns amigos viram as postagens que fizemos dos comedouros nas redes sociais e começaram a fazer suas encomendas", diz ela.
Produzidas com material de poda, descarte de madeireira e de obras, flores e folhas secas, pó de serra, musgo e objetos em miniatura, as casinhas são um verdadeiro trabalho de artesanato. Segundo Francisco, cada casinha é única e exclusiva para cada pessoa, sendo decorada de acordo com o tema proposto pelo cliente e podendo variar "de flores a cavalos e de santos à bruxas". O artesão também destaca que referências como cores, profissões e hobbies são levadas em consideração para que obras personalizadas sejam criadas.
Esse foi o caso da advogada Daniela Ferrari, de Itu. Sua casinha foi desenhada pela própria filha, Alícia, de 6 anos. "Quando conhecemos o Ninho, ficamos encantadas com o trabalho. Pedi, então, para minha filha desenhar a casinha que ela tanto queria. Para nossa surpresa, ficou exatamente como ela desenhou", contou.
Recebidos especiais
Hoje, além da conta no Instagram, O Ninho de Pássaros ganhou representantes em Jaú, Mairiporã e Ubatuba. "Mas grande parte das encomendas vem de seguidores do Instagram que amam os pássaros e a natureza e ficam encantados com as casinhas e com o projeto sustentável", afirmou Francisco.
A chef de cozinha funcional Maria Waldeli de Oliveira Paes, de Jaú, é uma das clientes que conheceu o Ninho pela rede social. "A cada postagem do Ninho de Pássaros que eu via no Instagram, ficava cada vez mais apaixonada, com mais vontade de ter uma casinha dessas aqui, pendurada embaixo de uma árvore", confessou. Paes finaliza dizendo que o trabalho sustentável por trás de todo o artesanato é o ponto alto do Ninho: "reaproveitar madeiras para criar casinhas que alimentam os pássaros da natureza é sensacional".
No entanto, para o casal, que encontrou no Ninho uma saída para a crise causada pela COVID-19, a melhor parte do projeto está na entrega das casinhas. "A reação das pessoas é incrível. Elas realmente se emocionam com as obras e seus detalhes. Depois nos reportam, enviando mensagens, fotos e vídeos, o momento que começam a receber seus visitantes", declarou Juliana.
A campanha
Recentemente, Francisco e Juliana criaram uma campanha na qual a cada duas casinhas vendidas para uma única pessoa, a terceira é doada pelo Ninho para o condomínio ou residencial onde ela mora. "É uma maneira de revitalizar o ambiente onde [as pessoas] vivem e atrair cada vez mais pássaros para o local", explicou Juliana. De acordo com ela, o casal já implementou a campanha em dois condomínios da região de Caieiras.
O jornalista Tomas Fischer foi um dos impactados pela ação em Caieiras. Entretanto, ao invés de pendurar as duas casinhas adquiridas em sua residência, Fischer acabou optando por também doá-las ao condomínio. Agora, as três estão instaladas nas áreas comuns do residencial. "As casinhas atraem felicidade. Uma boa ideia que beneficia todo mundo", declarou o jornalista.