Pesquisa realizada pela médica Dra. Ana Jannuzzi constatou que 60,8% das entrevistadas optaram pelo parto normal
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Pesquisa realizada pela médica Dra. Ana Jannuzzi constatou que 60,8% das entrevistadas optaram pelo parto normal


Segundo dados publicados na revista Lancet, em 2022, oriundos da análise de estatísticas do Ministério da Saúde, o Brasil é vice-campeão na realização de cesarianas (57,7%). O número está bem acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de no máximo 15%. Os valores aumentam ainda mais quando se considera a saúde privada: uma pesquisa da revista acadêmica Social Science & Medicine revelou que 80% a 90% dos partos nesses locais são realizados por intervenção cirúrgica.

Contudo, determinar os fatores específicos que incidem na realização de cesarianas e de partos normais no Brasil é uma tarefa difícil, já que não há pesquisas suficientes. Para avaliar essas estatísticas, a médica carioca Dra. Ana Jannuzzi, CEO da Jannuzzi Educação, uma empresa que ministra cursos sobre Gestação e Parto, Amamentação e Sono do bebê, realizou uma pesquisa entre gestantes que estudaram conteúdos baseados em evidências sobre Gestação e Parto para avaliar a preferência das gestantes pela via de parto. E o resultado confrontam a realidade: 60,8% das alunas tiveram um parto normal.

“Os dados desse levantamento foram obtidos através de uma pesquisa feita com alunas do nosso curso de Gestação, Parto e Puerpério, brasileiras da faixa etária entre 25 e 40 anos. O resultado vai de encontro com outra constatação: a via de parto normal ganha mais preferência com o conhecimento. Isso porque, ao entrarem no curso, essas mulheres tinham um conhecimento sobre parto auto avaliado em 3,93. Ao saírem do curso, este conhecimento foi para 9,27, numa escala de zero a dez. Ainda nessa análise, 98,5% das alunas relatam ter tido uma experiência extremamente positiva ou positiva em seus partos depois que se educaram sobre a experiência. Nossa pesquisa mostra que o conhecimento é fundamental para o melhor parto possível, independente da via de nascimento que escolham”, explica a Dra. Ana Jannuzzi.

Segundo o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS), o parto cesárea é recomendado para os casos em que o parto normal seja um risco. No entanto, quando realizada sem indicação, a OMS alerta que a intervenção cirúrgica pode aumentar o risco de mortalidade materna e neonatal. Já o parto normal, segundo o Ministério da Saúde, diminui o tempo de internação hospitalar e de recuperação no puerpério, tem menor chances de infecções e hemorragias e reduz a probabilidade de depressão pós-parto.

Além disso, o parto normal ainda incentiva o protagonismo da mulher no trabalho de parto e na maternidade, aumenta as chances do aleitamento materno, diminui os riscos de internações por prematuridade e transtornos respiratórios, favorece vínculo entre a mãe e o bebê, o desenvolvimento normal da microbiota e a adaptação neurológica dos bebês nas primeiras 48 h de vida.

“Fazer uma escolha consciente acerca da via de nascimento é fundamental. Hoje lidamos com uma Medicina que pode ser bastante capitalista, inclusive distorcendo indicações de cesariana para que caibam na agenda do profissional. Uma mulher que deseja uma cesariana deve ser respeitada tanto quanto uma mulher que deseja um parto normal. Ambas devem receber a melhor assistência possível, seja no público ou no particular. Infelizmente, o que vemos é que muitas mulheres acabam sendo submetidas a cesarianas desnecessárias e indesejadas – e um dos motivos para isso é o desconhecimento. Ter acesso às informações baseadas em evidências é fundamental para tomar a melhor decisão”, ressalta a Dra Ana Jannuzzi.

A ex-aluna Georgia Moraes, de 27 anos, se viu muito confusa durante a sua gestação e chegou a agendar a cesariana. Segundo ela, somente após fazer o curso GPP e adquirir conhecimento sobre o assunto, optou pelo parto normal.

"Decidi fazer o curso da Dra Ana Jannuzzi justamente porque sabia que ela abordava o tema da forma que eu precisava: trazendo informações baseadas em evidências científicas e não no achismo. Estudei todas as aulas com um caderno na mão fazendo anotações. Com 35 semanas, fui internada no CTI com pneumonia e infecção. Depois de uma semana confusa e de muito medo, saí do hospital com a cesária marcada pela equipe de ginecologia. Fiquei arrasada, mas o obstetra disse que seria melhor, já que eu estava frágil e com a saúde debilitada."

Ela continua: "Em casa, voltei a assistir às aulas e fui direto na parte sobre "Indicações de Cesária" e percebi que estava sendo enganada, mesmo que minha saúde não estivesse em seu melhor estado, um parto normal ainda era a melhor opção para mim e para minha filha. Três semanas depois entrei em trabalho de parto! Sabia o que estava acontecendo, tive contrações durante um dia todo em casa e quando começaram a ficar mais próximas e intensas, fomos à maternidade. Chegando lá, já estava com dilatação total e fomos direto para a sala de parto. Minha filha nasceu em alguns minutos depois disso em um parto super tranquilo, saudável e cheia de saúde, com uma equipe plantonista que eu não conhecia. Acredito que consegui o parto principalmente devido o conhecimento que conquistei com o curso, que me deu coragem para lutar pelo parto que eu queria", conta Georgia.

Estudos identificam cesárias “em excesso” na América Latina e na China:
O Departamento de Saúde Sexual e Reprodutiva e Pesquisa da OMS, reconhece a cesariana como uma cirurgia essencial e que salva vidas, mas que pode colocar mulheres e bebês em risco desnecessário de problemas de saúde em curto e longo prazo, se realizada quando não há necessidade médica.

A própria OMS realizou um estudo multicêntrico em 137 países é estimou os custos envolvidos nas categorias de cesáreas “necessárias” e “em excesso”. O estudo identificou 6,2 milhões de cesáreas em excesso, sendo que 50% desses procedimentos foram realizados na China e no Brasil).

Outro estudo, publicado no periódico relacionado a pesquisas em Ciências Sociais, voltadas para a saúde da população, SSM - Population Health (disponível na plataforma Elsevier), revelou estatísticas de um projeto chamado Salud Urbana en América Latina (SALURBAL). O estudo foi realizado em 305 cidades em cinco países, com dados disponíveis sobre método de parto em registros de nascidos vivos, no Brasil, Colômbia, Guatemala, México e Peru.

A descoberta: a América Latina tem taxas que estão entre as mais altas do mundo, quando o assunto é parto cesariana. A taxa geral da intervenção cirúrgica foi de 52%, variando entre as grandes cidades de 13% a 91%. Essa pesquisa identificou que as maiores taxas de cesarianas foram entre mães com maior escolaridade (61%) e melhores condições socioeconômicas.

“Aqui no Brasil, temos um debate delicado, porque sabemos que o assunto toca em uma das mais íntimas escolhas individuais de cada mulher. Não deve haver uma demonização dos tipos de nascimento e sim informação para que as mulheres saibam o que estão escolhendo. Tem uma série de fatores que influenciam na escolha das mulheres por uma cesárea, entre elas a previsibilidade e o medo da dor. A mulher tem total direito sobre seu corpo, mas faltam informações que podem ser esclarecedoras no momento da escolha”, finaliza a Dra. Ana Jannuzzi.

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