Você já ouviu falar em guarda-roupa cápsula? O conceito geral surgiu na década de 70, com a estilista Susie Faux, de Londres, que acreditava em um armário composto apenar de peças atemporais e versáteis para dar confiança às mulheres em todos os momentos. Desde então, essa ideia se popularizou e ganhou outra perspectiva: a de sustentabilidade.
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Essa conexão entre o guarda-roupa cápsula e a ideia de consumo sustentável aconteceu ainda na década de 70, quando o movimento hippie começou a questionar os valores econômicos pós-Segunda Guerra Mundial e iluminar questões consideradas mais essenciais para a liberdade, como é o caso de usar apenas o necessário — indo na contramão do "fast fashion".
Em 1985, a designer norte-americana Donna Karan chego a levar uma cápsula de sete peças básicas combinadas entre si para as passarelas, mas o conceito só voltou a ser pauta há alguns anos, quando se falou de minimalismo e, novamente, sobre consciência na hora de consumir.
A consultora de moda e estilo pessoal Natália Peric, que trabalha com a Metodologia da Cápsula, explica ao Delas que essa questão está tão em alta porque hoje há uma grande necessidade de sustentabilidade socioambiental. "Isso acontece não só no sentido de que não podemos mais destruir o planeta, mas também porque as pessoas voltaram a questionar muito os movimentos da moda tradicional, que é considerada por muitos uma moda fútil, superficial", diz.
A morte do modelo Tales Cotta durante desfile da grife Också na São Paulo Fashion Week e as denúncias de trabalho escravo em oficinas de costura de diversas marcas conhecidas são alguns dos acontecimentos recentes que trouxeram esse debate novamente ao holofote. A partir disso, passou a se refletir sobre a necessidade de continuar consumindo apesar das vidas afetadas e de questões ambientais para se ter "o look da moda ".
Por que o guarda-roupa cápsula é uma prática sustentável?
Segundo Natália, a técnica da cápsula é algo para se aplicar no dia a dia para um novo estilo de consumo consciente através da otimização do guarda-roupa. "É um armário mais conciso, mas enxuto e composto por peças mais clássicas, que fujam dos modismos", explica.
O que importa, nesse caso, não é escolher muitos itens, mas ter roupas, sapatos e acessórios de melhor qualidade e que vão durar por mais tempo. O truque é olhar o que você já tem para montar suas próprias "cápsulas de looks" e a reutilização é o que torna a ideia sustentável.
"A roupa que menos impacta no consumo é a que a gente já tem ou que já foram usadas. Quando você começa a buscar por peças de melhor qualidade, costuma encontrá-las no seu armário ou em brechós. Isso abre a possibilidade de usar peças que já foram produzidas, sem a necessidade de comprar novas", diz.
Porém, o elemento principal não é a roupa em si, mas a criatividade para multiplicá-la em mais de um look. "São poucos itens que geram muitos visuais difrentes e é assim que se reduz o consumo, porque você não precisa ficar comprando. Conseguir reinventar as peças já usadas supre o desejo e a necessidade de se ter coisas novas."
Você viu?
O guarda-roupa cápsula é um passo para a sustentabilidade na moda. Hoje em dia, já existem diversos movimentos que trabalham a questão do consumo consciente no Brasil, tanto ao passar conhecimento sobre temas, quanto ao incentivar a prática de troca de roupas que não são mais usadas, como é o caso do Fashion Revolution e do Projeto Gaveta.
Mas, afinal, como aderir ao guarda-roupa cápsula?
Fora do Brasil, o guarda-roupa cápsula ficou conhecido como uma técnica que te permite ter 37 peças e cápsulas que são trocadas de três em três meses, de acordo com a estação do ano. Entretanto, Natália afirma que não é preciso ser tão regrado assim e nem seguir exatamente o clima, já que em solo brasileiro isso não é tão bem delimitado.
Assim, os primeiros passos para seguir a metologia é começar olhando tudo que você já tem no seu guarda-roupa e usar isso para conhecer o seu estilo. "Você precisa saber como é o seu estilo de vida, a sua realidade e demandas concretas. Além disso, é importante conhecer seu corpo: tipo físico e o que se sente bem usando", indica.
Essa análise é feita antes mesmo de escolher as roupas que você quer manter no seu armário. "O problema de não conhecer seu estilo e querer só aplicar o método é que se você tira muitos itens para ficar com esse guarda-roupa mais conciso sem saber dessas questões e corre o risco de tirar peças que vai precisar depois."
Só depois, é hora de pensar em combinações diferentes, mas que ao mesmo tempo são fáceis. "A escolhas das peças é estratégica, então uma boa parte delas precisam ser mais básicas e atemporais, por um lado, e uma parte menor são as chamadas 'peças de estilo', que são mais diferenciadas, mas representam mais o estilo da pessoa", explica Natália.
Essas duas categorias de peças facilitam as combinações, já que você consegue usar os itens clássicos em diversos visuais sem perder de vista o que te deixa estilosa.
Então, você consegue montar pequenas "cápsulas de looks" com cerca de dez peças (seis roupas e quatro acessórios) que serão utilizados por algumas semanas, até você cansar.
Para Natália, dez cápsulas, sendo duas por estação, uma para festas e outra com moda praia e esportiva, conseguem ser suficientes para brincar de " ressignificar o olhar" , como ela mesma diz.
"A gente consegue multiplicar as roupas usando as peças que vemos todos os dias no armário de formas diferentes das que estamos acostumadas."
As últimas dicas são não ter medo de errar e criar um "banco de dados" com fotos dos looks que já usou, para facilitar na próxima vez que quiser algo mais prático. Ah, e não pense que só as mulheres que seguem um estilo minimalista vão se dar bem com a técnica.
Por depender do que você já usa, o método funciona mais como um estilo de vida do que um estilo propriamente dito. É mais necessário ser criativo e ter vontade de trabalhar o próprio estilo, independente de qual é ele, do que esperar se vestir de uma determinada maneira.
"Tem pessoas que buscam o minimalismo como estilo, mas a ideia do guarda-roupa cápsula é olhar para peças antigas como peças novas e encontrar formas diferentes de usá-las", finaliza.