Mães assumem palmadas e não se arrependem
A funcionária pública Sandra Lavrini Panazzolo, 49 anos, foi criada com palmadas para controlar a teimosia e aplicou a mesma fórmula com a filha.
“Não sou a favor do espancamento de uma criança, mas uma palmadinha em um momento certo, no lugar certo – que é o bumbum – só ajuda para a educação delas. Tenho uma filha com 28 anos hoje, a Jéssica, e dei várias palmadas nela durante a infância por tanta teimosia. Toda criança é teimosa, não tem jeito.
E eu fui criada dessa maneira, com uma palmadinha na hora certa, então acabou sendo assim com ela também. Uma vez, eu pedi para ela não mexer nas minhas coisas. Ao me desobedecer, a Jéssica acabou quebrando umas coisas minhas que eu nem lembro mais exatamente o que era. Ela devia ter uns quatro aninhos.
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Até que uma vez eu deixei a palmada de lado e resolvi usar a mesma moeda. Ela estava brincando próxima a uma estátua que eu tinha. Eu estava avisando o tempo todo que ela iria quebrar aquilo que era meu e, se acontecesse, eu iria quebrar uma Barbie dela. Dito e feito. Acabei trocando a palmada pela Barbie quebrada e ela nunca mais quebrou nada.
Nunca me senti culpada ou me arrependi, acho que tudo que fiz foi na medida certa. Era para o bem dela e funcionou dessa forma.
Então eu usava diferentes métodos, mas a palmada era uma delas. Não que eu tivesse programado isso. Sempre pensei que nunca iria dar palmadas, mas conforme a Jéssica foi crescendo e aprontando as artes dela, acabou acontecendo.
Dei uma palmada vez ou outra, mas não acho que isso tenha prejudicado o desenvolvimento dela ou deixado traumas. Nunca me senti culpada ou me arrependi, acho que tudo que fiz foi na medida certa. Era para o bem dela e funcionou dessa forma”.
A empresária Débora Rodrigues, de 47 anos, também levou palmadas quando era pequena e explica porque usou o método com o casal de filhos.
“Já dei palmadas sim, e não me arrependo. E levei palmadas quando criança, também. Hoje eu tenho dois filhos, o Luis Gustavo e a Catarina, que estão respectivamente com 24 e 16 anos. Tive que usar da força física como forma de intimidação de vez em quando durante a infância deles, mas isso somente antes dos oito, nove anos de idade.
Depois já dava para conversar e resolver os problemas com maior facilidade, mas eles nunca foram fáceis de lidar. Sempre tiveram a personalidade bem forte, por sinal. Quando eles eram pequenos, se eu não usasse das palmadas, eles fariam sempre o que bem entendessem.
Então era consciente mesmo: usava a intimidação física para não perder o controle. Uma vez, fui com o Luiz Gustavo ao mercado e, ao entrarmos, ele quis dar show para conseguir que eu comprasse algumas coisas dispensáveis. Ele devia ter uns três aninhos, se jogou no chão e começou a fazer escândalo.
Não tive dúvidas: levantei-o dali, dei umas palmadas e não o deixei mais ter esse tipo de reação. Falei alto e ele obedeceu. Nessa idade principalmente, se os pais recuam diante do carnaval que as crianças fazem, aí sim elas tomam o controle da situação.
Então eu fazia mais carnaval ainda, sem vergonha nenhuma. E nunca recebi reclamação de outros pais por isso, somente dos avôs deles. Eles diziam que eu estava sendo muito brava.
Não acredito que a solução seja somente a palmada. Tem pais que são mais firmes do que eu era, e não precisam chegar a esse ponto. Eu acabei usando as palmadas muitas vezes por ficar muito nervosa mesmo, por incompetência minha. Mas acho que funcionou mesmo assim.
Eu também apanhei quando criança, mas tampouco me arrependo de ter dado umas palmadas em meus filhos de vez em quando.
Eles cresceram e hoje são umas gracinhas. E quando eles percebiam que eu ficava muito brava, ou achava algum comportamento muito grave, eles não repetiam.
Mas não acredito que a solução seja somente a palmada. Tem pais que são mais firmes do que eu era, e não precisam chegar a esse ponto. Eu acabei usando as palmadas muitas vezes por ficar muito nervosa mesmo, por incompetência minha.
Mas acho que funcionou mesmo assim: a palmada, aliada à minha energia de corrigi-los e explicar a razão das coisas, de que aquilo estava acontecendo por ter acontecido algo muito sério que eu não havia aprovado, deram certo até certo ponto. Depois, a conversa por si só já funcionava perfeitamente”.
(Depoimento para Renata Losso, especial para o iG São Paulo)
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